Cemitérios - Morte com Arte
- Porto
Alegre -
- Atrás de seus muros, a história está representada, através
da arte esculpida em mármore, bronze, ferro e pedra, nas sepulturas e mausoléus
ali reunidos.
- Atravessar os portões que guardam esse patrimônio da
cidade e caminhar por suas alamedas é iniciar uma viagem ao passado.
"Os
vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos".
"The living are always, and more and more, governed by the
dead"
Cemitério: -
lugar onde se dorme, se descansa.
No século III da era cristã,
a palavra ganhou o sentido de dormitório onde os mortos esperam o dia da
ressurreição universal.
- A palavra cemitério vem do latim coemeteriun e do grego koimeterion (eu durmo).
- A palavra cemitério vem do latim coemeteriun e do grego koimeterion (eu durmo).
No século IV, foi adotado
o uso de enterramento dos mortos dentro das igrejas ou em volta delas.
Porém, no século XIX, por
decreto Papal, devido aos inúmeros abusos, teve fim essa tradição milenar.
O Início em Porto Alegre
- Fora do conglomerado urbano no século XVI e XVII, as pessoas
eram enterradas próximas as suas propriedades, ou nos caminhos, devido à
dificuldade de deslocamento e nenhum "campo santo" na Capitania de São Pedro.
- No Brasil Colonial, as villas ou centros urbanos se
estruturavam com uma capela em seu centro e, ao lado ou nos fundos desta,
ficava o cemitério.
Século XVIII
Primeiro
Cemitério
Cemitério da Ponta das Pedras
- Os relatos mais antigos com relação aos sepultamentos em Porto Alegre descrevem o terreno no qual se situou por muitos anos na antiga Praça da Harmonia (Largo da Forca), na Ponta das Pedras às margens do rio Guaíba,
- O cemitério do Porto de Viamão (primeiro nome de Porto Alegre) foi feito após a chegada dos casais açorianos a partir de 1752, junto a Ponta das Pedras, atual Praça Brigadeiro Sampaio, próximo a atual Volta do Gasômetro no início da Rua da Praia, não era um campo santo demarcado, mas um local de descarte dos primeiros mortos no início da colonização do Porto dos Casais (Porto Alegre), fundada pelos açorianos (Coruja, 1983; Franco, 1993), local até hoje de superstição por assombrações.
- O cemitério do Porto de Viamão (primeiro nome de Porto Alegre) foi feito após a chegada dos casais açorianos a partir de 1752, junto a Ponta das Pedras, atual Praça Brigadeiro Sampaio, próximo a atual Volta do Gasômetro no início da Rua da Praia, não era um campo santo demarcado, mas um local de descarte dos primeiros mortos no início da colonização do Porto dos Casais (Porto Alegre), fundada pelos açorianos (Coruja, 1983; Franco, 1993), local até hoje de superstição por assombrações.
Em 1732, o tropeiro Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos
se instala nas terras às margens da lagoa de Viamão.
Em 1740, Jerônimo de Ornelas recebe a carta de
Sesmaria, e traz seus parentes e agregados, formando assim uma comunidade.
Em 1752, chegaram
sessenta casais açorianos com seus filhos para se instalarem próximos ao
povoado de Viamão.
Em 1753, primeiras notícias
conhecidas do Cemitério de Porto Alegre, localizado na antiga Praça da Harmonia
na beira do rio Guaíba.
Em 1772, a freguesia de
Nossa Senhora da Conceição de Viamão é dividida em duas.
Segundo
Cemitério
Cemitério dos Altos da Praia
Desde 1771, o “Cemitério do Alto da Praia” é o primeiro cemitério oficial de Porto Alegre estava localizado
nos Altos da Praia como era chamado a Praça da Matriz, antes da demarcação da
área e da construção da Igreja Matriz.
A partir do ano de 1772, os
sepultamentos passaram a ocorrer no Cemitério
da Igreja Matriz e inclusive dentro da própria igreja.
- O Cemitério da Matriz estendia-se desde os fundos da
antiga matriz, na atual Rua (Duque de Caxias), até a Rua do Arvoredo (Atual rua
Coronel Fernando Machado).
Em 1773, novo edital
rebatiza a pequena povoação como Madre
de Deus de Porto Alegre, houve a transferência da câmara municipal de
Viamão para Porto Alegre.
Cemitério da Matriz
- Este cemitério estava localizado em terreno onde hoje se
acha edificada a Cúria Metropolitana, Rua Fernando Machado, esquina Rua
Espírito Santo, é continuação do anterior, com a construção da Matriz o
cemitério desceu o espigão e ficou mais nos fundos da igreja, no centro da capital
da Capitania, dentro do modelo da época em que o campo santo ficava
praticamente ao lado ou aos fundos da igreja.-
- Os porto-alegrenses e seus governantes não gostavam da má localização do cemitério nos fundos da Igreja Matriz (atual Catedral Nossa Senhora Madre de Deus), eram muitas as reclamações sobre a localização daquele campo santo, inteiramente envolvido com o passar dos anos pelo espaço urbano.
- Os porto-alegrenses e seus governantes não gostavam da má localização do cemitério nos fundos da Igreja Matriz (atual Catedral Nossa Senhora Madre de Deus), eram muitas as reclamações sobre a localização daquele campo santo, inteiramente envolvido com o passar dos anos pelo espaço urbano.
Sepultamento
nas Dores
- Nos terrenos da Igreja
das Dores também foram sepultados diversos irmãos da antiga ordem religiosa.
Fundacão da Irmandade
Em 1773, a Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, fundada na Igreja Matriz do povoado de Nossa Senhora da Madre de Deus, sendo uma das instituições mais antigas de Porto Alegre - cidade fundada em 1772.
Em 1773, a Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, fundada na Igreja Matriz do povoado de Nossa Senhora da Madre de Deus, sendo uma das instituições mais antigas de Porto Alegre - cidade fundada em 1772.
- A instituição possuía no Cemitério desta, um
quadro de terra para o sepultamento dos irmãos falecidos.
- Estava localizado no terreno que se estendia desde
os fundos da Igreja Matriz, até a Rua Coronel Fernando Machado, onde
posteriormente foi edificado por Dom Sebastião Dias Laranjeira, segundo Bispo
do Rio Grande do Sul, o antigo Seminário, atualmente a Cúria Metropolitana.
Século XIX
Epidemias
Em 1801, lê-se em ata da
Câmara que "se
escreveu uma carta ao vigário desta freguesia para não se enterrarem corpos
nesta matriz por um tempo de seis meses, pela representação que esta Câmara fez
ao cirurgião-mor pela epidemia que tem havido" (Franco, 1993).
- Esses episódios são contemporâneos a várias epidemias
ocorreram na cidade no século XIX.
- Não tardou que o Cemitério
da Matriz fosse envolvido pela expansão da villa, passando a gerar
repetidas preocupações de natureza sanitária.
Santa Casa
Início do século XIX, a
cidade de Porto Alegre possuía 3.927 habitantes e apenas uma enfermaria, que
abrigava os doentes com verbas da caridade pública.
- A necessidade da criação de um hospital era evidente,
sobretudo para tratar a população carente, e não foi difícil obter a concessão
para se abrir um hospital de caridade.
1º Cemitério da Santa Casa
Em 1803, desde sua fundação a Santa Casa de Misericórdia
organizou um “Primeiro Cemitério” junto
ao prédio deste hospital de caridade, que não restou vestígio.
Em 1808, Porto Alegre é
elevada à categoria de “vila”.
Em 1822, Porto Alegre
elevada à categoria de “cidade”.
Em 1825, autorização para
a construção de outro cemitério no território da Igreja Matriz, ele seria
destinado a enterrar os condenados à pena capital.
Em 1825, autorização para
fazer a Capela dos Passos ao lado da Santa Casa de Misericórdia. Cemitério no
local.
Em 1826, a inauguração
das primeiras enfermarias da Santa Casa.
- Surgiu assim a Santa Casa de Misericórdia, no início com
uma função muito mais assistencial que terapêutica, de acordo com os estatutos
das instituições portuguesas congêneres, pelas quais se regia.
- Sua finalidade principal era dar atendimento aos pobres —
na doença, no abandono e na morte —, abrigando além dos enfermos, os
abandonados, crianças e velhos, os separados, criminosos, doentes e os
excluídos do convívio social, como os doentes mentais (Mauch, 1994).
- Um dos objetivos da Santa Casa era dar abrigo aos mortos
através da construção do cemitério.
Em 30 de abril de 1826, se deduz a existência deste, na Ata
da Mesa Administrativa houve uma abertura que na sua implantação visou, a
princípio, apenas a inumação dos condenados a morte, os denominados “padecentes”, mas a Mesa resolveu-se
mandar fazer tumbas para os irmãos e demais pessoas que quisessem ser
enterradas, “visto que até agora só eram
enterrados os padecentes”.
Em 23 de agosto de 1829, bastaram três anos para o pequeno
cemitério ficar repleto, como se vê de resolução da Mesa, quando o Mordomo do
mês anunciou que não era suficiente para “enterrar
os que faleciam no Hospital”.
Resolveu-se fazer “outro cemitério que fosse suficiente e que este deveria ser longe do edifício”.
2º Cemitério da Santa Casa
Assim, o “Cemitério
da Caridade” que aparece na planta da cidade elaborada por L.P. Dias em
1839, um quadrilátero inserido no polígono da Santa Casa, mas a alguma
distância do edifício e da capela, vincula-se certamente a resolução de 23 de
agosto de 1829, de abrir um novo campo, mais afastado do prédio.
- É o segundo campo santo, já ampliado para a inumação dos pacientes do Hospital, onde a mortalidade seria justificadamente elevada, dada as precárias condições da medicina na época.
3º Cemitério da Santa Casa
Em 1834, encaminhou-se a solução de um velho problema que
atormentava os porto-alegrenses e seus governantes: a má localização do
cemitério dos fundos da Matriz, a Câmara Municipal nomeara uma comissão de
médicos para opinar a respeito de uma nova localização para a necrópole.
Em 1835, inicia o levante
Farroupilha.
Em setembro de 1835, tropas dos farroupilhas estavam
acampadas no local do atual cemitério, prontas para atacar Porto Alegre.
Entre 1835 e 1836, durante
a ocupação de Porto Alegre pelos farroupilhas, a média anual de enterros
aumentou substantivamente, causada também por um surto de escarlatina.
- Logo, a área destinada aos sepultamentos tornou-se
inadequada. O terreno acidentado, de acentuado declive, não permitia mais
acolher os enterros, por problemas ocasionados pela chuva e consequente erosão
do solo.
Extra Muros
Em 1836, os imperiais leais ao Imperador retomam a cidade.
Em 1836, os imperiais leais ao Imperador retomam a cidade.
- Após o entrincheiramento Farroupilha, das décadas de 1830 e 1840, a cidade começa a
expandir-se para além de seus muros de defesa, o Cemitério da Matriz não
acompanha o crescimento populacional.
Por volta de 1840, o
Cemitério da antiga Matriz encontrava-se completamente lotado, não se
observando as normas sobre profundidade das covas e sobre o espaço
intermediário entre elas. Além disso, não havia indicações sobre a data das
inumações, o que levava a serem desenterrados cadáveres ainda em estado de
putrefação.
Mas foi em 1843, após o
poder público municipal ter autorizado a mudança do cemitério para uma
localidade afastada – extra-muros.
Cemitério da Santa Casa
Em 10 de setembro de 1843, a Mesa Administrativa da Santa Casa, na
qual o Provedor o então Barão de Caxias
(futuro Duque de Caxias) Presidente da Província, propôs a Irmandade que tomasse
para si o empreendimento de fundar um cemitério público extramuros, para o que
constitui uma comissão especial.
Curiosidade:
- Entre outras personalidades locais, a comissão era
integrada pelo secretário da Presidência da Província, o famoso poeta Domingos José Gonçalves de Magalhães, um dos pioneiros no romantismo literário no Brasil.
Em 28 de abril de 1844, a Comissão apresentou a Mesa Administrativa
da Santa Casa, seu relatório, que foi unanimemente aprovado, foi aprovado também
pedir um empréstimo a Presidência da Província de 20 contos de réis, que seria
pago mediante os rendimentos do próprio cemitério.
Em 05 de agosto de 1844, para a escolha dos Altos da Azenha, então uma área rural
pouco habitada, condicionou iniciativa da Câmara Municipal de fixar os
alinhamentos que deveriam obedecer:
- A Estrada do Mato Grosso (Av. Bento Gonçalves), a Estrada do Belém (Av. Prof. Oscar Pereira) e a continuação da Rua da Azenha, tudo realizado em vistoria pública na encruzilhada que é hoje a Praça Princesa Isabel.
- A Mesa Administrativa decidiu pelo imediato início das Obras, o que foi acertado com os empreiteiros João Baptista e Firmino Pereira Soares pelo valor 20:970$000 (vinte contos e novecentos e setenta mil-réis).
- Para isto a Irmandade já havia recebido um empréstimo de 8 contos de réis da Presidência da Província.
Em 06 de agosto de 1844,
o Presidente da Província, Luis Alves de
Lima e Silva (Duque de Caxias) tomou a iniciativa de adquirir um amplo
terreno.
- Situado longe do Centro, no alto da Colina da Azenha, a
sua administração ficou a cargo da Irmandade da Santa Casa de Porto Alegre
(Arquivo Histórico do RS, 1846).
- A fundação do “Cemitério
da Santa Casa” localizado nos Altos da Azenha foi o germe e núcleo básico
de várias necrópoles ali localizadas, pertencente a outras irmandades ou
confissões religiosas, liga-se diretamente à administração de um dos seus provedores
mais ilustres da Instituição, o General Luiz Alves de Lima e Silva, Barão de
Caxias, que esteve à frente da Santa Casa de 1843 a 1845.
- O Cemitério da Matriz era um assunto que preocupava
seriamente o Barão de Caxias,
Presidente da Província, que em seu relatório de 1846 traçou um quadro macabro
das condições de higiene do cemitério, no qual haveria cadáveres parcialmente
insepultos e remexidos pelos cães vadios, onde nos dias de verão o cheiro era
insuportável.
Caxias – Presidente da Província
Em 1844, é construído o Cemitério Santa Casa, no “Alto da Azenha”
pelo general Luis Alves de Lima e Silva,
devido à necessidade urgente da construção de um novo cemitério, previsão para
ocupar uma área de 8,4 ha. de superfície.
- Foi aprovado, ainda, pela Câmara Municipal o impedimento
de efetuar enterros em outro lugar.
Em 1845, os primeiros
imigrantes italianos e alemães desembarcaram na capital do estado do Rio Grande
do Sul.
A Lei nº 37 de 07 de maio 1746, autorizou a Presidência da
Província a conceder outro empréstimo à Santa Casa, no importe de 10 contos de
réis, para fechar a porção do cemitério extramuros que se acha pronto e na
compra de objetos e utensílios necessários para que ali sejam feitos enterramentos.
Mesmo pronta a obra, a Estrada do Belém (atual Av. Prof.
Oscar Pereira) que dava acesso se mantinha intransitável, sem calçamento, com
chuva sendo quase impossível o deslocamento para os veículos da época.
Em 1846, quando o Barão de Caxias, na época presidente da
província, publicou seu relatório anual, fez citações alarmantes com relação ao
antigo cemitério, ao qual não faltavam "a porta da sacristia fechada, cadáveres de escravos
mal amortalhados e foçados pelos cães errantes" (Franco, 1993).
- Em certo trecho afirmava ele:
- "tão pequeno cemitério mas apinhado de cadáveres,
cuja exalação, tão sensível ao olfato em dias calorosos, era quase suficiente
para pejar o ar de partículas deletérias".
- E concluía: - "para extinguir o escândalo e esse foco de miasmas,
não julguei dever esperar mais. Fiz com que a Santa Casa se incumbisse da
edificação de um novo cemitério fora da cidade, em lugar escolhido por uma
comissão de pessoas entendidas."
Em 1849, instituiu-se o
regimento para o Cemitério da cidade
de Porto Alegre.
Primeiro Sepultamento da Azenha
Em 06 de abril de 1850, depois
de sucessivos adiamentos a primeira inumação aconteceu nos Altos da Azenha no novo
Cemitério da Santa Casa, devido a epidemia de febre amarela que se difundia
pela Vila de Porto Alegre, era urgente realizar os enterros na nova necrópole.
- José Domingues,
um marinheiro português que chegou a Porto Alegre, foi o primeiro livre
sepultado.
Em 12 de abril de 1850, Eva, a primeira escrava ali acolhida.
A Câmara a partir desta data impedia qualquer enterro fora
da nova necrópole e o Cemitério da Matriz foi fechado.
Irmandade do Arcanjo
São Miguel e Almas
Cemitério São Miguel e Almas
São Miguel e Almas
Cemitério São Miguel e Almas
Em 31 de agosto de 1845, é escolhido o Alto da Azenha para a
localização do Cemitério São Miguel e Almas, da Irmandade do Arcanjo S. Miguel
e Almas, o terceiro cemitério da capital da Província, propriamente dito, transformando
a colina da Azenha em área de necrópoles.
Em 1851, o General Lima e Silva, Presidente da
Província, proibiu o sepultamento dentro dos limites urbanos e a partir daí o
Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, passou para o Morro da
Azenha.
Cortejo fúnebre em direção ao novo cemitério da
Santa Casa ao fundo.
Aquarela de Herrmann Rudolf Wendroth, 1852
Nova Epidemia
Em 1855, uma epidemia
assolou a Província do Rio Grande, ocasionou a mortandade de 10% da população
de Porto Alegre, principalmente de escravos e setores mais pobres, cujas
condições sanitárias eram deploráveis.
- Foram tomadas várias medidas sanitárias, inclusive matança
e enterramento de cães vadios.
Cemitério Evangélico
Em 1856, é inaugurado o Cemitério Evangélico de Porto Alegre,
foi o primeiro “cemitério-jardim”
do estado do Rio Grande do Sul. Possui vegetação de grande porte, por isso
denominado também de Cemitério Floresta.
- O primeiro sepultamento foi o de João Hahm,
- O primeiro sepultamento foi o de João Hahm,
- É mantido pela Comunidade Evangélica de Porto Alegre
(CEPA) e, apesar de denominação "evangélica", a utilização de
sepultamentos é aberta também a todas as demais religiões.
Guerra do Paraguay
Em 1865, tem início o
maior conflito do continente a Guerra do
Paraguai.
Uma das mais antigas fotografias do cemitério da
Santa Casa.
Por volta de 1865, "campo santo" onde se
enterravam escravos e indigentes.
Ao fundo os muros da parte onde ficavam os
primitivos jazigos de parede
Epidemia de Varíola
Em 1874, ocorreu uma
epidemia de varíola na capital. As atas da Câmara Municipal apresentam várias
resoluções para combate à epidemia.
- Uma das mais curiosas foi a resolução dos vereadores de
queimar alcatrão em volta da cidade, para desinfetar o ar.
Superlotação
da Matriz
Em 1880, porém, a
principal necrópole da época foi o Cemitério
da Igreja da Matriz, chegaria superlotada.
Em 1880, o Cemitério da Santa Casa contava com
mais de 30 mil sepultamentos, sendo 6.723 de escravos e 23.577 de livres.
- O deslocamento até a colina era feito por tração animal,
motivo de queixas constantes devido ao péssimo estado das estradas, além do
aclive da Azenha, que chegou a dificultar as obras do Cemitério.
Altos da Azenha, já com trilhos do bonde
Carris e os Coches Fúnebres
Em 1880, a Companhia
Carris começou a conduzir os ‘coches fúnebres’, que ficavam abrigados no
depósito nos campos da Redempção.
Em 1881, iniciou-se a
construção do atual muro para delimitar a área no alto da Colina da Azenha.
A Separação
Até 1884, este foi o
procedimento para o sepultamento em Porto Alegre:
- Os homens e mulheres livres eram sepultados no interior do
Cemitério e os homens e mulheres escravos, fora de seus muros.
No mesmo ano, muda o
procedimento:
- Quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea pela Princesa
Isabel, ‘todos
os falecidos’ da Capital gaúcha passaram a ser “enterrados na parte interna da necrópole”.
Cemitério do Belém Velho
No século XIX, é fundado
o Cemitério Belém Velho, no arraial
do Belém Velho.
Cemitério
São José
Em 1888, tem início o Cemitério São José I, da comunidade
alemã católica, no Alto da Azenha.
A partir de 1889, segundo
os Relatórios da Santa Casa, diversas irmandades passaram a se encarregar dos
traslados até a região.
Em 1893, o Cemitério da Santa Casa já continha 43
anos de existência e 50 mil mortos, forçando a ampliação do terreno.
- Os surtos de cólera, tuberculose, febre tifóide, moléstias
intestinais e afecções cardíacas determinaram o aumento dos índices de ocupação
da necrópole.
Um enterro na Rua Duque de Caxias em 1898
Naquela época as pessoas falecidas eram veladas em
suas residencias e na hora do enterro, chegava o carro fúnebre da Santa Casa
Durante o século XIX, a
necrópole da Santa Casa acolheu a expansão urbana da Capital gaúcha.
Século XX
Colina Melancólica
Várias necrópoles estão instaladas
nesta colina, nos Altos da Azenha.
No decorrer do século XX, a população de Porto Alegre cresceu vertiginosamente, propiciando o surgimento de outros cemitérios na cidade.
No decorrer do século XX, a população de Porto Alegre cresceu vertiginosamente, propiciando o surgimento de outros cemitérios na cidade.
Em 1907, o espaço contava
com 36,9 mil m² dos 104 mil m² atuais.
- O Cemitério da
Santa Casa centralizou, por muitos anos, os sepultamentos dos mortos da
cidade, inclusive os dos irmãos de São Miguel e Almas e de Santa Bárbara, os da
Sociedade Alemã e da Beneficência Portuguesa, que adquiriram para suas
irmandades quadros dentro da necrópole.
- A Irmandade São Miguel e Almas, ao comprar a sua
propriedade, e a Irmandade Santa Bárbara, ao se extinguir, destinaram seus
quadros à Santa Casa.
Cemitério
São Miguel e Almas
Em 1908, em obras no Cemitério da Irmandade São Miguel e Almas.
A referida Irmandade se desvinculou do Cemitério da Santa Casa.
- Foi instalado no lado oposto da estrada da Cascata. O
cemitério foi projetado pelo engenheiro italiano Armando Boni.
Nota:
- O local do cemitério
e o da primeira batalha entre revolucionários e legalistas na Guerra dos
Farrapos, com vitória dos farroupilhas comandados por José Gomes de Vasconcellos Jardim e Onofre Pires da Silveira Canto.
Em 14 de maio de 1909, realizou-se
o primeiro sepultamento no novo Cemitério da Irmandade
do Arcanjo São Miguel e Almas,
assim os restos mortais do Sr. Manoel da
Silva Braga, ainda permanecem na sepultura 0001.
Suas instalações do Morro da Azenha são modelares e
isto fez com que o Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas
ficassem conhecidas mundialmente, tornando-se hoje um dos melhores da América
do Sul, sendo considerado como destaque turístico da capital do estado.
Em 1915, ampliação do Cemitério Evangélico, chamado a segunda
parte de Cemitério São José II.
Carros
Fúnebres
Em 1926, a Santa Casa
adquiriu “carros
fúnebres” para remoção de adultos, virgens e crianças, além de um
veículo para o transporte de coroas.
- Outros também prestavam este serviço, como um caminhão com
quatro lugares para indigentes, apelidado pelos populares de “Maria Crioula”.
Em 1931, ampliação do Cemitério São Miguel e Almas.
Inauguração da primeira parte das galerias com catacumbas. Projeto de Armando Boni.
Cemitério
Vertical
- Com o crescimento urbano, a cidade envolveu totalmente a
chamada região dos cemitérios. Como a área para a sua ocupação era um morro,
portanto um terreno acidentado que dificultaria o sepultamento no solo, foi
desenvolvido um projeto pioneiro com a utilização de catacumbas dispostas em
diversas galerias e pavimentos sustentados por colunas permitindo, desta forma,
um melhor aproveitamento do terreno.
- O Cemitério da
Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas foi o primeiro “cemitério vertical” da América
Latina e reúne centenas de obras de arte produzidas entre 1820 e 1940, criadas
por artistas europeus e locais, que podem ser observadas nos túmulos de
personagens anônimos ou de destaque.
Enterro
Pobre
- O Cemitério da
Santa Casa foi, por muito tempo, o único de Porto Alegre a realizar o “enterro do
pobre” no seu Campo Santo.
A partir de 1934, a
Instituição passou a contar com a parceria da União Pelotense São Francisco de Paula, fundada por um grupo de
mulheres da sociedade pelotense radicadas em Porto Alegre.
- A associação filantrópica, conhecida como “Enterro do
Pobre”, encarregava-se do fornecimento de caixões para os
necessitados.
Cemitério
São João
Em 1936, é fundado o Cemitério São João numa área de
aproximadamente 9,5 hectares, possui cerca de doze mil jazigos (temporários e
perpétuos), além de cinco capelas para velório, no Passo d’Areia, distante do
bairro Azenha.
Grande Metrópole
Em 1940, a cidade de
Porto Alegre assume seu caráter de centro administrativo, comercial, industrial
e financeiro do Estado do Rio Grande do Sul.
Carro fúnebre branco para crianças e virgens, 1946
Novos Cemitérios
A partir de 1945, as
Irmandades receberam da Santa Casa duas galerias de catacumbas intituladas com
seus nomes, como forma de homenagem.
- Cemitério Batista,
- Cemitério Espanhol,
-
Cemitério União Israelita
- União Israelita¸ o Cemitério
União Israelita Porto Alegrense é mantido pela União Israelita Porto
Alegrense, cuja sinagoga foi fundada em 1910.
Na década de 1960, os
automóveis de serviços fúnebres, “Maria Crioula” foram desativados.
Em 27 de abril de 1972, o
Cemitério Ecumênico João XXIII foi
inaugurado em ato público.
- O cemitério ocupa o antigo terreno do Esporte Clube
Cruzeiro.
Em 1992, o Cemitério Belém Velho foi encampado
pela prefeitura, em razão de denúncias de irregularidade. Com uma área de 2
hectares, possui cerca de mil jazigos. Não há previsão para a construção de
mais jazigos.
Desde 16 de março de 1993, o
Cemitério Ecumênico João XXIII é
mantido e administrado pela Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul.
Cemitérios de Porto Alegre
Cemitério da Santa Casa
Av.
Prof. Oscar Pereira 423 – Azenha
- O Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
inaugurado em 1850 e o mais antigo em atividade no Sul do Brasil, conserva em
seus 10,4 hectares muito da história da Capital gaúcha e do próprio Rio Grande
do Sul.
- Fundado em abril de 1850, é o cemitério mais antigo do
estado do Rio Grande do Sul ainda em atividade. Possui cerca de quarenta mil
jazigos, além de seis capelas para velório. Reunindo belas esculturas em
bronze, mármore, ferro e pedra; algumas foram assinadas por escultores conhecidos,
tal como André Arjonas.
- Atualmente o cemitério possui onze hectares de área,
contado com as galerias para os sepultamentos em gavetas; área nobre para os
jazigos e monumentos funerários; local para os sepultamentos comuns e para
indigentes. Ele reúne um belo e rico acervo de monumentos com esculturas de
mármore, de granito e de bronze, realizados por marmoristas e escultores locais
e de demais partes do Brasil.
Vê-se a forte influência da arte funerária européia na ala
histórica do cemitério.
Pessoas Famosas Enterradas:
Plácido de Castro
(1873-1908), líder da Revolução Acriana
Teixeirinha
(1927-1985), cantor e compositor
Júlio de Castilhos
(1860-1903), político e jornalista
Iberê Camargo
(1914-1994), artista plástico
José Gomes Pinheiro
Machado (1851-1915), político
Lila Ripoll
(1905-1967), poetisa
Conde de Porto Alegre
(1804-1875)
Segundo Visconde de
Pelotas (1824-1893)
Barão de Nonoai
(1829-1897)
Barão de Guaíba
(1813-1902)
Barão de Gravataí
(1797-1853)
Barão de Camaquã
(1822-1893)
Cemitério São José I
Av.
Prof. Oscar Pereira, - Azenha
- O Cemitério São José está
situado entre três outros cemitérios: - Cemitério da Santa Casa de
Misericórdia, o Cemitério São Miguel e Almas e o Cemitério Israelita.
Próximo também está o prédio do
Crematório Metropolitano São José.
- Infelizmente nos últimos anos a
direção do Cemitério São José está transformando um antigo campo repleto de
obras de arte funerária com inestimável valor histórico num estacionamento para
o crematório.
- O total descaso com a
preservação de um bem histórico é justificado com omissas e por incompetência
de uma entidade que pelo seu longo histórico, deveria preservar as obras ali
contidas.
Personalidades Enterradas:
Alberto Bins (1859-1967), industrial e ex-prefeito de Porto
Alegre;
Cemitério São José II
Av. Prof.
Oscar Pereira, 584 – Azenha
Roteiro
Positivista
O positivismo é um sistema de ideias concebido pelo
francês Augusto Comte no século XIX. Sua difusão se deu em diversos âmbitos:
político, cultural e intelectual. Atingiu ainda diferentes disciplinas, como
Economia, Religião, Filosofia, Medicina, História, Geografia, Literatura e
Arquitetura. O positivismo religioso foi também uma de suas vertentes. Porto
Alegre, inclusive, possui, na Avenida João Pessoa, próximo a Avenida Venâncio
Aires, um dos raros templos positivistas existentes no Brasil.
No Rio Grande do Sul, na virada do século XIX para o
XX, o positivismo ganhou repercussão, sobretudo entre os partidários do Partido
Republicano Rio-Grandense (PRR). Júlio de Castilhos retirou do comtismo ideias
para a formulação política de funcionamento do estado, que foi assimilada por
Borges de Medeiros e seus seguidores. A identidade da República Velha Gaúcha no
Estado se confunde com o “positivismo castilho-borgista”, um fenômeno histórico
que esteve presente até a década de 1920, e que serviu para frear dissidências,
mas também animar conflitos, como as revoluções de 1893 e de 1923. O Cemitério
da Santa Casa é o único da cidade que reúne exemplares de mausoléus e túmulos
que expressam na escultura, arquitetura e em epitáfios a presença positivista,
eternizando, através da memória, o vigor dessa doutrina na sociedade gaúcha.
No
roteiro inclui:
01. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 04, 1° quadro
(direita), feito por Casa Aloys.
(Otávio Francisco da Rocha, militar, engenheiro, educador,
político e jornalista.)
02. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro
(direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot é
patrono da Brigada Militar.)
03. José Montaury (1858-1939) - Túmulo 90, 1° quadro
(direita). (José Montaury de Aguiar Leitão - engenheiro e político.)
04. Borges de Medeiros (1863-1961) - Túmulo 316, 1°
quadro (direita) emprestado da Família Sinval Saldanha, seu genro. (Antônio
Augusto Borges de Medeiros, advogado e político.)
05. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu, corredor
central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e político.)
06. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu,
corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
07. Barros Cassal (1858-1903) - Túmulo 296, 4°
quadro (direita). (João de Barros Cassal, jornalista e político.)
08. Ramiro Barcelos (1851-1916) - Túmulo 1169, 5°
quadro (esquerda). (Ramiro Fortes de Barcelos, político, escritor, jornalista e
médico na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.)
09. Frederico Westphalen (1876-1942) - Túmulo 649,
3° quadro (esquerda) (Engenheiro e político.)
10. Protásio Alves (1858-1933) - Túmulo, 3° quadro.
(Protásio Antônio Alves, médico e político.)
Roteiro Político
A história política do Rio Grande do Sul é rica e
singular. Esse é o olhar e o entendimento, inclusive, dos que abordam,
pesquisam e estudam a trajetória das relações de poder no Brasil. A política
gaúcha é reconhecida por suas especificidades e peculiaridades, que a distingue
das trajetórias de outros estados. A bipolaridade e o confronto entre os grupos
opositores fizeram do espaço regional, ao longo do século XIX e das primeiras
décadas do XX, sobretudo, um animado palco de cisões, de guerras e conflitos
militares.
Situados como conservadores ou liberais, no Império,
e pica-paus ou maragatos, depois chimangos ou maragatos, na República,
representações de suas lideranças se encontram no Cemitério da Santa Casa,
cujos exemplos tumulares ilustram a configuração do cenário político da cidade
e do Estado.
No
roteiro inclui:
01. Félix da Cunha (1833-1865) - Panteão. (Félix
Xavier da Cunha, poeta, advogado, jornalista, escritor e político.)
02. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 4, 1° quadro
(direita), feito pela Casa Aloys. (Otávio Francisco da Rocha, militar,
engenheiro, educador, político e jornalista.)
03. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro
(direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot,
patrono da Brigada Militar.)
04. Borges de Medeiros (1863-1961) - Túmulo 316, 1°
quadro (direita) emprestado da Família Sinval Saldanha, seu genro. (Antônio
Augusto Borges de Medeiros, advogado e político.)
05. Maurício Cardoso (1888-1938) - Mausoléu 118, 1°
quadro (direita), escultor Caringi. (Joaquim Maurício Cardoso, advogado e
político.)
06. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu,
corredor central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e
político.)
07. Coronel Bordini (1810-1884) - Mausoléu 5,
corredor central (esquerda). (João Carlos Augusto Bordini, militar, banqueiro e
político.)
08. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu,
corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
09. Plácido de Castro (1873-1908) - Túmulo 591,
corredor central (esquerda). (José Plácido de Castro, político e militar.)
10. Protásio Alves (1858-1933) - Túmulo, 3° quadro.
(Protásio Antônio Alves, médico e político.)
11. Firmino Paim Filho (1884-1971) - Túmulo, 3°
quadro. (Firmino Paim Filho, advogado, banqueiro, fazendeiro, industrial e
político.)
Roteiro Civico-celebrativo
A história celebrativa evoca personagens como
figuras representativas de um lugar. A eles é dada a responsabilidade por
grandes feitos, obras e ações que os destacam no imaginário social. Alguns
estão preservados na memória como patronos de instituições ou nomes de ruas.
Outros estão relacionados a datas que o calendário registra por seu significado
ou são recordados em feriados.
Com a morte, emerge a exaltação e seus túmulos
se transformaram em espaços de celebração. Para as novas gerações, os signos de
representação inscritos, esculpidos ou arquitetados em seus túmulos se revelam
como lições e testemunho de reconhecimento.
No Cemitério da Santa Casa, encontram-se importantes
exemplos de uma história-celebração, marcas da identidade que formou o Rio
Grande do Sul, estado delineado pelas especificidades de seu passado. A
necrópole reúne nomes de relevância política e militar da Capital gaúcha e do
Rio Grande do Sul.
No
roteiro inclui:
01. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 4, 1° quadro
(direita), feito por Casa Aloys. (Otávio Francisco da Rocha, militar,
engenheiro, educador, político e jornalista.)
02. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro
(direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot,
patrono da Brigada Militar.)
03. Maurício Cardoso (1888-1938) - Mausoléu 118, 1°
quadro (direita), escultor Caringi. (Joaquim Maurício Cardoso, advogado e
político.)
04. Francisco de Paula Brochado da Rocha (1910-1962)
- Jazigo perpétuo, 257 a 269, 1° quadro (esquerda). (Advogado, professor e
político.)
05. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu,
corredor central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e
político.)
06. Coronel Bordini (1810-1884) - Mausoléu 5,
corredor central (esquerda). (João Carlos Augusto Bordini, militar, banqueiro e
político.)
07. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu,
corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
08. Plácido de Castro (1873-1908) - Túmulo 591,
corredor central (esquerda). (José Plácido de Castro, político e militar.)
09. Daltro Filho (1882-1938) - Mausoléu, corredor
central (esquerda) (Manuel de Cerqueira Daltro Filho, militar e político.)
História Social
Toda a sociedade que se apresenta na história está
alicerçada por uma ordem social. A expressão das diferenças e das contradições
entre seus grupos e classes é evidente pelas condições materiais de que são
portadoras. Essa realidade é reapresentada no espaço cemiterial. Ele se
constitui em cenário portador de referências e explicações das relações humanas
e do funcionamento da sociedade, pois, afinal, o cemitério reproduz o fenômeno
social e seu movimento.
Na verdade, é visível neste lugar as condições de vida
dos que nele estão sepultados. E o Cemitério da Santa Casa traduz com realismo
a trajetória da sociedade porto-alegrense e dos que vindos de outras
comunidades, nele encontraram acolhimento. Mais ainda, ricas e multifacetadas
histórias podem ser aprendidas em seu espaço, desde o contato com os primeiros
quadros, ricamente adornados, até o Campo Santo, marcado pela simplicidade e
total despojamento. Da história social observada, é notório que o Cemitério da
Santa Casa acolhe a todos, indistintamente, se impondo no espectro da cidade
como um dos seus espaços mais democráticos e portador de cidadania.
No
roteiro inclui:
01. Ismael Chaves Barcelos - Túmulo 124 a 126, 1°
quadro (direita). (Fazendeiro, industriário.)
02. João Leite Filho - Mausoléu 134, 1° quadro
(direita). (Fazendeiro e capitalista.)
03. Família Difini - Mausoléu 10, corredor central
(direita), feito pelo artista José Floriani Filho. (Expoentes da colônia
italiana em Porto Alegre. Joaquim Difini, presidente do Sport Club
Internacional.)
04. Luiz Leseigneuer (sem data) - Mausoléu 9,
corredor central (esquerda), feito pela Casa Aloys.(Engenheiro.)
05. Eduardo Secco ( -1939) - Mausoléu 6, corredor
central (direita), feito pela Casa Aloys. (Comerciante.)
06. Mostardeiro (1831-1893) - Mausoléu, corredor
central. Antônio José Gonçalves Mostardeiro, comerciante.
Dona Laura (1835-1906). Laura Rasteiro Mostardeiro
(sem data)
07. João Ferreira Porto ( -1883) - Mausoléu, corredor
central. (Comerciante.)
08. Vereador Porto (1807-1881) - Túmulo 30, 2°quadro
(direita). (José Ferreira Porto, comerciante.)
09. Barão do Cahy (1817-1884) - Túmulo 12, corredor
central (direita). (Francisco Ferreira Porto, comerciante.)
10. Conde de Porto Alegre (1804-1875) - Mausoléu,
corredor central. (Manuel Marques de Sousa, nobre e militar.)
11. Visconde de Pelotas (1824-1893) - Capela 5, 3°
quadro. (Segundo Visconde - José Antônio Correia da Câmara, militar e
político.)
12. Família Rocco Irace - Túmulo, corredor central,
feito pela Casa Floriano. (Comerciantes.)
13. Barão de Nonoai (1828 -1897) - Túmulo 758, 4°
quadro. (João Pereira de Almeida, nobre e militar.)
14. Barão do Gravataí (1797-1853) - Túmulo, corredor
central. (João Baptista da Silva Pereira, militar.)
15. Baronesa do Gravataí (1802-1888) (Maria Emília
de Menezes.)
16. Barão do Guaíba (1813-1902) - Capela 34, 4°
quadro. (Segundo Barão de Guaíba, Manuel José de Campos- médico e político.)
17. Barão de São Borja (1816-1877) - Túmulo, 4°
quadro. (Vitorino José Carneiro Monteiro, militar e nobre.)
18. Barão de Camaquã (1822 -1893) - Túmulo 718, 4°
quadro. (Salustiano Jerônimo dos Reis, militar e nobre.)
Cemitério Irmandade do Arcanjo São
Miguel e Almas
- O
Cemitério Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, situado na Avenida Oscar
Pereira, possui o número de pessoas enterradas, 75 mil.
Funcionamento 24h.
Obs.: O horário de
visita as galerias é das 08h às 18h.
Telefone Central: 51 30218350
Serviços e Estrutura Disponíveis:
Atendimento ao Cliente 24h;
Lancheria com Self Service 24hs;
Segurança e Monitoramento 24h;
Amplo estacionamento (Administrado
pela Empresa Moving | VINCI Park);
Área Protegida Unimed 24H;
Ambiente monitorado por Câmeras;
Igreja para missas de corpo
presente (Mediante disponibilidade);
Diversas Capelas;
Capela de cerimoniais (Com
serviços de áudio e imagem, bem como visualização de cerimônia via internet a
disposição dos clientes – verificar disponibilidade);
Missa aberta ao público todos os
Domingos às 9h e toda a primeira Sexta-feira do mês às 16h30min;
Serviço de encomendação de Almas;
Sepultamentos;
Serviço de Cremação;
Velário
Provedoria Irmandade do Arcanjo
São Miguel e Almas
Rua Jerônimo Coelho,102 – Loja
Térreo, Centro Histórico, Porto Alegre – RS.
Funcionamento: 08h30min às 12h e
das 13h às 17h30min.
Telefone Central: 51 32876400.
Serviços e Estrutura:
Atendimento ao Cliente;
Recebimento de pagamento de
Anuidades, Taxas de Conservação e Perpetuidades;
Secretaria e Provedoria da
Irmandade;
Provedoria da Irmandade São Miguel
e Almas
R.Jeronimo Coelho, 102, Térreo
Centro Histórico - Porto Alegre
Telefone: (51) 3287.6400
Pessoas Famosas Enterradas:
Aldo Locatelli, artista plástico;
Caio Fernando Abreu, escritor e jornalista (transferido
para o Cemitério Ecumênico João XXIII);
Érico Veríssimo, escritor;
Ildo Meneghetti, ex-governador do Rio Grande do Sul;
Lupicínio Rodrigues, cantor;
Mário Quintana, poeta;
Tatata Pimentel, jornalista e apresentador de televisão.
Cemitério da Primeira Igreja Batista em Porto Alegre
Avenida
Porto Alegre, 408 – Azenha
- No Cemitério da Igreja Batista, os corpos sepultados não ultrapassam os 50 anos. Isso
mostra que nem sempre os netos das pessoas enterradas continuam contribuindo
com o aluguel dos túmulos dos seus avós.
Cemitério Ecumênico João XXIII
Av.
Natal, 60 – Azenha
- Cemitério Ecumênico João XXIII,
foi fundado no dia 27 de abril de 1972.
Hoje, o empreendimento faz parte
da história da capital.
A obra, impregnada do espírito do
ecumenismo, foi erguida no terreno onde se localizava a Colina Melancólica
(antigo estúdio do Esporte Clube Cruzeiro) a partir de 1971, a fim de atender
uma grande carência de Porto Alegre para servir aos adeptos de todas as crenças
e religiões. Desde essa época, houve consciência da seriedade e pioneirismo do
trabalho. Para assegurar a perenidade da Necrópole, foram destinados
importantes recursos à sua manutenção permanente.
- O João XXIII é referência
internacional na construção de cemitérios verticais, tendo a distinção de ser a
maior Necrópole em concreto armado do mundo. Foi uma longa jornada, que ainda
não acabou. Continua fazendo parte do respeito à memória dos porto-alegrenses.
Pessoas Famosas Enterradas:
Everaldo Marques da Silva (1944-1974), futebolista;
José Lewgoy (1920-2003), ator;
Jorge Camargo (1955-1988), músico;
Cemitério Evangélico – Comunidade Evangélica de Porto Alegre
Rua Guilherme Schell, 467 – Santo
Antonio
- Fundado em 1856, o Cemitério
Evangélico de Porto Alegre, foi o primeiro Cemitério-Jardim do estado.
- Sua utilização para
sepultamentos é aberta à todas as denominações religiosas.
Cemitério União Israelita Porto
Alegrense
Av.
Prof. Oscar Pereira, 1175 – Azenha
- É um dos três cemitérios
judaicos localizados no estado do Rio Grande do Sul.
Pessoas famosas enterradas:
Salomon Smolianoff (1897-1976), falsificador e sobrevivente
do Holocausto;
Cemitério Luterano
Av.
Prof. Oscar Pereira, - Azenha
Pessoas Famosas Enterradas:
Iara Bauer Pires (1944-2015), Mãe, cantora, artista
plástica, artesã;
Cemitério Espagnol
Avenida
Porto Alegre, - Azenha
A
área com o menor número de jazigos é o Cemitério Espanhol, situado no bairro
Medianeira, com apenas 492 sepulturas e desativado desde dezembro de 2000.
Demais Bairros:
Cemitério Municipal São João
Rua
Ari Marinho, 297 – São João
- Localizado no bairro
Higienópolis, o maior cemitério municipal de Porto Alegre iniciou suas
atividades em agosto de 1936. Ocupando uma área de 5 hectares, conta com cerca
de 12.600 jazigos entre perpétuos e arrendados.
Cemitério da Tristeza
Está situado na Rua Liberal, n.°
19, no bairro Ipanema.
- Antigamente chamado
"Cemitério da Cavalhada", foi municipalizado em 1954, é um dos três
cemitérios municipais de Porto Alegre e possui cerca de 600 jazigos, a maioria
perpetuados, e realiza sepultamentos apenas para famílias que possuam jazigos
construídos.
Cemitério Vila Nova da Sociedade Beneficente Nossa
Senhora do Belém
Estrada F. O. Vieira, 966 – Belém
Velho
- Fundado em 1922, onde se encontram
os túmulos dos fundadores da antiga Villa Nova D’Itália.
Cemitério Parque Jardim da Paz
Estrada
J. O. Remião, 1347 – Agronomia
- Um
cemitério com um formato diferenciado, um grande jardim padronizado, onde sobre
a grama fica uma placa de identificação. Sempre aos dias de finados, é feita a
famosa chuva de pétalas de rosa jogadas de helicóptero sobre o cemitério.
- Com mais de 40 mil pessoas enterradas, o cemitério Jardim da Paz, na Lomba do Pinheiro, tem o maior número de vagas disponíveis, tantas que administração não sabe precisar.
- Com mais de 40 mil pessoas enterradas, o cemitério Jardim da Paz, na Lomba do Pinheiro, tem o maior número de vagas disponíveis, tantas que administração não sabe precisar.
Cemitério de Belém Velho
Rua Nossa Senhora do Rosário, n.°
5025, no bairro Belém Velho.
- Localizado no bairro Belém
Velho, foi implantado no século XIX, sendo encampado em 1992 pela
prefeitura em razão de denúncias de irregularidades.
- Com uma área de aproximadamente dois hectares, possui 1.026 jazigos. O cemitério não tem capacidade para a para construção de novos jazigos.
- Com uma área de aproximadamente dois hectares, possui 1.026 jazigos. O cemitério não tem capacidade para a para construção de novos jazigos.
- O Cemitério Belém Velho é um dos três cemitérios municipais de Porto Alegre.
Cemitério de Belém Novo
- No
Cemitério Belém Novo se vê a lápide bem na entrada do cemitério de Inácio Antonio da Silva, que doou as
terras para a construção do próprio cemitério.
- Administrado pela Sociedade
Beneficente Nossa Senhora do Belém.
Século XXI
Crematório Metropolitano São José
Av.
Prof. Oscar Pereira, 584 – Santo Antônio
- Em operação desde abril de 2002,
o Crematório Metropolitano São José disponibilizou, a partir de julho de 2003,
a mais moderna estrutura de atendimento e serviços do Brasil em cremação,
sepultamentos e capelas para velório.
- Trata-se de um empreendimento
totalmente diferenciado e com padrão superior de serviços, contando com capelas
especialmente decoradas, climatização, circuito interno de TV com monitores
para informações sobre capelas e horários das cerimônias, câmeras para
transmissão de cerimônias on-line pela Internet, sistema de sonorização
ambiente, vigilância permanente através de diversas câmeras localizadas em
pontos estratégicos, estacionamento próprio e cafeteria com vista panorâmica para
a cidade de Porto Alegre.
Arte
Arte Cemiterial
Arte Funerária
- Cemitérios são museus ao ar
livre, ali estão obras de grandes artistas, mas também peças de anônimos.
Algumas vieram da Europa, outras confeccionadas por artistas locais.
- O Cemitério da Santa
Casa representa um verdadeiro museu ao ar livre, com mais de trezentas
estátuas de valor significativo e que, segundo Bellomo (1988), podem ser
classificadas em três grupos: tipologia cristã, com seus anjos, santos,
crucifixos e pietás; tipologia alegórica, com representações de sentimentos
(desespero, dor, consolo) e princípios religiosos (fé, coragem, esperança); e,
finalmente, tipologia cívico-celebrativa, enaltecendo-se personagens do mundo
político.
A arte dos cemitérios
porto-alegrenses se caracteriza por estátuas, que guardam os túmulos, formando
um verdadeiro museu ao ar livre. Atualmente existem cerca de 300 unidades.
Foram esculpidas, entre os anos de 1900 a 1940, por italianos,
alemães e espanhóis, época da grande expansão econômica da cidade quando a
beleza dos túmulos era sinal de status.
Mesmo assim, todos os cemitérios de Porto Alegre possuem
monumentos em sua Arte Cemiterial , de
menor ou maior valor.
As figuras ornamentais simbolizam
a fé, a esperança, a caridade, a justiça divina, o juízo final, a ressurreição,
e os sentimentos humanos diante da morte.
- No Brasil Colônia era tradição enterrar os mortos nas
igrejas, o mais modestamente possível.
A Morte
era vista com uma perspectiva de humildade, de simplicidade e
despojamento, a grande niveladora dos seres humanos. Portanto, os túmulos de
nossas igrejas eram basicamente semelhantes, quando muito com uma inscrição
diferencial na lápide.
- No século XIX começaram a aparecer os primeiros túmulos
mais significativos, no Rio de Janeiro. No mosteiro de Santo Antônio e no da
Ajuda, os túmulos da Família Real são os primeiros “monumentais” para a época, embora
bastante modestos, se comparados com o que temos hoje em dia em Porto Alegre.
- A aristocracia de Porto Alegre, foi muito mais modesta, nos
túmulos que a burguesia que a substituiu como classe social. No período
aristocrático os túmulos são bastante simples.
Nossos “barões, condes e viscondes” do IIº Reinado (1841-1889), são enterrados
no Cemitério da Santa Casa.
- Os túmulos da aristocracia são bastante simples, singelos,
sendo que alguns, como:
Túmulo do barão de
Camaquam, no Cemitério da Santa Casa é quase de um indigente.
Túmulo do conde de
Porto Alegre, está enterrado em um mausoléu bastante modesto, apenas com o
brasão indicando sua classe social.
Mausoléu da Família
do barão de Guaíba é de grande simplicidade, com inscrição dizendo que ai
estão enterrados o Barão e a Baronesa.
Parece que a aristocracia tinha consciência tão profunda de
sua importância e seu realce, que não precisou reforçar seu status através de
túmulos monumentais. Colocar brasão lhes parecia ser suficiente.
- Os
primeiros grandes túmulos aparecem no momento em que a burguesia começa a ficar
triunfante: - os comerciantes primeiro e depois os industriais e banqueiros,
que parecem ter necessidade de realçar seu status “por mortem”, desaparecendo a idéia
anterior, de que a Morte é niveladora.
A burguesia está nos mausoléus, nos grandes monumentos
funerários;
A classe média, nas catacumbas de parede;
Os pobres, no chão, sem lápide;
Sendo que os muito pobres acabam empilhados no ossário.
Assim, as classes sociais se definem após a morte.
- Desde a virada do século vinha se propagando entre as
elites gaúchas o hábito de encomendar figuras ornamentais para os jazigos
familiares.
A maior parte delas simbolizava conceitos religiosos como a Fé, Esperança,
Caridade, Justiça Divina, Juízo Final e Ressurreição. Alguns correspondiam
a sentimentos humanos diante da morte, como a Dor consolando-se na Fé, a Resignação,
à Saudade
e o Luto.
Outros biografavam aspectos da vida do morto como suas virtudes, suas
atividades e preferências.
Inicialmente a maior partes destas figuras eram importadas
da Europa.
- O apogeu da arte funerária em Porto Alegre aconteceu entre
1900 e 1940, período de expansão industrial, comercial e econômica da cidade e
do apogeu do governo positivista de Júlio
de Castilhos, também denominado ditadura científica positivista.
- Fazia parte do pensamento do governo positivista desta
época o patrocínio de monumentos públicos e jazigos monumentais, entre os quais
se podem citar os monumentos funerários de Júlio
de Castilhos, Pinheiro Machado e
Otávio Rocha. Em geral, essas
sepulturas foram financiadas pelo governo estadual, por corporações e entidades
empresariais.
- Na primeira metade do século, era usual que, em torno
destes mausoléus, existisse um verdadeiro culto cívico.
- Só após a Primeira Guerra Mundial cresceram as encomendas
de esculturas aos artistas aqui domiciliados.
Após a Guerra declinou o costume social de ornamentar
profusamente fachadas dos prédios, para compensar essa perda, outras
possibilidades se abriram no campo de trabalho dos escultores, sendo uma delas
a ornamentação de mausoléus para os vários artistas estrangeiros “escultores”
que chegaram a Porto Alegre desde o início do século XX e que muito colaboram
na arte funerária:
- Entre os primeiros escultores que se estabeleceram no
Estado com oficinas de esculturas, estiveram os Friederichs, família alemã de destaque na escultura funerária:
- Miguel Friederichs
(1884) imigrante alemão, fundou sua oficina no Caminho Novo (Rua Voluntários da
Pátria).
- Jacob Aloys
Friederichs (1891) o alemão de Merl, da região do
Mosela, irmão de Miguel, fundou sua oficina de esculturas “Marmor und
Steinmetzwerkstatt” (marmoraria e
cantaria) no Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria), nº 197 A-B, próximo a
oficina de seu irmão de Miguel (1884), no local da atual Galeria Santa Catarina
(2011).
No térreo a loja e nos fundos o
escritório, no andar superior a residência, no subsolo a adega e a cantaria.
A firma produtora de lápides e estatuária fúnebre, com sede
na Rua Voluntários da Pátria, mais tarde transferida para a Rua Oscar Pereira.
Aloys produziu até 1950. Falecido, a viúva manteve a firma
por mais algum tempo.
Congregou, ele quase todos os escultores, mesmo os oriundos
da Argentina e Uruguai, e teve encomendas de todo o Estado.
Trabalhava mármore de Carrara, além de trabalhos em bronze e
pedra grés.
Oficina que grandes serviços
prestou para embelezamento das residências porto-alegrenses e da arte
cemiterial.
Túmulo de Karl von Koseritz, no Cemitério Evangélico.
- Alguns dos colaboradores dos Friederichs trabalhavam para outras firmas como:
- Lonardi Teixeira, que em (1994) seus netos
ainda trabalhavam no ramo.
- José Floriani,
- Irmãos Piotelli,
- Irmãos De Angeli,
as três últimas ainda em funcionamento (1994).
- Em 1900, João Vicente Friederichs (1900), filho
de Aloys, seguindo a tradição da família, estudou na Europa onde adquiriu
sólida formação e certamente teria sido um grande nome da “escultura gaúcha” se seu espírito empresarial não tivesse falado mais alto,
abrindo seu Atelier de Esculturas.
Começa em Porto Alegre um “boom imobiliário” e João Vicente passou a contratar escultores para executar
as encomendas que recebia do engenheiro Rodolph
Ahrons e outros arquitetos e engenheiros.
Em 1902 foi contratado Frederico Pallarin, formado em Milão,
Veneza e Roma, e com exitosa passagem por Buenos Aires.
Em 1906, chegou Luiz Sanguin, diplomado em Pádua e
Veneza. Quando o surto imobiliário se intensificou.
A partir de 1910, João Vicente
saia em busca de mais escultores. Foi quando contratou o austríaco Wenzel Forbeger e o berlinense Alfredo Staege e o espanhol Jesus Maria Corona Alonso.
Em 1931, a falência de João Vicente Friederichs, devido a
crise mundial (1929).
- Em 1910, chega a Porto Alegre o escultor e modelador
excepcional Giuseppe Gaudenzi,
produziu obras notáveis no Estado.
Na década de 1920, já era um homem muito ocupado foi
professor da Escola Técnica Profissional e gerente da Oficina de Vicente Friederichs.
- Em 1913, para melhorar ainda mais seu quadro de
colaboradores, João Vicente Friederichs
contratou o alemão Alfred Hubert Adloff,
alemão de Dusseldorf o mais técnico e completo estatuário que por aqui operou, estatutário
premiado na Europa, trabalhou em Berlim, Bruxelas e na Itália, de volta a
Alemanha na Fabrica de cutelaria e baixelas Griessen e Essen apurou sua técnica
de modelar em relevo. Foi
o que mais realismo imprimiu as figuras funerárias permeado de uma possante
sensualidade.
Túmulo de Júlia Barbosa Friederichs, um de seus primeiros trabalhos
funerários em Porto
Alegre , a figura da mulher ajoelhada e com o glúteo apoiado
nos calcanhares, uma posição de difícil execução.
Túmulo do Professor Pereira
Parobé, a capela funerária com relevos inspirados no Altar da Pátria, em Roma. O painel do lado
direito é evocativo do Amor Pátrio, o
qual simboliza com figuras da mitologia grega, as Três Graça, Atenas e Mikéia.
O painel do lado esquerdo é alusivo ao Trabalho,
onde revelou sua enorme facilidade com a animalística, o que não era comum. O
mausoléu de Pereira Parobé ilustra a ideologia Positivista que exalta o patriotismo e o trabalho como virtudes
superiores.
Túmulo de Boaventura
dos Reis, e a figura do Cristo, onde aos pés lê-se Gavanoplastia
Friederichs, na qual era o escultor principal.
- A Oficina Gaudenzi e Adloff (1923-1928) de Alfred Adloff e Giuseppe Gaudenzi, que por quatro ou cinco anos estiveram
associados, seus projetos atestam uma perfeita adequação entre o cálculo
mercantil e a preocupação artística.
Gaudenzi bem relacionado e perfeitamente integrado na
sociedade gaúcha seria o responsável pela parte comercial e eventualmente, elaborador
de concepções dos trabalhos.
Adloff, mais arredio e falando mal o português devido à sua
deficiência auditiva, seria o responsável pela oficina.
A arte funerária gaúcha, na década de 1920 foi uma das mais
fecundas e criativas, e os méritos disto em grande parte são derivados desta
associação.
Túmulo Dr. José
Carlos Ferreira, as figuras a Dor e a Consolação, baseados numa obra
italiana (entrevista Harry Bellomo, 1987)
o homem é que chora, simbolizando a Dor a mulher é que conforta, representando
a Consolação.
Túmulo da Família
Schramm, trata-se do Cristo no Horto (depoimento
Ângelo Piatelli, 1992).
- Da firma Gaudenzi e Adloff saíram também diversos
monumentos:
Busto de Apolinário Porto Alegre (1925), de
autoria de Adloff, os traços faciais são fortemente marcados e conferem ao
retrato uma expressão de tristonha introspecção.
- A temática cristã foi um dos mais executados em nossos
cemitérios. Os motivos mais representados foram quatro: - a Deposição
(Pietás), a Ressurreição,
o Coração de
Jesus e o Cristo da Salvação (Bom Pastor, Cristo recebendo
o morto, Cristo Redentor, etc.).
Alfred Adloff
imprimiu a figura do Cristo um realismo quase sacrílego.
Mausoléu da Família
Morejano, aparece o Cristo da Ressurreição, pode ter sido executado por
Adloff ou Gaudanzi.
Jazigo da Família
Risch, a figura simboliza a Saudade, do Atelier Gaudenzi e Adloff.
Mausoléu da Família
Sampaio, figura a Saudade foi representada buscando consolação na Fé, na
cruz sobre a qual se debruça, do Atelier Gaudenzi e Adloff, a possante
sensualidade mais uma vez está presente. De costas para o observador, as
figuras exibem sua exuberante plástica calipígia (belas nádegas) através da
transparência dos tecidos. As rosas que carregam eram flores preferidas de
Adolff.
Capela Saturnino
Mathias Velho, pode ter sido da firma Gaudenzi e Adloff.
- A Família Arjonas,
com os irmãos José e André, e Mário, o filho deste último, também trabalharam
na arte da estatuária.
- José Arjonas, o
mais velho, chegou primeiro.
- André Arjonas o
suplantou em destaque por sua grande produtividade. O monumento dos Imigrantes,
em São Leopoldo ,
é de sua autoria.
- Mario Arjonas,
filho de André, continuou produzindo arte funerária. Autor das esculturas das
figuras dos apóstolos e profetas colocados no alto da catedral de Porto Alegre.
Túmulo de Teixerinha,
com a estátua em tamanho natural do artista.
- Também eram escultores Leoni
Lonardi e Luigi Giusti.
- As três primeiras décadas, as famílias enriquecidas começam
a adotar padrões mais requintados, com obras aprimoradas, com padrões europeus
de nítida influência clássica, greco-romana, que chega até Porto Alegre através
da França.
Como a França nesse período transita pelo neo-clássico,
realismo, “art-nouveau” até o modernismo, encontramos em nossos
cemitérios todos esses modelos, até a presença da arte moderna, na década de
1930.
As obras desse período apresentam três tipologias distintas:
- Obras alegóricas com certa visão romântica do século XIX,
tipo Anjo da Saudade, da Esperança, Anjo Maternal, do Sofrimento, da Morte, do
Juízo Final. Este anjo, na virada do século cede lugar a figuras simbólicas de
sofrimento, saudade, consolação, maternidade e esperança. O material substitui
o espiritual.
- Rosto e mãos expressivas, roupas que escondem corpos apenas
delineados, aos poucos vão adquirindo certa sensualidade.
- As roupagens das figuras femininas vão ficando mais
finas, permitindo modelar formas anatômicas, seios, uma perna que avança, bem
delineada, figuras masculinas vão sendo despidas até alcançarem o nu, como
ocorre em dois túmulos em
Porto Alegre , ao contrário do nu feminino, que não existe.
- Parece que a sociedade está perdendo valores espirituais e
se materializando. Há falta de mensagem cristã:
A postura diante da morte é mais de desespero, aparece
mulher chorando, saudosa, alegoria do desespero, da saudade.
Outra tipologia é a religiosa, com presença da mensagem
cristã: - estátuas de Cristo ressuscitado, Cristo que ressuscita Lázaro, Pietá,
e, de 1930 em diante, algumas Nossa Senhora, Santa Teresinha e Coração de
Jesus.
- A tipologia cívico-patriótica aparece no túmulo dos grandes
homens, geralmente financiados pelo Governo, com “glorificação ao herói”. É a
ideologia do sistema.
Túmulos de Dr. Júlio
de Castilhos, do escultor Décio
Villares.
Túmulo do Senador Pinheiro
Machado, do escultor carioca Pinto e
Canto, de concepção Positivista, são deste teor, há a glorificação ao
senador morto por assassinato.
Túmulo de Plácido de
Castro, também assassinado, substitui a glorificação por uma placa contestatória
ao regime, que não puniu os assassinos, conhecidos.
- Antônio Caringi
que chega por volta de 1935, é o autor de outros túmulos e mausoléus
monumentais:
Túmulo do governador Daltro
Filho, na década de 1930, recebeu escultura representando uma figura
vestida de gaúcho.
Túmulo de Maurício
Cardoso, advogado, revolucionário de 1930 ao lado de Getúlio Vargas, e
falecido em um desastre de avião. Seu túmulo, o mais monumental, de quantos
possuímos, faria inveja a faraós, com sua estátua de cerca de três metros de
altura, representando a justiça virtuosa a olhar para o túmulo.
- Fugindo aos modelos clássicos, Caringi esculpiu:
Túmulo de Aparício
Cora de Almeida, o advogado gaúcho, fugindo aos modelos clássicos, Caringi
esculpiu em baixo relevo de bronze, índios missioneiros atacando em combate, o
que representaria a luta pela terra, pelo nativismo, o lado telúrico do gaúcho.
- Os cemitérios que apresentam maior número de estátuas são:
Cemitério Arcanjo São Miguel e
Almas
- Mausoléu da Família
Mathias Velho, antigos proprietários
das terras onde se situa o bairro Mathias Velho, no município de Canoas. O
conjunto é o maior e mais importante da arte funerária de Porto Alegre.
- Mausoléu da Família
Ramos, com a representação do anjo da fé, evidenciando a cruz como símbolo
da fé.
- Túmulos da Colônia
Chinesa, ala tradicional.
E os jazigos das grandes famílias de Porto Alegre do século
XIX e XX.
Localização: Av. Oscar Pereira, 400.
Cemitério da Santa Casa da
Misericórdia
- Jazigo-monumento de Júlio
de Castilhos, importante líder político e Presidente do Estado no início do
século XX, onde a Pátria é simbolizada por uma figura feminina que carrega a
bandeira nacional, obra do escultor Décio Villares.
- Jazigo-monumento do senador José Gomes Pinheiro Machado (08.05.1851-08.09.1915),
líder político gaúcho e Senador da República, ornado com crianças, simbolizando
as gerações futuras, e um baixo relevo que representa a marcha da humanidade.
Obra do escultor português Pinto do Couto radicado no Rio de Janeiro, executado
em Florença, Itália (1922).
- Túmulo do músico Vítor
Matheus Teixeira, o Teixeirinha, famoso compositor e interprete de músicas
regionais, com uma estátua em tamanho natural do artista, obra do escultor
Mário Arjonas, homenageado todos os anos nos finados pela fluidez de fãs ao seu
jazigo.
- Capela singela do Conde
de Porto Alegre, o general Manoel Marques de Sousa, soldado do Império,
dono da primeira estátua de Porto Alegre
- Túmulo de Plácido
de Castro (1873-1908), o Herói da conquista do Acre.
Cemitério São José I e II
- Túmulo do intendente José
Montaury de Aguiar Leitão, cujo monumento foi erguido pela própria
municipalidade.
- Túmulo do major Alberto
Bins, intendente da cidade de Porto Alegre entre 1928-1937, com destaque
par o Cristo em tamanho natural, a figura aponta para o céu, em testemunho de Fé.
Localização: Av. Oscar Pereira, 410.
Cemitério Evangélico I e II
- Túmulo de Rubem
Berta, fundador e Presidente da Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), a
alegoria em mármore branco apresenta Ícaro, figura mitológica, que constrói
asas com as quais procura voar.
As grandes famílias de origem alemã de Porto Alegre, também
estão aqui sepultadas.
Localização: Rua Guilherme Schell, 467.
- A partir de 1940 as esculturas funerárias começam a
desaparecer, inicia-se a decadência da arte cemiterial, não por contenção
econômica, mas devido, principalmente, à alteração dos valores sociais e
ideológicos e o declínio da ideologia positivista, que quase atinge a
paralisação, depois de 1950.
- Todas as sociedades desenvolvem um ou mais sistemas
fúnebres pelos quais pode se entender a morte em seus aspectos pessoais e
sociais. Em muitas culturas, a noção de dar aos mortos uma boa despedida é um
tema proeminente. Isso pode incluir o gasto de grandes somas em dinheiro em um
caixão luxuoso, com o morto adereçado com roupas de luxo, jóias e maquiagens.
- Depois do advento da fotografia, tornou-se hábito entre a
classe dominante fotografar o morto. A tradição foi incorporada pelas classes
populares, nas quais ela ainda está viva. Veja-se, por exemplo, o sensível
texto de Koury (1999), acerca do processo de luto de uma mulher nordestina pelo
filho morto tragicamente:
- "O retrato do meu filho vivia no meu
peito. Na foto parece que meu menino está rodeado de luz..."
- De qualquer maneira, o funeral é percebido como um reflexo
das realizações da vida do indivíduo e um conforto para os vivos. O sistema
mortuário é o meio que a sociedade encontra de reconstituir sua integridade
após a perda de um dos membros.
- Trata-se do portão de uma capela mortuária, adornado pela
figura de dois anjos. Desde tempos imemoriais, ao penetrar nos umbrais da
morte, fazia-se necessária a presença protetora de um guardião, um
acompanhante. Hermes, na Grécia, fazia o papel do deus mensageiro, o daimon,
guia das almas pelos mundos inferiores, espírito protetor, sábio, guardião dos
mistérios do outro lado. "Anjos protetores, dêem-nos o acesso"
poderia ser a legenda desta foto.
- No Cemitério São Miguel e Almas, um dos melhores exemplos
de arte funerária de Porto Alegre se encontra no mausoléu da tradicional
Família Mathias Velho, onde anjos abrem o túmulo de Cristo diante de um romano
espantado. A família era proprietária das terras localizadas no município de
Canoas, denominadas Fazenda da Brigadeira, cuja sede compreende hoje o bairro
Mathias Velho. Além disso, a família tinha terras em Rio Pardo e Mostardas.
Atualmente, o Cemitério da Santa Casa expressa, através da “arte
cemiterial”, as transformações sociais, econômicas, políticas e
culturais ocorridas ao longo do tempo na história do Estado.
Vagas
Vagas e Precos
Os
cemitérios municipais em Porto Alegre, não possuem nenhuma vaga, além das que já estão com as
famílias possuidoras de concessão anterior a 1975.
Os
atuais interessados em jazigos municipais precisam procurar a central de
atendimento funerário da Prefeitura de Porto Alegre. Caso tenham seu pedido
aceito, são encaminhados ao Serviço de Enterro do Carente.
Os
preços cobrados pelos jazigos variam de cemitério para cemitério. Uma das áreas
mais caras para a compra de jazigo perpétuo é o Cemitério Jardim da Paz, onde
os valores variam de R$ 5 mil até 36 mil.
As
sepulturas mais baratas, com exceção dos cemitérios públicos, ficam no
Cemitério São José Vila Nova, no qual é possível adquirir um jazigo a partir de
R$ 650,00.
Outra
forma de sepultamento, de menor custo, é o serviço de aluguel, sendo o
Cemitério da Sociedade Beneficente Nossa Senhora de Belém o mais barato,
cobrando R$ 750,00 por um arrendamento de três anos.
No Cemitério da Comunidade Evangélica de Porto Alegre, o mesmo serviço custa R$ 1.800.00.
Textos
da Morte
O
Pensamento Positivista
"Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos
mortos"
No Cemitério da Santa Casa de Misericórdia da cidade de
Porto Alegre encontram-se os jazigos de muitas figuras históricas do estado do
Rio Grande do Sul. Diversos desses túmulos foram construídos durante o governo
positivista de Júlio de Castilhos, pois fazia parte do pensamento oficial a celebração
cívica dos líderes políticos vinculados ao grupo dominante. Os jazigos e
monumentos pertencentes à tipologia cívico-celebrativa, além de servirem como
sepultura, celebravam as memórias dos vultos destacados do mundo político.
As doutrinas positivistas chegaram ao Rio Grande do Sul
através da influência dos militares que cursavam a Escola Militar do Rio de
Janeiro, no final do século XIX, em que a pregação dirigida por Benjamin
Constant era intensa. Entre os prosélitos, desatacou-se a figura de Júlio de
Castilhos, identificado com as premissas republicanas, antiliberais,
tradicionalistas, patriarcais e anti-socialistas, combinando o caráter
autoritário do positivismo com o caudilhismo rio-grandense, que possivelmente
exacerbou a doutrina positivista (Bellomo, 1993).
A doutrina positivista surgiu no século XIX, criada e
divulgada por Auguste Comte e caracterizada como uma filosofia burguesa
liberal, ao mesmo tempo conservadora e progressista. Dentro das premissas da
doutrina, a humanidade está em permanente evolução em direção ao progresso,
porém dentro de uma ordem preestabelecida, cujas infrações são percebidas como
negativas. Por isso, o positivismo é anti-revolucionário.
Havia uma opção pela ditadura republicana, percebida como
única forma de governo capaz de atingir os objetivos propostos. O indivíduo só
existiria no coletivo. O artista, portanto, deveria conferir aos líderes da
comunidade a imortalidade da arte, que teria como objetivo aprimorar o caráter
dos indivíduos, por meio da educação moral, da exaltação da coragem, da
prudência e da firmeza. Assim, o positivismo pensava atingir a moralização das
instituições e fornecer às gerações futuras elementos morais, através de
figuras exemplares.
Na prática, o caudilhismo
substituiu a antiga nobreza imperial
A revolução federalista foi uma das mais sangrentas da
história do estado, travada entre duas facções: liberais federalistas
(maragatos) e republicanos positivistas (chimangos). O conflito, apesar da
participação das classes populares, revelou-se antes de mais nada
intra-oligárquico. A prática da violência nessa disputa, que normalizou a
degola e outras formas brutais de eliminação de adversários, não foi isolada,
mas uma decisão política, sintonizada com o terror organizado no sentido
jacobino do termo, cujas repercussões e bipolaridade fazem-se sentir até hoje
na história do estado (Flores, 1993).
Julio de Castilhos
Júlio de Castilhos
governou o estado do Rio Grande do Sul no período de 1893 a 1897 e foi um dos
fundadores e dirigentes do Partido Republicano Rio-Grandense, de orientação
positivista, no qual exerceu uma verdadeira ditadura. A revolução federalista
(1893-95) representou a transição da monarquia para a república, no Rio Grande
do Sul, e refletiu a individualidade histórica de homens em luta pelo poder
regional.
Cortejo Fúnebre a
Julio de Castilhos, multidão segue pela avenida João Pessoa
Júlio de Castilhos morreu em 1903, e seu túmulo, construído
pelo escultor Décio Vilares, é formado por uma pirâmide com uma águia no topo,
contendo a inscrição "A Júlio de Castilhos, o Rio Grande do Sul"
e a máxima positivista
"Os vivos são sempre e cada vez mais governados
pelos mortos". Além disso, ele põe em evidência o escudo do
estado e o lema Ordem e Progresso. Na base da pirâmide, uma moça sentada
representa a pátria, segurando na mão direita a bandeira nacional e, na
esquerda, uma coroa de louros e o escudo do Rio Grande do Sul.
Pinheiro Machado
Monumento funerário
ao senador Pinheiro Machado, líder republicano gaúcho pertencente à mesma
facção de Julio de Castilhos, assassinado em 1915, no Rio de Janeiro. Esse
monumento constitui o maior grupo escultórico da arte funerária no estado do
RS.
Cortejo Fúnebre ao
Senador Pinheiro Machado em Porto Alegre - 1915
Cortejo Fúnebre ao
senador Pinheiro Machado na Capital Federal (Rio de Janeiro) - 09.09.1915
O sepultamento do senador, organizado pelo governo de Borges
de Medeiros, foi uma verdadeira apoteose positivista. O túmulo, obra do
escultor Rodolfo Pinto, é considerado o mais monumental de Porto Alegre.
Representa Pinheiro Machado sobre um leito romano, coberto pela bandeira nacional,
tendo ao lado a pátria, representada por uma jovem com um barrete frígio,
fazendo um gesto protetor.
Aos pés do leito, uma mulher representa Clio, a musa da
história, registrando a vida do morto em seu livro e apontando o herói
celebrizado como exemplo para as novas gerações, simbolizadas por um grupo de
crianças. Baixos-relevos mostram cenas de culto cívico e a marcha da
humanidade. Um dos baixos-relevos mostra um casal realizando um ritual cívico
no altar da pátria. Outro mostra uma procissão de figuras desnudas em torno da
palavra imortalidade (Bellomo, 1993).
O conjunto tumular foi concebido ideologicamente dentro do
espírito positivista, utilizando a simbologia alegórica típica dessa corrente
de pensamento. A imortalidade é percebida como a conservação da memória do
líder morto, símbolo e modelo para as gerações futuras. Estes monumentos, sem
dúvida, corporificam um dos lados da desigualdade — o morrer da classe
dominante.
Mausoléu de José
Plácido de Castro, gaúcho fundador do estado do Acre e morto em 1908, em
crime que ficou impune, celebra-se o morto e denuncia-se o sistema político
vigente. A justiça, de olhos desvendados, empurra a balança com uma espada, em
cujo prato há um saco com dinheiro. Há ainda um leão flechado pelas costas,
alusão à morte por traição. As inscrições tumulares denunciam a impunidade do
crime.
Plácido de Castro, rio-grandense partidário da corrente que
seguia as idéias de Gaspar Silveira Martins, liberal federalista, opositor de
Júlio de Castilhos, mudou-se para o Acre, após a derrota da revolução
federalista, onde assumiu o comando dos acreanos rebelados contra o governo
boliviano e contra a entrega da região a um grupo anglo-americano. Em 1902,
iniciou-se uma rebelião, e Plácido de Castro atacou os bolivianos em Xapuri
(local do conflito com Chico Mendes, um século mais tarde) proclamando o estado
independente do Acre. Após alguns meses, os brasileiros conquistaram todo o
território do Acre e promoveram a rendição da Bolívia. Plácido de Castro,
figura de grande prestígio junto à população, foi prefeito da região do Alto
Acre. Morreu assassinado em 1908 (Lacombe, 1979).
A morte de Plácido de Castro foi um crime de natureza
essencialmente política, "um magnicídio com todas as suas características. O
prestígio que desfrutava junto ao povo, opondo embargo ao despotismo dos
elementos oficiais terão aconselhado sua eliminação, na impossibilidade de
afastá-lo do Acre" (Goycochea, 1973). A justiça nunca se
manifestou sobre o crime, embora tenha sido identificado o grupo assassino, com
mandantes vinculados à polícia local.
As
Desigualdades da Morte
A morte dos pobres ou a pobreza do morrer. "Os homens
pobres enterram seus anjos com um pano qualquer, quando o possuem... mais uma
cruz feita com paus achados na estrada e rezas de uma tristeza alegre pela
sorte de não seguir o destino que outros tantos estão tendo de suportar"
(Koury, 1998).
Ao observar, com consternação, o campo santo do Cemitério da
Santa Casa, o único cemitério que acolhe pobres em toda a capital do estado,
escondido atrás dos monumentos funerários das figuras ilustres, não é possível
deixar de constatar, no concreto, as desigualdades no morrer (foto 5). Um
quadrado nu de terra vermelha, semeado e tornado a semear de cruzes.
O enterramento gratuito dos corpos tem uma permanência estipulada
de três anos, período mínimo necessário para proceder à exumação de cadáveres,
de acordo com o artigo 311 do Decreto Estadual nº 23430 (Código Sanitário
Estadual), de 24 de outubro de 1973, referente a cemitérios públicos e privados
do estado. As sepulturas no chão batido, identificadas por uma cruz de ferro e
uma placa com o número, lembram um campo de batalha e de miséria. Não há fotos
ou nomes. "Campo
santo", lugar dos pobres. Os enfeites são garrafas plásticas,
flores plásticas, velas.
Brum (1999, p. 36), o "enterro de pobre", observa, no
depoimento de um homem que acabara de enterrar o filho morto no campo santo da
Santa Casa, entre as duas mil cruzes dispostas como em um campo de guerra: "Não há
nada mais triste que enterro de pobre, porque o pobre começa a ser enterrado em
vida."
As condições de vida e de morte de contingentes da
população, cuja sina "é uma cova rasa, para facilitar o despejo do corpo
quando vencerem os três anos de prazo, um caixão doado, em um cemitério de lomba,
e esse episódio tem acontecido sucessivamente por mais de quinhentos
anos".
Roda
dos Excluídos
Os primeiros registros sobre a mortalidade infantil em Porto
Alegre estão associados à roda dos expostos da Santa Casa da Misericórdia,
semelhante a outras rodas descritas em outras regiões do Brasil. Na roda era
colocada a criança enjeitada, preservando-se o anonimato do depositário. Após a
Lei do Ventre Livre, aumentou o número de crianças negras abandonadas na roda
dos expostos, porque ao senhor não interessava sustentar uma criança liberta. A
mortalidade infantil nesse grupo de crianças era mais elevada do que entre
crianças brancas.
A mortalidade infantil na cidade de Porto Alegre apresentava
cifras altíssimas nos primórdios do século XX: 221,3 óbitos/1.000 nascidos
vivos em 1900, 185,0/1.000, em 1910, e 279,0/1.000, em 1920 (Bonow, 1979). Os
índices representam aproximadamente vinte mortes para cada cem crianças menores
de um ano e correspondem a um nível de saúde bastante precário.
Os coeficientes de mortalidade infantil no município de
Porto Alegre apresentavam valores maiores que os do estado (1900: 118,19; 1910:
115,8; 1920: 90,0/1.000 nascidos vivos), presumivelmente pelos índices maiores
de sub-registro no interior da província. A mortalidade infantil mostra
comportamento descendente no Rio Grande do Sul e na capital, porém as
populações de menor renda apresentam taxas maiores do que a população em geral
(Barcellos, 1986; Fischmann, 1980).
Túmulos de bebês nascidos e mortos no mesmo dia, muitas
vezes fotografados para o ritual fúnebre, de acordo com os ditames culturais,
ou para guardar alguma lembrança da vida ainda não vivida. Eram crianças de
famílias mais abastadas, porque o bebê do pobre não tem nome nem retrato.
Mulheres
As desigualdades de gênero ficam evidentes nos jazigos de
família, onde aparece apenas 'senhor Fulano e esposa', seguido pelo sobrenome
do marido. Mulheres que entraram na morte sem um nome próprio, identificadas e
nomeadas a partir da ótica patriarcal. "O patriarcado não sucumbe nem na morte".
Mulheres descritas no jazigo segundo atributos e características dos papéis de gênero:
'esposa',
'colaboradora inteligente', 'companheira na vida e no silêncio da eternidade'
de homens adjetivados como 'estrela', 'prócer' e outras qualificações.
Este fato tem sido documentado por historiadores que afirmam conhecer a mulher
romana através das inscrições mortuárias, criadas por seus maridos e filhos
(Chauí, 1984).
Durante os anos do castilhismo, as mulheres foram
estigmatizadas e relegadas aos tradicionais papéis estereotipados de esposas e
mães. A ditadura científica positivista de Júlio de Castilhos entendia o papel
da mulher restrito ao espaço doméstico, guardiã da honra da família, reclusa no
lar, para evitar as tentações do mundo exterior. Desprovida de libido, devia
permanecer fiel ao marido, mesmo depois da morte deste, responsável pela
preservação da memória da família e elo de ligação entre os vivos e os mortos.
Essa misoginia do positivismo contraria a trajetória da mulher rio-grandense,
pelo menos as das classes mais abastadas, que, naquela época, já usufruíam de
uma relativa independência. Mulheres que administravam sozinhas estâncias e
propriedades, durante os constantes conflitos que permearam o Rio Grande no
século XIX.
Além dessa posição em relação ao gênero, os positivistas
expressaram opiniões conservadoras em relação à saúde pública. Acusaram a
higiene oficial de despótica, de arrancar os filhos às mães para lançá-los em
hospitais insalubres, de devassar a propriedade alheia com desinfecções e
outras medidas sanitárias. Os castilhistas lideraram a luta antivacinação, em
oposição às medidas adotadas por Oswaldo Cruz durante o governo Rodrigues
Alves. Segundo o apostolado antivacina, apoiado pelo governo positivista de
Borges de Medeiros, eles apostrofavam que "o materialismo médico nada respeita, nem o pudor,
nem o respeito devido à delicadeza feminina, nem a bondade para com as
crianças, nem o respeito à velhice" (Singer, 1981).
Nos jazigos do cemitério da Santa Casa observa-se um uso
constante de alegorias femininas, algumas de inspiração neoclássica: a justiça,
a pátria, a desolação. Também aparecem as figuras femininas de cunho religioso:
virgens, anjos, pietás. A cidade de Porto Alegre, representada por uma mulher,
aparece no jazigo monumental de Otávio Rocha.
Inscrições
A inserção social do indivíduo aparece não somente no luxo e
na ornamentação dos jazigos, mas também na descrição das honrarias que o morto
adquiriu em vida. Foram arrolados honrarias militares e políticas, títulos de
bravura e nobreza, excelência no desempenho de atividades burguesas.
Mortes
violentas se fizeram visíveis.
No início do século XX,
predominavam os assassinatos, atualmente predominam os acidentes. Essas mortes
produzem um agudo sentimento de injustiça nas famílias vitimadas, que utilizam
o jazigo como espaço de denúncia.
Pode ser considerada um contundente documento da categoria
violência. O chamamento "Assassinado!" acompanha o nome do
morto e a data do óbito.
As
Frases de Luto
De despedida, de desconsolo, plasmadas em metal, nas figuras
de pequenos anjos, na estatuária, poderiam constituir por si só um trabalho em
separado.
"Rio-Grandenses, podeis confiar: este velho soldado
há de servir a vossa terra com a certeza de que amanhã, ao rememorardes esta
etapa da vossa vida política, sereis forçados a dizer que ele foi sempre um
homem de bem", esta frase que adorna o mausoléu do general
Daltro Filho, interventor no estado do Rio Grande do Sul, nomeado por Getúlio
Vargas, o primeiro túmulo em que aparece a figura de um gaúcho vestido com
trajes típicos.
Há situações modestas, túmulos tão pobres que a
identificação do morto estava pichada com pincel atômico.
Frases dispostas em bilhetes, lembretes, corações de
cartolina, flores de papel, despedida sem consolo.
Curiosidades
- É um fato sobejamente conhecido. Quando o Positivismo vivia
sua época áurea em Porto
Alegre , nos inícios do século XX, freqüentemente os
seguidores das idéias de Augusto Comte subiam,
em romarias, a Lomba do Cemitério, e iam homenagear, mais uma vez, os seus
mitos.
- Até precedendo a inauguração do
monumento na Praça da Matriz a Julio de Castilhos, os
castilhistas foram reverenciar a memória do Patriarca do Rio Grande do Sul
junto ao seu suntuoso túmulo (obra de Décio Villares) no Cemitério da Santa Casa.
Essa idolatria fanática talvez
decorresse do mandamento comteano:
“Os vivos cada vez mais serão governados pelos mortos”.
- Ninguém ignora que as tais romarias cívicas aos cemitérios
deixaram de existir.
- O Cemitério da Santa Casa, inscrição no
pórtico principal do Cemitério:
“Reverte ad locum tuum”
Significa: Volta
ao teu lugar.
- O Muro do Cemitério da Santa Casa: - o
primeiro muro foi contratado em 02 de julho de 1845 com Fermiano Pereira Soares e o açoriano da Ilha de São Jorge, João Baptista Soares da Silveira, mesmo
construtor da Ponte dos Açorianos e das fundações do Theatro São Pedro.
Com mais de um século e meio de funcionamento, o Cemitério da Santa Casa já foi, e ainda é, testemunha de muitas histórias e curiosidades que se desenrolam em suas dependências.
Com mais de um século e meio de funcionamento, o Cemitério da Santa Casa já foi, e ainda é, testemunha de muitas histórias e curiosidades que se desenrolam em suas dependências.
- O jazigo onde está sepultado Vitor Mateus
Teixeira, o Teixeirinha, é o mais visitado do Cemitério da Santa Casa.
- Outro hábito já visto no Cemitério são pessoas
saindo de costas do lugar. O fato curioso despertou a atenção dos funcionários
que foram questionar o porquê daquela prática. A resposta foi que assim eles
não levavam junto o espírito de ninguém ali enterrado.
- Anualmente, um grupo de pessoas visita o Cemitério
da Santa Casa. Elas chegam juntas, vestindo uma roupa igual, amarela, se
dirigem à Cruz Mestra, acendem velas, fazem uma oração e vão embora. Quem são e
o motivo desse ritual é ainda um mistério que persiste na Instituição.
- As cerimônias de sepultamento de algumas religiões
afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, têm uma série de
particularidades. Os rituais envolvem cantos e danças, que ocorrem nas capelas,
e o caixão não é levado no carrinho comum. Quem trabalha no Cemitério da Santa
Casa conta que as pessoas costumam carregar o ataúde balançando-o até o local
da sepultura, que sempre fica no chão, em contato com a terra.
- Há um túmulo de um ex-paraquedista militar do
Exército, Casemiro Scepaniuk,* e sua esposa Ruth, (foto baixo) pronto com todos
os ornamentos possíveis, mas que ainda aguardam os corpos dos dois, que ainda
estão vivos e saudáveis morando em Porto Alegre.
*Faleceu em 02 de fevereiro de 2016, seus restos
mortais foram colocados nesse seu jazigo.
Conceitos
Termos Espaços
Cemiteriais
Túmulo: -
monumento fúnebre erguido em memória de alguém no lugar onde se acha sepultado.
Sepultura, Campa,
Carneiro, Catacumba, Cova, Jazigo, Sepulcro, Tumba, Túmulo: - local onde se
sepultam os cadáveres.
Catacumbas: -
galerias subterrâneas em cujas paredes se faziam tumbas.
Tumba: - pedra
sepulcral, caixão ou esquife.
Jazigo: - pequena
edificação nos cemitérios, destinada ao sepultamento de várias pessoas ou da
família.
Mausoléu: - em
alusão ao túmulo que Artemisa, viúva de Mausolo, rei da Cária, antiga cidade da
Ásia Menor, mandou erguer ao marido. Sepulcro de Mausolo (rei da Cária – século
IV a.C. em Halicarnasso, tido como uma das sete maravilhas do mundo antigo).
Sepulcro suntuoso.
Nicho: - cavidade
ou vão na parede ou muro para colocar estátua, imagem ou qualquer objeto
ornamental.
Campo Santo: -
centenas de cruzes fincadas sobre sepulturas rasas.
Capela: - pequena
igreja de um só altar.
Necrópole: - como
eram chamadas as partes das cidades antigas destinadas para o sepultamento dos
mortos. Sinônimo de cemitério.
Abandono
As Marcas do Esquecimento
A Morte
O que dizem os Santos
Oh
Clementíssimo Jesus, que Vos abrasais de amor pelas almas, eu Vos suplico pela
agonia do Vosso Sacratíssimo Coração e pelas dores da vossa Mãe Imaculada, que
purifiqueis no Vosso Sangue os pecadores de todo o mundo que agora estão em
agonia e hoje mesmo têm de morrer. Amén.
Coração
agonizante de Jesus, tende piedade dos moribundos.
Oh!
São José, pai adotivo de Jesus Cristo e verdadeiro esposo da Virgem Maria,
rogai por nós e por todos os agonizantes deste dia/desta noite.
Eterno
Pai, pelo amor que tendes a São José, escolhido por vós para ser o vosso
representante na terra, tende misericórdia de nós e dos pobres moribundos.
Pai-Nosso,
Ave-Maria e Glória.
Eterno
Filho, pelo amor que tens a São José, vosso guarda fidelíssimo, tende
misericórdia de nós e dos pobres moribundos.
Pai-Nosso,
Ave-Maria e Glória.
Eterno
Espírito Santo, pelo amor que tendes a São José, zelosíssimo guarda da
Santíssima Virgem Maria, Vossa amada Esposa, tende misericórdia de nós e dos
pobres moribundos.
Pai-Nosso,
Ave-Maria e Glória.
(São
João Bosco)
-
A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando absolutamente
abandonadas todas as coisas deste mundo.
Considera,
meu filho, que tua alma deve necessariamente separar-se do corpo, mas não sabes
quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.
Não
sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou noutro lugar.
A
ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo,
um terremoto, ou um raio são suficientes para te tirar a vida.
E
isso pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora
ou talvez mal acabes de ler estas páginas.
Quantos
estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia
seguinte!
-
Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois?
Se
estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no
pecado, serão atormentados para todo o sempre.
(São
João Bosco)
E
tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria de tua alma? Infeliz de
ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje,
corre grande risco de morrer mal!
-
O lugar e a hora de tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela
virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem
embargo, a última hora da tua vida há de chegar.
Nessa
hora, estendido sobre o leito, assistindo por um sacerdote que rezará junto de
ti as orações dos agonizantes, rodeado por tua família que chora, com o
crucifixo numa mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da
eternidade.
Tua
cabeça sentirá dores e não encontrará repouso; tua visão estará obscurecida;
tua língua estará ardendo; tua garganta, seca, teu peito, oprimido, o sangue se
gelará nas tuas veias; teu corpo será consumido pela enfermidade e teu coração
trespassado por mil dores.
Quando
a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado a
um buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só
restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso.
Abre
um túmulo e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no
mundo; pó e podridão…O mesmo te acontecerá a ti.
Lê
estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam
a ti, como a todos os outros homens.
Agora
o demônio, para induzir-te a pecar, se esforça e distrair-te deste pensamento,
em encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer,
em tal desobediência, em faltar à Missa nos dias festivos; mas no momento da
morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas
vivamente, diante de ti.
Que
farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em
pecado mortal!
-
Considera também que do momento da morte depende tua felicidade ou desgraça
eterna.
Estando
para dar o último suspiro e à luz daquela última chama, quantas coisas veremos!
A
Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa
morte; a primeira, para mostrar-nos os preceitos da lei de Deus, que devemos
observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos
corretamente.
Por
isso, meu filho, à claridade daquela última luz verá se amaste a Deus durante a
tua vida ou se o desprezaste; se respeitaste seu santo Nome ou se o ofendeste
com blasfémias.
Verás
as festas que profanaste, as Missas que não ouviste, as desobediências a teus
superiores, os escândalos que destes a teus companheiros.
Verás
aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás…
Mas
(oh! meu Deus) tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o
caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim,
daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos.
Compreendes
bem o que te estou dizendo? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o
Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou
escravo do demónio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e
arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.
Teme
muito por tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte
e a eterna glória.
Sem
perda de tempo, põe em ordem tua consciência com uma boa Confissão, prometendo
ao Senhor perdoar a teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais
obedientes, abster-te de comer carne nos dias proibidos, não perder mais o
tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres de teu estado.
E
deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz a Ele:
“Meu
Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-Vos e quero-Vos amar e
servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento
terrível. Jesus, Maria e José, que minha alma expire em paz em vossos braços”.
(São
Francisco de Sales)
Considera,
minha alma, a incerteza do dia da morte. Um dia sairás do teu corpo. Quando
será? Será no inverno ou no verão ou em alguma outra estação do ano? no campo
ou na cidade, de noite ou de dia? Será de um modo súbito ou com alguma
preparação? Será por algum acidente violento ou por uma doença? Terás tempo e
um sacerdote para te confessares? Tudo isto é desconhecido, de nada sabemos, a
não ser que havemos de morrer indubitavelmente e sempre mais cedo que pensamos.
Grava
bem em teu espírito que então para ti já não haverá mundo, vê-lo-ás perecer
antes teus olhos; porque então os prazeres, as vaidades, as horas, as riquezas,
as amizades vãs, tudo isso se te afigurará como um fantasma que se dissipará
ante tuas vistas.
Ah!
Então haverás de dizer: por umas bagatelas, umas quimeras, ofendi a Deus, isto
é, perdi o meu tudo por um nada. Ao contrário, grandes e doces parecer-te-ão
então as boas obras, a devoção e as penitências, e haverás de exclamar: Oh!
Porque não segui eu esta senda feliz? Então, os teus pecados, que agora tens
por uns átomos, parecer-te-ão montanhas e tudo o que crês possuir de grande em
devoção será reduzido a um quase nada.
Medita
esse adeus grande e triste que tua alma dirá a este mundo, as riquezas e as
vaidades, aos amigos, a teus pais, a teus filhos, a um marido, a uma mulher, a
teu próprio corpo, que abandonarás imóvel, hediondo de ver e todo desfeito pela
corrupção dos humores.
Prefigura
vivamente com que pressa levarão embora este corpo miserável para lançá-lo na
terra, e considera que, passadas essas cerimonias lúgubres, já não se pensará
mais de todo em ti, assim como tu não pensas nas pessoas que já morreram. “Deus o tenha em paz” – há de dizer-se –
e com isso terá tudo acabado para ti neste mundo. Oh! morte, sem piedade és tu!
A ninguém poupas neste mundo.
Advinhas,
se podes, que rumo seguirá tua alma, ao deixar o teu corpo.
Ah!
Para que lado se há de voltar? Por que caminho entrará na eternidade? – É exatamente
por aquele que encetou já nesta vida.
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http://reporterdecristo.com/a-morte-o-que-dizem-os-santos/
Texto elucidativo e rico em informações. No imaginário da Morte reproduzem-se a opulência e a miserabilidade da existência humano. No espaço cemiterial se percebe com clareza os papéis que os individuos exercem na sociedade. O estigma da pobreza ou da riqueza deixam marcas indeléveis,além da própria existência física. Carlos Roberto da Costa Leite( Beto) Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho.
ResponderExcluirwww.genealogiars.com
Ótimo texto, com informação e poesia da vida é morte
ResponderExcluirParabéns!