Bem Vindo

- Com esta série não é pretendido fazer história, mas sim é visado, ao lado das imagens, que poderão ser úteis aos leitores, a sintetizar em seus acontecimentos principais a vida da Cidade de Porto Alegre inserida na História.

Não se despreza documentos oficiais ou fontes fidedignas para garantir a credibilidade; o que hoje é uma verdade amanhã pode ser contestado. A busca por fatos, dados, informações, a pesquisa, reconhecer a qualidade no esforço e trabalho de terceiros, transformam o resultado em um caminho instigante e incansável na busca pela História.

Dividir estas informações e aceitar as críticas é uma dádiva para o pesquisador.

- Este Blog esta sempre em crescimento entre o Jornalismo, Causos e a História.

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- Em História, não podemos gerar Dogmas que gerem Heresias e Blasfêmias e nos façam Intransigentes.

- Acompanhe neste relato, que se diz singelo; a História e as Transformações de Porto Alegre.

Poderá demorar um pouquinho para baixar, mas vale à pena. - Bom Passeio.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cemitérios e Velórios de Porto Alegre



Cemitérios - Morte com Arte
- Porto Alegre -

- Atrás de seus muros, a história está representada, através da arte esculpida em mármore, bronze, ferro e pedra, nas sepulturas e mausoléus ali reunidos.

- Atravessar os portões que guardam esse patrimônio da cidade e caminhar por suas alamedas é iniciar uma viagem ao passado.

"Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos".
"The living are always, and more and more, governed by the dead"


Cemitério: - lugar onde se dorme, se descansa.

No século III da era cristã, a palavra ganhou o sentido de dormitório onde os mortos esperam o dia da ressurreição universal.

- A palavra cemitério vem do latim coemeteriun e do grego koimeterion (eu durmo).

No século IV, foi adotado o uso de enterramento dos mortos dentro das igrejas ou em volta delas.

Porém, no século XIX, por decreto Papal, devido aos inúmeros abusos, teve fim essa tradição milenar.



O Início em Porto Alegre

- Fora do conglomerado urbano no século XVI e XVII, as pessoas eram enterradas próximas as suas propriedades, ou nos caminhos, devido à dificuldade de deslocamento e nenhum "campo santo" na Capitania de São Pedro.

- No Brasil Colonial, as villas ou centros urbanos se estruturavam com uma capela em seu centro e, ao lado ou nos fundos desta, ficava o cemitério.

Século XVIII

Primeiro Cemitério
Cemitério da Ponta das Pedras
- Os relatos mais antigos com relação aos sepultamentos em Porto Alegre descrevem o terreno no qual se situou por muitos anos na antiga Praça da Harmonia (Largo da Forca), na Ponta das Pedras às margens do rio Guaíba,

- O cemitério do Porto de Viamão (primeiro nome de Porto Alegre) foi feito após a chegada dos casais açorianos a partir de 1752, junto a Ponta das Pedras, atual Praça Brigadeiro Sampaio, próximo a atual Volta do Gasômetro no início da Rua da Praia, não era um campo santo demarcado, mas um local de descarte dos primeiros mortos no início da colonização do Porto dos Casais (Porto Alegre), fundada pelos açorianos (Coruja, 1983; Franco, 1993), local até hoje de superstição por assombrações.

Em 1732, o tropeiro Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos se instala nas terras às margens da lagoa de Viamão.

Em 1740, Jerônimo de Ornelas recebe a carta de Sesmaria, e traz seus parentes e agregados, formando assim uma comunidade.

Em 1752, chegaram sessenta casais açorianos com seus filhos para se instalarem próximos ao povoado de Viamão.

Em 1753, primeiras notícias conhecidas do Cemitério de Porto Alegre, localizado na antiga Praça da Harmonia na beira do rio Guaíba.

Em 1772, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão é dividida em duas.

Segundo Cemitério
Cemitério dos Altos da Praia

Desde 1771, o “Cemitério do Alto da Praia” é o primeiro cemitério oficial de Porto Alegre estava localizado nos Altos da Praia como era chamado a Praça da Matriz, antes da demarcação da área e da construção da Igreja Matriz.

A partir do ano de 1772, os sepultamentos passaram a ocorrer no Cemitério da Igreja Matriz e inclusive dentro da própria igreja.

- O Cemitério da Matriz estendia-se desde os fundos da antiga matriz, na atual Rua (Duque de Caxias), até a Rua do Arvoredo (Atual rua Coronel Fernando Machado).

Em 1773, novo edital rebatiza a pequena povoação como Madre de Deus de Porto Alegre, houve a transferência da câmara municipal de Viamão para Porto Alegre.

Cemitério da Matriz
- Este cemitério estava localizado em terreno onde hoje se acha edificada a Cúria Metropolitana, Rua Fernando Machado, esquina Rua Espírito Santo, é continuação do anterior, com a construção da Matriz o cemitério desceu o espigão e ficou mais nos fundos da igreja, no centro da capital da Capitania, dentro do modelo da época em que o campo santo ficava praticamente ao lado ou aos fundos da igreja.-

- Os porto-alegrenses e seus governantes não gostavam da má localização do cemitério nos fundos da Igreja Matriz (atual Catedral Nossa Senhora Madre de Deus), eram muitas as reclamações sobre a localização daquele campo santo, inteiramente envolvido com o passar dos anos pelo espaço urbano.

Sepultamento nas Dores
- Nos terrenos da Igreja das Dores também foram sepultados diversos irmãos da antiga ordem religiosa.

Fundacão da Irmandade
Em 1773, a Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, fundada na Igreja Matriz do povoado de Nossa Senhora da Madre de Deus, sendo uma das instituições mais antigas de Porto Alegre - cidade fundada em 1772.

- A instituição possuía no Cemitério desta, um quadro de terra para o sepultamento dos irmãos falecidos.


- Estava localizado no terreno que se estendia desde os fundos da Igreja Matriz, até a Rua Coronel Fernando Machado, onde posteriormente foi edificado por Dom Sebastião Dias Laranjeira, segundo Bispo do Rio Grande do Sul, o antigo Seminário, atualmente a Cúria Metropolitana.

Século XIX

Epidemias
Em 1801, lê-se em ata da Câmara que "se escreveu uma carta ao vigário desta freguesia para não se enterrarem corpos nesta matriz por um tempo de seis meses, pela representação que esta Câmara fez ao cirurgião-mor pela epidemia que tem havido" (Franco, 1993).

- Esses episódios são contemporâneos a várias epidemias ocorreram na cidade no século XIX.

- Não tardou que o Cemitério da Matriz fosse envolvido pela expansão da villa, passando a gerar repetidas preocupações de natureza sanitária.

Santa Casa
Início do século XIX, a cidade de Porto Alegre possuía 3.927 habitantes e apenas uma enfermaria, que abrigava os doentes com verbas da caridade pública.

- A necessidade da criação de um hospital era evidente, sobretudo para tratar a população carente, e não foi difícil obter a concessão para se abrir um hospital de caridade.

1º Cemitério da Santa Casa
Em 1803, desde sua fundação a Santa Casa de Misericórdia organizou um “Primeiro Cemitério” junto ao prédio deste hospital de caridade, que não restou vestígio.

Em 1808, Porto Alegre é elevada à categoria de “vila”.

Em 1822, Porto Alegre elevada à categoria de “cidade”.

Em 1825, autorização para a construção de outro cemitério no território da Igreja Matriz, ele seria destinado a enterrar os condenados à pena capital.

Em 1825, autorização para fazer a Capela dos Passos ao lado da Santa Casa de Misericórdia. Cemitério no local.

Em 1826, a inauguração das primeiras enfermarias da Santa Casa.

- Surgiu assim a Santa Casa de Misericórdia, no início com uma função muito mais assistencial que terapêutica, de acordo com os estatutos das instituições portuguesas congêneres, pelas quais se regia.

- Sua finalidade principal era dar atendimento aos pobres — na doença, no abandono e na morte —, abrigando além dos enfermos, os abandonados, crianças e velhos, os separados, criminosos, doentes e os excluídos do convívio social, como os doentes mentais (Mauch, 1994).

- Um dos objetivos da Santa Casa era dar abrigo aos mortos através da construção do cemitério.

Em 30 de abril de 1826, se deduz a existência deste, na Ata da Mesa Administrativa houve uma abertura que na sua implantação visou, a princípio, apenas a inumação dos condenados a morte, os denominados “padecentes”, mas a Mesa resolveu-se mandar fazer tumbas para os irmãos e demais pessoas que quisessem ser enterradas, “visto que até agora só eram enterrados os padecentes”.

Em 23 de agosto de 1829, bastaram três anos para o pequeno cemitério ficar repleto, como se vê de resolução da Mesa, quando o Mordomo do mês anunciou que não era suficiente para “enterrar os que faleciam no Hospital”.

Resolveu-se fazer “outro cemitério que fosse suficiente e que este deveria ser longe do edifício”.

2º Cemitério da Santa Casa
Assim, o “Cemitério da Caridade” que aparece na planta da cidade elaborada por L.P. Dias em 1839, um quadrilátero inserido no polígono da Santa Casa, mas a alguma distância do edifício e da capela, vincula-se certamente a resolução de 23 de agosto de 1829, de abrir um novo campo, mais afastado do prédio.

- É o segundo campo santo, já ampliado para a inumação dos pacientes do Hospital, onde a mortalidade seria justificadamente elevada, dada as precárias condições da medicina na época.

3º Cemitério da Santa Casa
Em 1834, encaminhou-se a solução de um velho problema que atormentava os porto-alegrenses e seus governantes: a má localização do cemitério dos fundos da Matriz, a Câmara Municipal nomeara uma comissão de médicos para opinar a respeito de uma nova localização para a necrópole.

Santa Casa - intra-muros

Em 1835, inicia o levante Farroupilha.

Em setembro de 1835, tropas dos farroupilhas estavam acampadas no local do atual cemitério, prontas para atacar Porto Alegre.

Entre 1835 e 1836, durante a ocupação de Porto Alegre pelos farroupilhas, a média anual de enterros aumentou substantivamente, causada também por um surto de escarlatina.

- Logo, a área destinada aos sepultamentos tornou-se inadequada. O terreno acidentado, de acentuado declive, não permitia mais acolher os enterros, por problemas ocasionados pela chuva e consequente erosão do solo.

Extra Muros
Em 1836, os imperiais leais ao Imperador retomam a cidade.

- Após o entrincheiramento Farroupilha, das décadas de 1830 e 1840, a cidade começa a expandir-se para além de seus muros de defesa, o Cemitério da Matriz não acompanha o crescimento populacional.

Por volta de 1840, o Cemitério da antiga Matriz encontrava-se completamente lotado, não se observando as normas sobre profundidade das covas e sobre o espaço intermediário entre elas. Além disso, não havia indicações sobre a data das inumações, o que levava a serem desenterrados cadáveres ainda em estado de putrefação.

Mas foi em 1843, após o poder público municipal ter autorizado a mudança do cemitério para uma localidade afastada – extra-muros.

Cemitério da Santa Casa 
Em 10 de setembro de 1843, a Mesa Administrativa da Santa Casa, na qual o Provedor o então Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias) Presidente da Província, propôs a Irmandade que tomasse para si o empreendimento de fundar um cemitério público extramuros, para o que constitui uma comissão especial.

Curiosidade:
- Entre outras personalidades locais, a comissão era integrada pelo secretário da Presidência da Província, o famoso poeta Domingos José Gonçalves de Magalhães, um dos pioneiros no romantismo literário no Brasil.

Em 28 de abril de 1844, a Comissão apresentou a Mesa Administrativa da Santa Casa, seu relatório, que foi unanimemente aprovado, foi aprovado também pedir um empréstimo a Presidência da Província de 20 contos de réis, que seria pago mediante os rendimentos do próprio cemitério.

Em 05 de agosto de 1844, para a escolha dos Altos da Azenha, então uma área rural pouco habitada, condicionou iniciativa da Câmara Municipal de fixar os alinhamentos que deveriam obedecer:

- A Estrada do Mato Grosso (Av. Bento Gonçalves), a Estrada do Belém (Av. Prof. Oscar Pereira) e a continuação da Rua da Azenha, tudo realizado em vistoria pública na encruzilhada que é hoje a Praça Princesa Isabel.

- A Mesa Administrativa decidiu pelo imediato início das Obras, o que foi acertado com os empreiteiros João Baptista e Firmino Pereira Soares pelo valor 20:970$000 (vinte contos e novecentos e setenta mil-réis).

- Para isto a Irmandade já havia recebido um empréstimo de 8 contos de réis da Presidência da Província.

Em 06 de agosto de 1844, o Presidente da Província, Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias) tomou a iniciativa de adquirir um amplo terreno.

- Situado longe do Centro, no alto da Colina da Azenha, a sua administração ficou a cargo da Irmandade da Santa Casa de Porto Alegre (Arquivo Histórico do RS, 1846).

- A fundação do “Cemitério da Santa Casa” localizado nos Altos da Azenha foi o germe e núcleo básico de várias necrópoles ali localizadas, pertencente a outras irmandades ou confissões religiosas, liga-se diretamente à administração de um dos seus provedores mais ilustres da Instituição, o General Luiz Alves de Lima e Silva, Barão de Caxias, que esteve à frente da Santa Casa de 1843 a 1845.

- O Cemitério da Matriz era um assunto que preocupava seriamente o Barão de Caxias, Presidente da Província, que em seu relatório de 1846 traçou um quadro macabro das condições de higiene do cemitério, no qual haveria cadáveres parcialmente insepultos e remexidos pelos cães vadios, onde nos dias de verão o cheiro era insuportável.

Caxias – Presidente da Província
Em 1844, é construído o Cemitério Santa Casa, no “Alto da Azenha” pelo general Luis Alves de Lima e Silva, devido à necessidade urgente da construção de um novo cemitério, previsão para ocupar uma área de 8,4 ha. de superfície.

- Foi aprovado, ainda, pela Câmara Municipal o impedimento de efetuar enterros em outro lugar.

Em 1845, os primeiros imigrantes italianos e alemães desembarcaram na capital do estado do Rio Grande do Sul.

A Lei nº 37 de 07 de maio 1746, autorizou a Presidência da Província a conceder outro empréstimo à Santa Casa, no importe de 10 contos de réis, para fechar a porção do cemitério extramuros que se acha pronto e na compra de objetos e utensílios necessários para que ali sejam feitos enterramentos.

Mesmo pronta a obra, a Estrada do Belém (atual Av. Prof. Oscar Pereira) que dava acesso se mantinha intransitável, sem calçamento, com chuva sendo quase impossível o deslocamento para os veículos da época.

Em 1846, quando o Barão de Caxias, na época presidente da província, publicou seu relatório anual, fez citações alarmantes com relação ao antigo cemitério, ao qual não faltavam "a porta da sacristia fechada, cadáveres de escravos mal amortalhados e foçados pelos cães errantes" (Franco, 1993).

- Em certo trecho afirmava ele:

- "tão pequeno cemitério mas apinhado de cadáveres, cuja exalação, tão sensível ao olfato em dias calorosos, era quase suficiente para pejar o ar de partículas deletérias".

- E concluía: - "para extinguir o escândalo e esse foco de miasmas, não julguei dever esperar mais. Fiz com que a Santa Casa se incumbisse da edificação de um novo cemitério fora da cidade, em lugar escolhido por uma comissão de pessoas entendidas."

Em 1849, instituiu-se o regimento para o Cemitério da cidade de Porto Alegre.

Primeiro Sepultamento da Azenha
Em 06 de abril de 1850, depois de sucessivos adiamentos a primeira inumação aconteceu nos Altos da Azenha no novo Cemitério da Santa Casa, devido a epidemia de febre amarela que se difundia pela Vila de Porto Alegre, era urgente realizar os enterros na nova necrópole.

- José Domingues, um marinheiro português que chegou a Porto Alegre, foi o primeiro livre sepultado.

Em 12 de abril de 1850, Eva, a primeira escrava ali acolhida.

A Câmara a partir desta data impedia qualquer enterro fora da nova necrópole e o Cemitério da Matriz foi fechado.

Irmandade do Arcanjo 
São Miguel e Almas
Cemitério São Miguel e Almas
Em 31 de agosto de 1845, é escolhido o Alto da Azenha para a localização do Cemitério São Miguel e Almas, da Irmandade do Arcanjo S. Miguel e Almas, o terceiro cemitério da capital da Província, propriamente dito, transformando a colina da Azenha em área de necrópoles.

Em 1851, o General Lima e Silva, Presidente da Província, proibiu o sepultamento dentro dos limites urbanos e a partir daí o Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, passou para o Morro da Azenha.

Cortejo fúnebre em direção ao novo cemitério da Santa Casa ao fundo.
Aquarela de Herrmann Rudolf Wendroth, 1852

Nova Epidemia 
Em 1855, uma epidemia assolou a Província do Rio Grande, ocasionou a mortandade de 10% da população de Porto Alegre, principalmente de escravos e setores mais pobres, cujas condições sanitárias eram deploráveis.

- Foram tomadas várias medidas sanitárias, inclusive matança e enterramento de cães vadios.

Cemitério Evangélico
Em 1856, é inaugurado o Cemitério Evangélico de Porto Alegre, foi o primeiro “cemitério-jardim” do estado do Rio Grande do Sul. Possui vegetação de grande porte, por isso denominado também de Cemitério Floresta.

O primeiro sepultamento foi o de João Hahm

- É mantido pela Comunidade Evangélica de Porto Alegre (CEPA) e, apesar de denominação "evangélica", a utilização de sepultamentos é aberta também a todas as demais religiões.

Guerra do Paraguay
Em 1865, tem início o maior conflito do continente a Guerra do Paraguai.

Uma das mais antigas fotografias do cemitério da Santa Casa.
Por volta de 1865, "campo santo" onde se enterravam escravos e indigentes.
Ao fundo os muros da parte onde ficavam os primitivos jazigos de parede

Epidemia de Varíola
Em 1874, ocorreu uma epidemia de varíola na capital. As atas da Câmara Municipal apresentam várias resoluções para combate à epidemia.

- Uma das mais curiosas foi a resolução dos vereadores de queimar alcatrão em volta da cidade, para desinfetar o ar.

Superlotação da Matriz
Em 1880, porém, a principal necrópole da época foi o Cemitério da Igreja da Matriz, chegaria superlotada.

Em 1880, o Cemitério da Santa Casa contava com mais de 30 mil sepultamentos, sendo 6.723 de escravos e 23.577 de livres.

- O deslocamento até a colina era feito por tração animal, motivo de queixas constantes devido ao péssimo estado das estradas, além do aclive da Azenha, que chegou a dificultar as obras do Cemitério.

Altos da Azenha, já com trilhos do bonde

Carris e os Coches Fúnebres
Em 1880, a Companhia Carris começou a conduzir os ‘coches fúnebres’, que ficavam abrigados no depósito nos campos da Redempção.

Em 1881, iniciou-se a construção do atual muro para delimitar a área no alto da Colina da Azenha.

A Separação
Até 1884, este foi o procedimento para o sepultamento em Porto Alegre:

- Os homens e mulheres livres eram sepultados no interior do Cemitério e os homens e mulheres escravos, fora de seus muros.

No mesmo ano, muda o procedimento:

- Quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, ‘todos os falecidos’ da Capital gaúcha passaram a ser “enterrados na parte interna da necrópole”.

Cemitério do Belém Velho
No século XIX, é fundado o Cemitério Belém Velho, no arraial do Belém Velho.

Cemitério São José
Em 1888, tem início o Cemitério São José I, da comunidade alemã católica, no Alto da Azenha.

A partir de 1889, segundo os Relatórios da Santa Casa, diversas irmandades passaram a se encarregar dos traslados até a região.

Em 1893, o Cemitério da Santa Casa já continha 43 anos de existência e 50 mil mortos, forçando a ampliação do terreno.

- Os surtos de cólera, tuberculose, febre tifóide, moléstias intestinais e afecções cardíacas determinaram o aumento dos índices de ocupação da necrópole.

Um enterro na Rua Duque de Caxias em 1898
Naquela época as pessoas falecidas eram veladas em suas residencias e na hora do enterro, chegava o carro fúnebre da Santa Casa

Durante o século XIX, a necrópole da Santa Casa acolheu a expansão urbana da Capital gaúcha.

Século XX

Colina Melancólica
Várias necrópoles estão instaladas nesta colina, nos Altos da Azenha.

No decorrer do século XX, a população de Porto Alegre cresceu vertiginosamente, propiciando o surgimento de outros cemitérios na cidade.

Carro fúnebre puxado a cavalos

Em 1907, o espaço contava com 36,9 mil m² dos 104 mil m² atuais.

- O Cemitério da Santa Casa centralizou, por muitos anos, os sepultamentos dos mortos da cidade, inclusive os dos irmãos de São Miguel e Almas e de Santa Bárbara, os da Sociedade Alemã e da Beneficência Portuguesa, que adquiriram para suas irmandades quadros dentro da necrópole.

- A Irmandade São Miguel e Almas, ao comprar a sua propriedade, e a Irmandade Santa Bárbara, ao se extinguir, destinaram seus quadros à Santa Casa.

Cemitério São Miguel e Almas
Em 1908, em obras no Cemitério da Irmandade São Miguel e Almas. A referida Irmandade se desvinculou do Cemitério da Santa Casa.

- Foi instalado no lado oposto da estrada da Cascata. O cemitério foi projetado pelo engenheiro italiano Armando Boni.

Nota:
- O local do cemitério e o da primeira batalha entre revolucionários e legalistas na Guerra dos Farrapos, com vitória dos farroupilhas comandados por José Gomes de Vasconcellos Jardim e Onofre Pires da Silveira Canto.

Em 14 de maio de 1909, realizou-se o primeiro sepultamento no novo Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, assim os restos mortais do Sr. Manoel da Silva Braga, ainda permanecem na sepultura 0001.


Suas instalações do Morro da Azenha são modelares e isto fez com que o Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas ficassem conhecidas mundialmente, tornando-se hoje um dos melhores da América do Sul, sendo considerado como destaque turístico da capital do estado.

Em 1915, ampliação do Cemitério Evangélico, chamado a segunda parte de Cemitério São José II.

Carros Fúnebres

Em 1926, a Santa Casa adquiriu “carros fúnebres” para remoção de adultos, virgens e crianças, além de um veículo para o transporte de coroas.


- Outros também prestavam este serviço, como um caminhão com quatro lugares para indigentes, apelidado pelos populares de “Maria Crioula”.

Em 1931, ampliação do Cemitério São Miguel e Almas. Inauguração da primeira parte das galerias com catacumbas. Projeto de Armando Boni.

Cemitério Vertical

- Com o crescimento urbano, a cidade envolveu totalmente a chamada região dos cemitérios. Como a área para a sua ocupação era um morro, portanto um terreno acidentado que dificultaria o sepultamento no solo, foi desenvolvido um projeto pioneiro com a utilização de catacumbas dispostas em diversas galerias e pavimentos sustentados por colunas permitindo, desta forma, um melhor aproveitamento do terreno.

- O Cemitério da Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas foi o primeiro “cemitério vertical” da América Latina e reúne centenas de obras de arte produzidas entre 1820 e 1940, criadas por artistas europeus e locais, que podem ser observadas nos túmulos de personagens anônimos ou de destaque.

Enterro Pobre
- O Cemitério da Santa Casa foi, por muito tempo, o único de Porto Alegre a realizar o “enterro do pobre” no seu Campo Santo.

A partir de 1934, a Instituição passou a contar com a parceria da União Pelotense São Francisco de Paula, fundada por um grupo de mulheres da sociedade pelotense radicadas em Porto Alegre.

- A associação filantrópica, conhecida como “Enterro do Pobre”, encarregava-se do fornecimento de caixões para os necessitados.

Cemitério São João

Em 1936, é fundado o Cemitério São João numa área de aproximadamente 9,5 hectares, possui cerca de doze mil jazigos (temporários e perpétuos), além de cinco capelas para velório, no Passo d’Areia, distante do bairro Azenha.

Grande Metrópole

Em 1940, a cidade de Porto Alegre assume seu caráter de centro administrativo, comercial, industrial e financeiro do Estado do Rio Grande do Sul.

Carro fúnebre branco para crianças e virgens, 1946

Novos Cemitérios

A partir de 1945, as Irmandades receberam da Santa Casa duas galerias de catacumbas intituladas com seus nomes, como forma de homenagem.

- Cemitério Batista,
- Cemitério Espanhol,
- Cemitério União Israelita
- União Israelita¸ o Cemitério União Israelita Porto Alegrense é mantido pela União Israelita Porto Alegrense, cuja sinagoga foi fundada em 1910.

Na década de 1960, os automóveis de serviços fúnebres, “Maria Crioula” foram desativados.

Em 27 de abril de 1972, o Cemitério Ecumênico João XXIII foi inaugurado em ato público.

- O cemitério ocupa o antigo terreno do Esporte Clube Cruzeiro.

Em 1992, o Cemitério Belém Velho foi encampado pela prefeitura, em razão de denúncias de irregularidade. Com uma área de 2 hectares, possui cerca de mil jazigos. Não há previsão para a construção de mais jazigos.

Desde 16 de março de 1993, o Cemitério Ecumênico João XXIII é mantido e administrado pela Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul.

Cemitérios de Porto Alegre
Cemitério da Santa Casa
Av. Prof. Oscar Pereira 423 – Azenha



- O Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, inaugurado em 1850 e o mais antigo em atividade no Sul do Brasil, conserva em seus 10,4 hectares muito da história da Capital gaúcha e do próprio Rio Grande do Sul.

- Fundado em abril de 1850, é o cemitério mais antigo do estado do Rio Grande do Sul ainda em atividade. Possui cerca de quarenta mil jazigos, além de seis capelas para velório. Reunindo belas esculturas em bronze, mármore, ferro e pedra; algumas foram assinadas por escultores conhecidos, tal como André Arjonas.

- Atualmente o cemitério possui onze hectares de área, contado com as galerias para os sepultamentos em gavetas; área nobre para os jazigos e monumentos funerários; local para os sepultamentos comuns e para indigentes. Ele reúne um belo e rico acervo de monumentos com esculturas de mármore, de granito e de bronze, realizados por marmoristas e escultores locais e de demais partes do Brasil.
Vê-se a forte influência da arte funerária européia na ala histórica do cemitério.

Pessoas Famosas Enterradas:
Plácido de Castro (1873-1908), líder da Revolução Acriana
Teixeirinha (1927-1985), cantor e compositor
Júlio de Castilhos (1860-1903), político e jornalista
Iberê Camargo (1914-1994), artista plástico
José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915), político
Lila Ripoll (1905-1967), poetisa
Conde de Porto Alegre (1804-1875)
Segundo Visconde de Pelotas (1824-1893)
Barão de Nonoai (1829-1897)
Barão de Guaíba (1813-1902)
Barão de Gravataí (1797-1853)
Barão de Camaquã (1822-1893)

Cemitério São José I
Av. Prof. Oscar Pereira,      - Azenha

- O Cemitério São José está situado entre três outros cemitérios: - Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, o Cemitério São Miguel e Almas e o Cemitério Israelita.
Próximo também está o prédio do Crematório Metropolitano São José.

- Infelizmente nos últimos anos a direção do Cemitério São José está transformando um antigo campo repleto de obras de arte funerária com inestimável valor histórico num estacionamento para o crematório.

- O total descaso com a preservação de um bem histórico é justificado com omissas e por incompetência de uma entidade que pelo seu longo histórico, deveria preservar as obras ali contidas.

Personalidades Enterradas:
Alberto Bins (1859-1967), industrial e ex-prefeito de Porto Alegre;

Cemitério São José II
Av. Prof. Oscar Pereira, 584 – Azenha


Roteiro Positivista
O positivismo é um sistema de ideias concebido pelo francês Augusto Comte no século XIX. Sua difusão se deu em diversos âmbitos: político, cultural e intelectual. Atingiu ainda diferentes disciplinas, como Economia, Religião, Filosofia, Medicina, História, Geografia, Literatura e Arquitetura. O positivismo religioso foi também uma de suas vertentes. Porto Alegre, inclusive, possui, na Avenida João Pessoa, próximo a Avenida Venâncio Aires, um dos raros templos positivistas existentes no Brasil.

No Rio Grande do Sul, na virada do século XIX para o XX, o positivismo ganhou repercussão, sobretudo entre os partidários do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Júlio de Castilhos retirou do comtismo ideias para a formulação política de funcionamento do estado, que foi assimilada por Borges de Medeiros e seus seguidores. A identidade da República Velha Gaúcha no Estado se confunde com o “positivismo castilho-borgista”, um fenômeno histórico que esteve presente até a década de 1920, e que serviu para frear dissidências, mas também animar conflitos, como as revoluções de 1893 e de 1923. O Cemitério da Santa Casa é o único da cidade que reúne exemplares de mausoléus e túmulos que expressam na escultura, arquitetura e em epitáfios a presença positivista, eternizando, através da memória, o vigor dessa doutrina na sociedade gaúcha.

No roteiro inclui:
01. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 04, 1° quadro (direita), feito por Casa Aloys.
(Otávio Francisco da Rocha, militar, engenheiro, educador, político e jornalista.)
02. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro (direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot é patrono da Brigada Militar.)
03. José Montaury (1858-1939) - Túmulo 90, 1° quadro (direita). (José Montaury de Aguiar Leitão - engenheiro e político.)
04. Borges de Medeiros (1863-1961) - Túmulo 316, 1° quadro (direita) emprestado da Família Sinval Saldanha, seu genro. (Antônio Augusto Borges de Medeiros, advogado e político.)
05. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e político.)
06. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
07. Barros Cassal (1858-1903) - Túmulo 296, 4° quadro (direita). (João de Barros Cassal, jornalista e político.)
08. Ramiro Barcelos (1851-1916) - Túmulo 1169, 5° quadro (esquerda). (Ramiro Fortes de Barcelos, político, escritor, jornalista e médico na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.)
09. Frederico Westphalen (1876-1942) - Túmulo 649, 3° quadro (esquerda) (Engenheiro e político.)
10. Protásio Alves (1858-1933) - Túmulo, 3° quadro. (Protásio Antônio Alves, médico e político.)

Roteiro Político
A história política do Rio Grande do Sul é rica e singular. Esse é o olhar e o entendimento, inclusive, dos que abordam, pesquisam e estudam a trajetória das relações de poder no Brasil. A política gaúcha é reconhecida por suas especificidades e peculiaridades, que a distingue das trajetórias de outros estados. A bipolaridade e o confronto entre os grupos opositores fizeram do espaço regional, ao longo do século XIX e das primeiras décadas do XX, sobretudo, um animado palco de cisões, de guerras e conflitos militares.

Situados como conservadores ou liberais, no Império, e pica-paus ou maragatos, depois chimangos ou maragatos, na República, representações de suas lideranças se encontram no Cemitério da Santa Casa, cujos exemplos tumulares ilustram a configuração do cenário político da cidade e do Estado.

No roteiro inclui:
01. Félix da Cunha (1833-1865) - Panteão. (Félix Xavier da Cunha, poeta, advogado, jornalista, escritor e político.)
02. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 4, 1° quadro (direita), feito pela Casa Aloys. (Otávio Francisco da Rocha, militar, engenheiro, educador, político e jornalista.)
03. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro (direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot, patrono da Brigada Militar.)
04. Borges de Medeiros (1863-1961) - Túmulo 316, 1° quadro (direita) emprestado da Família Sinval Saldanha, seu genro. (Antônio Augusto Borges de Medeiros, advogado e político.)
05. Maurício Cardoso (1888-1938) - Mausoléu 118, 1° quadro (direita), escultor Caringi. (Joaquim Maurício Cardoso, advogado e político.)
06. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e político.)
07. Coronel Bordini (1810-1884) - Mausoléu 5, corredor central (esquerda). (João Carlos Augusto Bordini, militar, banqueiro e político.)
08. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
09. Plácido de Castro (1873-1908) - Túmulo 591, corredor central (esquerda). (José Plácido de Castro, político e militar.)
10. Protásio Alves (1858-1933) - Túmulo, 3° quadro. (Protásio Antônio Alves, médico e político.)
11. Firmino Paim Filho (1884-1971) - Túmulo, 3° quadro. (Firmino Paim Filho, advogado, banqueiro, fazendeiro, industrial e político.)


Roteiro Civico-celebrativo
A história celebrativa evoca personagens como figuras representativas de um lugar. A eles é dada a responsabilidade por grandes feitos, obras e ações que os destacam no imaginário social. Alguns estão preservados na memória como patronos de instituições ou nomes de ruas. Outros estão relacionados a datas que o calendário registra por seu significado ou são recordados em feriados. 

Com a morte, emerge a exaltação e seus túmulos se transformaram em espaços de celebração. Para as novas gerações, os signos de representação inscritos, esculpidos ou arquitetados em seus túmulos se revelam como lições e testemunho de reconhecimento.

No Cemitério da Santa Casa, encontram-se importantes exemplos de uma história-celebração, marcas da identidade que formou o Rio Grande do Sul, estado delineado pelas especificidades de seu passado. A necrópole reúne nomes de relevância política e militar da Capital gaúcha e do Rio Grande do Sul.

No roteiro inclui:
01. Otávio Rocha (1877-1928) - Túmulo 4, 1° quadro (direita), feito por Casa Aloys. (Otávio Francisco da Rocha, militar, engenheiro, educador, político e jornalista.)
02. Emílio Massot (1865-1925) - Túmulo 14, 1° quadro (direita), feito por A Graniteira Piatelli e irmão. (Affonso Emílio Massot, patrono da Brigada Militar.)
03. Maurício Cardoso (1888-1938) - Mausoléu 118, 1° quadro (direita), escultor Caringi. (Joaquim Maurício Cardoso, advogado e político.)
04. Francisco de Paula Brochado da Rocha (1910-1962) - Jazigo perpétuo, 257 a 269, 1° quadro (esquerda). (Advogado, professor e político.)
05. Júlio de Castilhos (1860-1903) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (Júlio Prates de Castilhos, jornalista e político.)
06. Coronel Bordini (1810-1884) - Mausoléu 5, corredor central (esquerda). (João Carlos Augusto Bordini, militar, banqueiro e político.)
07. Pinheiro Machado (1851-1915) - Mausoléu, corredor central (esquerda). (José Gomes Pinheiro, advogado e político.)
08. Plácido de Castro (1873-1908) - Túmulo 591, corredor central (esquerda). (José Plácido de Castro, político e militar.)
09. Daltro Filho (1882-1938) - Mausoléu, corredor central (esquerda) (Manuel de Cerqueira Daltro Filho, militar e político.)

História Social
Toda a sociedade que se apresenta na história está alicerçada por uma ordem social. A expressão das diferenças e das contradições entre seus grupos e classes é evidente pelas condições materiais de que são portadoras. Essa realidade é reapresentada no espaço cemiterial. Ele se constitui em cenário portador de referências e explicações das relações humanas e do funcionamento da sociedade, pois, afinal, o cemitério reproduz o fenômeno social e seu movimento.

Na verdade, é visível neste lugar as condições de vida dos que nele estão sepultados. E o Cemitério da Santa Casa traduz com realismo a trajetória da sociedade porto-alegrense e dos que vindos de outras comunidades, nele encontraram acolhimento. Mais ainda, ricas e multifacetadas histórias podem ser aprendidas em seu espaço, desde o contato com os primeiros quadros, ricamente adornados, até o Campo Santo, marcado pela simplicidade e total despojamento. Da história social observada, é notório que o Cemitério da Santa Casa acolhe a todos, indistintamente, se impondo no espectro da cidade como um dos seus espaços mais democráticos e portador de cidadania.

No roteiro inclui:
01. Ismael Chaves Barcelos - Túmulo 124 a 126, 1° quadro (direita). (Fazendeiro, industriário.)
02. João Leite Filho - Mausoléu 134, 1° quadro (direita). (Fazendeiro e capitalista.)
03. Família Difini - Mausoléu 10, corredor central (direita), feito pelo artista José Floriani Filho. (Expoentes da colônia italiana em Porto Alegre. Joaquim Difini, presidente do Sport Club Internacional.)
04. Luiz Leseigneuer (sem data) - Mausoléu 9, corredor central (esquerda), feito pela Casa Aloys.(Engenheiro.)
05. Eduardo Secco ( -1939) - Mausoléu 6, corredor central (direita), feito pela Casa Aloys. (Comerciante.)
06. Mostardeiro (1831-1893) - Mausoléu, corredor central. Antônio José Gonçalves Mostardeiro, comerciante.
Dona Laura (1835-1906). Laura Rasteiro Mostardeiro (sem data)
07. João Ferreira Porto ( -1883) - Mausoléu, corredor central. (Comerciante.)
08. Vereador Porto (1807-1881) - Túmulo 30, 2°quadro (direita). (José Ferreira Porto, comerciante.)
09. Barão do Cahy (1817-1884) - Túmulo 12, corredor central (direita). (Francisco Ferreira Porto, comerciante.)
10. Conde de Porto Alegre (1804-1875) - Mausoléu, corredor central. (Manuel Marques de Sousa, nobre e militar.)
11. Visconde de Pelotas (1824-1893) - Capela 5, 3° quadro. (Segundo Visconde - José Antônio Correia da Câmara, militar e político.)
12. Família Rocco Irace - Túmulo, corredor central, feito pela Casa Floriano. (Comerciantes.)
13. Barão de Nonoai (1828 -1897) - Túmulo 758, 4° quadro. (João Pereira de Almeida, nobre e militar.)
14. Barão do Gravataí (1797-1853) - Túmulo, corredor central. (João Baptista da Silva Pereira, militar.)
15. Baronesa do Gravataí (1802-1888) (Maria Emília de Menezes.)
16. Barão do Guaíba (1813-1902) - Capela 34, 4° quadro. (Segundo Barão de Guaíba, Manuel José de Campos- médico e político.)
17. Barão de São Borja (1816-1877) - Túmulo, 4° quadro. (Vitorino José Carneiro Monteiro, militar e nobre.)

18. Barão de Camaquã (1822 -1893) - Túmulo 718, 4° quadro. (Salustiano Jerônimo dos Reis, militar e nobre.)

Cemitério Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas
Av. Prof. Oscar Pereira, 400 – Santo Antonio



- O Cemitério Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, situado na Avenida Oscar Pereira, possui o número de pessoas enterradas, 75 mil.


Funcionamento 24h.
Obs.: O horário de visita as galerias é das 08h às 18h.
Telefone Central: 51 30218350
Serviços e Estrutura Disponíveis:
Atendimento ao Cliente 24h;
Lancheria com Self Service 24hs;
Segurança e Monitoramento 24h;
Amplo estacionamento (Administrado pela Empresa Moving | VINCI Park);
Área Protegida Unimed 24H;
Ambiente monitorado por Câmeras;
Igreja para missas de corpo presente (Mediante disponibilidade);
Diversas Capelas;
Capela de cerimoniais (Com serviços de áudio e imagem, bem como visualização de cerimônia via internet a disposição dos clientes – verificar disponibilidade);
Missa aberta ao público todos os Domingos às 9h e toda a primeira Sexta-feira do mês às 16h30min;
Serviço de encomendação de Almas;
Sepultamentos;
Serviço de Cremação;
Velário
Provedoria Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas
Rua Jerônimo Coelho,102 – Loja Térreo, Centro Histórico, Porto Alegre – RS.
Funcionamento: 08h30min às 12h e das 13h às 17h30min.
Telefone Central: 51 32876400.
Serviços e Estrutura:
Atendimento ao Cliente;
Recebimento de pagamento de Anuidades, Taxas de Conservação e Perpetuidades;
Secretaria e Provedoria da Irmandade;


Provedoria da Irmandade São Miguel e Almas
R.Jeronimo Coelho, 102, Térreo Centro Histórico - Porto Alegre
Telefone: (51) 3287.6400

Pessoas Famosas Enterradas:
Aldo Locatelli, artista plástico;
Caio Fernando Abreu, escritor e jornalista (transferido para o Cemitério Ecumênico João XXIII);
Érico Veríssimo, escritor;
Ildo Meneghetti, ex-governador do Rio Grande do Sul;
Lupicínio Rodrigues, cantor;
Mário Quintana, poeta;
Tatata Pimentel, jornalista e apresentador de televisão.

Cemitério da Primeira Igreja Batista em Porto Alegre
Avenida Porto Alegre, 408 – Azenha



- No Cemitério da Igreja Batista, os corpos sepultados não ultrapassam os 50 anos. Isso mostra que nem sempre os netos das pessoas enterradas continuam contribuindo com o aluguel dos túmulos dos seus avós. 

Cemitério Ecumênico João XXIII
Av. Natal, 60 – Azenha




- Cemitério Ecumênico João XXIII, foi fundado no dia 27 de abril de 1972.
Hoje, o empreendimento faz parte da história da capital.
A obra, impregnada do espírito do ecumenismo, foi erguida no terreno onde se localizava a Colina Melancólica (antigo estúdio do Esporte Clube Cruzeiro) a partir de 1971, a fim de atender uma grande carência de Porto Alegre para servir aos adeptos de todas as crenças e religiões. Desde essa época, houve consciência da seriedade e pioneirismo do trabalho. Para assegurar a perenidade da Necrópole, foram destinados importantes recursos à sua manutenção permanente.

- O João XXIII é referência internacional na construção de cemitérios verticais, tendo a distinção de ser a maior Necrópole em concreto armado do mundo. Foi uma longa jornada, que ainda não acabou. Continua fazendo parte do respeito à memória dos porto-alegrenses.

Pessoas Famosas Enterradas:
Everaldo Marques da Silva (1944-1974), futebolista;
José Lewgoy (1920-2003), ator;      
Jorge Camargo (1955-1988), músico;

Cemitério Evangélico Comunidade Evangélica de Porto Alegre
Rua Guilherme Schell, 467 – Santo Antonio

- Fundado em 1856, o Cemitério Evangélico de Porto Alegre, foi o primeiro Cemitério-Jardim do estado.

- Sua utilização para sepultamentos é aberta à todas as denominações religiosas.

Cemitério União Israelita Porto Alegrense
Av. Prof. Oscar Pereira, 1175 – Azenha


- É um dos três cemitérios judaicos localizados no estado do Rio Grande do Sul.

Pessoas famosas enterradas:
Salomon Smolianoff (1897-1976), falsificador e sobrevivente do Holocausto;

Cemitério Luterano
Av. Prof. Oscar Pereira,    - Azenha


Pessoas Famosas Enterradas:
Iara Bauer Pires (1944-2015), Mãe, cantora, artista plástica, artesã;

Cemitério Espagnol
Avenida Porto Alegre,     - Azenha




A área com o menor número de jazigos é o Cemitério Espanhol, situado no bairro Medianeira, com apenas 492 sepulturas e desativado desde dezembro de 2000.

Demais Bairros:
Cemitério Municipal São João
Rua Ari Marinho, 297 – São João


- Localizado no bairro Higienópolis, o maior cemitério municipal de Porto Alegre iniciou suas atividades em agosto de 1936. Ocupando uma área de 5 hectares, conta com cerca de 12.600 jazigos entre perpétuos e arrendados.

Cemitério da Tristeza
Está situado na Rua Liberal, n.° 19, no bairro Ipanema.


- Antigamente chamado "Cemitério da Cavalhada", foi municipalizado em 1954, é um dos três cemitérios municipais de Porto Alegre e possui cerca de 600 jazigos, a maioria perpetuados, e realiza sepultamentos apenas para famílias que possuam jazigos construídos.

Cemitério Vila Nova da Sociedade Beneficente Nossa Senhora do Belém
Estrada F. O. Vieira, 966 – Belém Velho


- Fundado em 1922, onde se encontram os túmulos dos fundadores da antiga Villa Nova D’Itália.

Cemitério Parque Jardim da Paz
Estrada J. O. Remião, 1347 – Agronomia



- Um cemitério com um formato diferenciado, um grande jardim padronizado, onde sobre a grama fica uma placa de identificação. Sempre aos dias de finados, é feita a famosa chuva de pétalas de rosa jogadas de helicóptero sobre o cemitério.

- Com mais de 40 mil pessoas enterradas, o cemitério Jardim da Paz, na Lomba do Pinheiro, tem o maior número de vagas disponíveis, tantas que administração não sabe precisar. 

Cemitério de Belém Velho
Rua Nossa Senhora do Rosário, n.° 5025, no bairro Belém Velho.


- Localizado no bairro Belém Velho, foi implantado no século XIX, sendo encampado em 1992 pela prefeitura em razão de denúncias de irregularidades.

- Com uma área de aproximadamente dois hectares, possui 1.026 jazigos. O cemitério não tem capacidade para a para construção de novos jazigos.

- O Cemitério Belém Velho é um dos três cemitérios municipais de Porto Alegre.

Cemitério de Belém Novo



- No Cemitério Belém Novo se vê a lápide bem na entrada do cemitério de Inácio Antonio da Silva, que doou as terras para a construção do próprio cemitério.


- Administrado pela Sociedade Beneficente Nossa Senhora do Belém.

Século XXI

Crematório Metropolitano São José
Av. Prof. Oscar Pereira, 584 – Santo Antônio

- Em operação desde abril de 2002, o Crematório Metropolitano São José disponibilizou, a partir de julho de 2003, a mais moderna estrutura de atendimento e serviços do Brasil em cremação, sepultamentos e capelas para velório.

- Trata-se de um empreendimento totalmente diferenciado e com padrão superior de serviços, contando com capelas especialmente decoradas, climatização, circuito interno de TV com monitores para informações sobre capelas e horários das cerimônias, câmeras para transmissão de cerimônias on-line pela Internet, sistema de sonorização ambiente, vigilância permanente através de diversas câmeras localizadas em pontos estratégicos, estacionamento próprio e cafeteria com vista panorâmica para a cidade de Porto Alegre.

Arte

Arte Cemiterial
Arte Funerária

- Cemitérios são museus ao ar livre, ali estão obras de grandes artistas, mas também peças de anônimos. Algumas vieram da Europa, outras confeccionadas por artistas locais.

- O Cemitério da Santa Casa representa um verdadeiro museu ao ar livre, com mais de trezentas estátuas de valor significativo e que, segundo Bellomo (1988), podem ser classificadas em três grupos: tipologia cristã, com seus anjos, santos, crucifixos e pietás; tipologia alegórica, com representações de sentimentos (desespero, dor, consolo) e princípios religiosos (fé, coragem, esperança); e, finalmente, tipologia cívico-celebrativa, enaltecendo-se personagens do mundo político.

A arte dos cemitérios porto-alegrenses se caracteriza por estátuas, que guardam os túmulos, formando um verdadeiro museu ao ar livre. Atualmente existem cerca de 300 unidades.
Foram esculpidas, entre os anos de 1900 a 1940, por italianos, alemães e espanhóis, época da grande expansão econômica da cidade quando a beleza dos túmulos era sinal de status.
Mesmo assim, todos os cemitérios de Porto Alegre possuem monumentos em sua Arte Cemiterial, de menor ou maior valor.
As figuras ornamentais simbolizam a fé, a esperança, a caridade, a justiça divina, o juízo final, a ressurreição, e os sentimentos humanos diante da morte.

- No Brasil Colônia era tradição enterrar os mortos nas igrejas, o mais modestamente possível.
A Morte era vista com uma perspectiva de humildade, de simplicidade e despojamento, a grande niveladora dos seres humanos. Portanto, os túmulos de nossas igrejas eram basicamente semelhantes, quando muito com uma inscrição diferencial na lápide.

- No século XIX começaram a aparecer os primeiros túmulos mais significativos, no Rio de Janeiro. No mosteiro de Santo Antônio e no da Ajuda, os túmulos da Família Real são os primeiros “monumentais” para a época, embora bastante modestos, se comparados com o que temos hoje em dia em Porto Alegre.

- A aristocracia de Porto Alegre, foi muito mais modesta, nos túmulos que a burguesia que a substituiu como classe social. No período aristocrático os túmulos são bastante simples.
Nossos “barões, condes e viscondes” do IIº Reinado (1841-1889), são enterrados no Cemitério da Santa Casa.

- Os túmulos da aristocracia são bastante simples, singelos, sendo que alguns, como:
Túmulo do barão de Camaquam, no Cemitério da Santa Casa é quase de um indigente.
Túmulo do conde de Porto Alegre, está enterrado em um mausoléu bastante modesto, apenas com o brasão indicando sua classe social.
Mausoléu da Família do barão de Guaíba é de grande simplicidade, com inscrição dizendo que ai estão enterrados o Barão e a Baronesa.
Parece que a aristocracia tinha consciência tão profunda de sua importância e seu realce, que não precisou reforçar seu status através de túmulos monumentais. Colocar brasão lhes parecia ser suficiente.

 - Os primeiros grandes túmulos aparecem no momento em que a burguesia começa a ficar triunfante: - os comerciantes primeiro e depois os industriais e banqueiros, que parecem ter necessidade de realçar seu status “por mortem”, desaparecendo a idéia anterior, de que a Morte é niveladora.
A burguesia está nos mausoléus, nos grandes monumentos funerários;
A classe média, nas catacumbas de parede;
Os pobres, no chão, sem lápide;
Sendo que os muito pobres acabam empilhados no ossário.
Assim, as classes sociais se definem após a morte.

- Desde a virada do século vinha se propagando entre as elites gaúchas o hábito de encomendar figuras ornamentais para os jazigos familiares.
A maior parte delas simbolizava conceitos religiosos como a Fé, Esperança, Caridade, Justiça Divina, Juízo Final e Ressurreição. Alguns correspondiam a sentimentos humanos diante da morte, como a Dor consolando-se na , a Resignação, à Saudade e o Luto. Outros biografavam aspectos da vida do morto como suas virtudes, suas atividades e preferências.
Inicialmente a maior partes destas figuras eram importadas da Europa.

- O apogeu da arte funerária em Porto Alegre aconteceu entre 1900 e 1940, período de expansão industrial, comercial e econômica da cidade e do apogeu do governo positivista de Júlio de Castilhos, também denominado ditadura científica positivista.

- Fazia parte do pensamento do governo positivista desta época o patrocínio de monumentos públicos e jazigos monumentais, entre os quais se podem citar os monumentos funerários de Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado e Otávio Rocha. Em geral, essas sepulturas foram financiadas pelo governo estadual, por corporações e entidades empresariais.

- Na primeira metade do século, era usual que, em torno destes mausoléus, existisse um verdadeiro culto cívico.

- Só após a Primeira Guerra Mundial cresceram as encomendas de esculturas aos artistas aqui domiciliados.
Após a Guerra declinou o costume social de ornamentar profusamente fachadas dos prédios, para compensar essa perda, outras possibilidades se abriram no campo de trabalho dos escultores, sendo uma delas a ornamentação de mausoléus para os vários artistas estrangeiros “escultores” que chegaram a Porto Alegre desde o início do século XX e que muito colaboram na arte funerária:

- Entre os primeiros escultores que se estabeleceram no Estado com oficinas de esculturas, estiveram os Friederichs, família alemã de destaque na escultura funerária:
- Miguel Friederichs (1884) imigrante alemão, fundou sua oficina no Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria).

- Jacob Aloys Friederichs (1891) o alemão de Merl, da região do Mosela, irmão de Miguel, fundou sua oficina de esculturas “Marmor und Steinmetzwerkstatt” (marmoraria e cantaria) no Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria), nº 197 A-B, próximo a oficina de seu irmão de Miguel (1884), no local da atual Galeria Santa Catarina (2011).
No térreo a loja e nos fundos o escritório, no andar superior a residência, no subsolo a adega e a cantaria.
A firma produtora de lápides e estatuária fúnebre, com sede na Rua Voluntários da Pátria, mais tarde transferida para a Rua Oscar Pereira.
Aloys produziu até 1950. Falecido, a viúva manteve a firma por mais algum tempo.
Congregou, ele quase todos os escultores, mesmo os oriundos da Argentina e Uruguai, e teve encomendas de todo o Estado.
Trabalhava mármore de Carrara, além de trabalhos em bronze e pedra grés.
Oficina que grandes serviços prestou para embelezamento das residências porto-alegrenses e da arte cemiterial.
Túmulo de Karl von Koseritz, no Cemitério Evangélico.

- Alguns dos colaboradores dos Friederichs trabalhavam para outras firmas como:
- Lonardi Teixeira, que em (1994) seus netos ainda trabalhavam no ramo.

- José Floriani,

- Irmãos Piotelli,

- Irmãos De Angeli, as três últimas ainda em funcionamento (1994).

- Em 1900, João Vicente Friederichs (1900), filho de Aloys, seguindo a tradição da família, estudou na Europa onde adquiriu sólida formação e certamente teria sido um grande nome da “escultura gaúcha” se seu espírito empresarial não tivesse falado mais alto, abrindo seu Atelier de Esculturas.
Começa em Porto Alegre um “boom imobiliário” e João Vicente passou a contratar escultores para executar as encomendas que recebia do engenheiro Rodolph Ahrons e outros arquitetos e engenheiros.
Em 1902 foi contratado Frederico Pallarin, formado em Milão, Veneza e Roma, e com exitosa passagem por Buenos Aires.
Em 1906, chegou Luiz Sanguin, diplomado em Pádua e Veneza. Quando o surto imobiliário se intensificou.
A partir de 1910, João Vicente saia em busca de mais escultores. Foi quando contratou o austríaco Wenzel Forbeger e o berlinense Alfredo Staege e o espanhol Jesus Maria Corona Alonso.
Em 1931, a falência de João Vicente Friederichs, devido a crise mundial (1929).

- Em 1910, chega a Porto Alegre o escultor e modelador excepcional Giuseppe Gaudenzi, produziu obras notáveis no Estado.
Na década de 1920, já era um homem muito ocupado foi professor da Escola Técnica Profissional e gerente da Oficina de Vicente Friederichs.

- Em 1913, para melhorar ainda mais seu quadro de colaboradores, João Vicente Friederichs contratou o alemão Alfred Hubert Adloff, alemão de Dusseldorf o mais técnico e completo estatuário que por aqui operou, estatutário premiado na Europa, trabalhou em Berlim, Bruxelas e na Itália, de volta a Alemanha na Fabrica de cutelaria e baixelas Griessen e Essen apurou sua técnica de modelar em relevo. Foi o que mais realismo imprimiu as figuras funerárias permeado de uma possante sensualidade.
Túmulo de Júlia Barbosa Friederichs, um de seus primeiros trabalhos funerários em Porto Alegre, a figura da mulher ajoelhada e com o glúteo apoiado nos calcanhares, uma posição de difícil execução.
Túmulo do Professor Pereira Parobé, a capela funerária com relevos inspirados no Altar da Pátria, em Roma. O painel do lado direito é evocativo do Amor Pátrio, o qual simboliza com figuras da mitologia grega, as Três Graça, Atenas e Mikéia. O painel do lado esquerdo é alusivo ao Trabalho, onde revelou sua enorme facilidade com a animalística, o que não era comum. O mausoléu de Pereira Parobé ilustra a ideologia Positivista que exalta o patriotismo e o trabalho como virtudes superiores.
Túmulo de Boaventura dos Reis, e a figura do Cristo, onde aos pés lê-se Gavanoplastia Friederichs, na qual era o escultor principal.

- A Oficina Gaudenzi e Adloff (1923-1928) de Alfred Adloff e Giuseppe Gaudenzi, que por quatro ou cinco anos estiveram associados, seus projetos atestam uma perfeita adequação entre o cálculo mercantil e a preocupação artística.
Gaudenzi bem relacionado e perfeitamente integrado na sociedade gaúcha seria o responsável pela parte comercial e eventualmente, elaborador de concepções dos trabalhos.
Adloff, mais arredio e falando mal o português devido à sua deficiência auditiva, seria o responsável pela oficina.
A arte funerária gaúcha, na década de 1920 foi uma das mais fecundas e criativas, e os méritos disto em grande parte são derivados desta associação.
Túmulo Dr. José Carlos Ferreira, as figuras a Dor e a Consolação, baseados numa obra italiana (entrevista Harry Bellomo, 1987) o homem é que chora, simbolizando a Dor a mulher é que conforta, representando a Consolação.
Túmulo da Família Schramm, trata-se do Cristo no Horto (depoimento Ângelo Piatelli, 1992).

- Da firma Gaudenzi e Adloff saíram também diversos monumentos:
Busto de Apolinário Porto Alegre (1925), de autoria de Adloff, os traços faciais são fortemente marcados e conferem ao retrato uma expressão de tristonha introspecção.

- A temática cristã foi um dos mais executados em nossos cemitérios. Os motivos mais representados foram quatro: - a Deposição (Pietás), a Ressurreição, o Coração de Jesus e o Cristo da Salvação (Bom Pastor, Cristo recebendo o morto, Cristo Redentor, etc.).

Alfred Adloff imprimiu a figura do Cristo um realismo quase sacrílego.
Mausoléu da Família Morejano, aparece o Cristo da Ressurreição, pode ter sido executado por Adloff ou Gaudanzi.
Jazigo da Família Risch, a figura simboliza a Saudade, do Atelier Gaudenzi e Adloff.
Mausoléu da Família Sampaio, figura a Saudade foi representada buscando consolação na Fé, na cruz sobre a qual se debruça, do Atelier Gaudenzi e Adloff, a possante sensualidade mais uma vez está presente. De costas para o observador, as figuras exibem sua exuberante plástica calipígia (belas nádegas) através da transparência dos tecidos. As rosas que carregam eram flores preferidas de Adolff.
Capela Saturnino Mathias Velho, pode ter sido da firma Gaudenzi e Adloff.

- A Família Arjonas, com os irmãos José e André, e Mário, o filho deste último, também trabalharam na arte da estatuária.
- José Arjonas, o mais velho, chegou primeiro.

- André Arjonas o suplantou em destaque por sua grande produtividade. O monumento dos Imigrantes, em São Leopoldo, é de sua autoria.

- Mario Arjonas, filho de André, continuou produzindo arte funerária. Autor das esculturas das figuras dos apóstolos e profetas colocados no alto da catedral de Porto Alegre.
Túmulo de Teixerinha, com a estátua em tamanho natural do artista.

- Também eram escultores Leoni Lonardi e Luigi Giusti.

- As três primeiras décadas, as famílias enriquecidas começam a adotar padrões mais requintados, com obras aprimoradas, com padrões europeus de nítida influência clássica, greco-romana, que chega até Porto Alegre através da França.
Como a França nesse período transita pelo neo-clássico, realismo, “art-nouveau” até o modernismo, encontramos em nossos cemitérios todos esses modelos, até a presença da arte moderna, na década de 1930.

As obras desse período apresentam três tipologias distintas:
- Obras alegóricas com certa visão romântica do século XIX, tipo Anjo da Saudade, da Esperança, Anjo Maternal, do Sofrimento, da Morte, do Juízo Final. Este anjo, na virada do século cede lugar a figuras simbólicas de sofrimento, saudade, consolação, maternidade e esperança. O material substitui o espiritual.
- Rosto e mãos expressivas, roupas que escondem corpos apenas delineados, aos poucos vão adquirindo certa sensualidade.
- As roupagens das figuras femininas vão ficando mais finas, permitindo modelar formas anatômicas, seios, uma perna que avança, bem delineada, figuras masculinas vão sendo despidas até alcançarem o nu, como ocorre em dois túmulos em Porto Alegre, ao contrário do nu feminino, que não existe.

- Parece que a sociedade está perdendo valores espirituais e se materializando. Há falta de mensagem cristã:
A postura diante da morte é mais de desespero, aparece mulher chorando, saudosa, alegoria do desespero, da saudade.
Outra tipologia é a religiosa, com presença da mensagem cristã: - estátuas de Cristo ressuscitado, Cristo que ressuscita Lázaro, Pietá, e, de 1930 em diante, algumas Nossa Senhora, Santa Teresinha e Coração de Jesus.

- A tipologia cívico-patriótica aparece no túmulo dos grandes homens, geralmente financiados pelo Governo, com “glorificação ao herói”. É a ideologia do sistema.

Túmulos de Dr. Júlio de Castilhos, do escultor Décio Villares.

Túmulo do Senador Pinheiro Machado, do escultor carioca Pinto e Canto, de concepção Positivista, são deste teor, há a glorificação ao senador morto por assassinato.

Túmulo de Plácido de Castro, também assassinado, substitui a glorificação por uma placa contestatória ao regime, que não puniu os assassinos, conhecidos.

- Antônio Caringi que chega por volta de 1935, é o autor de outros túmulos e mausoléus monumentais:
Túmulo do governador Daltro Filho, na década de 1930, recebeu escultura representando uma figura vestida de gaúcho.
Túmulo de Maurício Cardoso, advogado, revolucionário de 1930 ao lado de Getúlio Vargas, e falecido em um desastre de avião. Seu túmulo, o mais monumental, de quantos possuímos, faria inveja a faraós, com sua estátua de cerca de três metros de altura, representando a justiça virtuosa a olhar para o túmulo.

- Fugindo aos modelos clássicos, Caringi esculpiu:
Túmulo de Aparício Cora de Almeida, o advogado gaúcho, fugindo aos modelos clássicos, Caringi esculpiu em baixo relevo de bronze, índios missioneiros atacando em combate, o que representaria a luta pela terra, pelo nativismo, o lado telúrico do gaúcho.

- Os cemitérios que apresentam maior número de estátuas são:

Cemitério Arcanjo São Miguel e Almas
- Mausoléu da Família Mathias Velho, antigos proprietários das terras onde se situa o bairro Mathias Velho, no município de Canoas. O conjunto é o maior e mais importante da arte funerária de Porto Alegre.
- Mausoléu da Família Ramos, com a representação do anjo da fé, evidenciando a cruz como símbolo da fé.
- Túmulos da Colônia Chinesa, ala tradicional.
E os jazigos das grandes famílias de Porto Alegre do século XIX e XX.
Localização: Av. Oscar Pereira, 400.

Cemitério da Santa Casa da Misericórdia
- Jazigo-monumento de Júlio de Castilhos, importante líder político e Presidente do Estado no início do século XX, onde a Pátria é simbolizada por uma figura feminina que carrega a bandeira nacional, obra do escultor Décio Villares.
- Jazigo-monumento do senador José Gomes Pinheiro Machado (08.05.1851-08.09.1915), líder político gaúcho e Senador da República, ornado com crianças, simbolizando as gerações futuras, e um baixo relevo que representa a marcha da humanidade. Obra do escultor português Pinto do Couto radicado no Rio de Janeiro, executado em Florença, Itália (1922).
- Túmulo do músico Vítor Matheus Teixeira, o Teixeirinha, famoso compositor e interprete de músicas regionais, com uma estátua em tamanho natural do artista, obra do escultor Mário Arjonas, homenageado todos os anos nos finados pela fluidez de fãs ao seu jazigo.
- Capela singela do Conde de Porto Alegre, o general Manoel Marques de Sousa, soldado do Império, dono da primeira estátua de Porto Alegre
- Túmulo de Plácido de Castro (1873-1908), o Herói da conquista do Acre.

Cemitério São José I e II
- Túmulo do intendente José Montaury de Aguiar Leitão, cujo monumento foi erguido pela própria municipalidade.
- Túmulo do major Alberto Bins, intendente da cidade de Porto Alegre entre 1928-1937, com destaque par o Cristo em tamanho natural, a figura aponta para o céu, em testemunho de Fé.
Localização: Av. Oscar Pereira, 410.

Cemitério Evangélico I e II
- Túmulo de Rubem Berta, fundador e Presidente da Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), a alegoria em mármore branco apresenta Ícaro, figura mitológica, que constrói asas com as quais procura voar.
As grandes famílias de origem alemã de Porto Alegre, também estão aqui sepultadas.
Localização: Rua Guilherme Schell, 467.

- A partir de 1940 as esculturas funerárias começam a desaparecer, inicia-se a decadência da arte cemiterial, não por contenção econômica, mas devido, principalmente, à alteração dos valores sociais e ideológicos e o declínio da ideologia positivista, que quase atinge a paralisação, depois de 1950.

- Todas as sociedades desenvolvem um ou mais sistemas fúnebres pelos quais pode se entender a morte em seus aspectos pessoais e sociais. Em muitas culturas, a noção de dar aos mortos uma boa despedida é um tema proeminente. Isso pode incluir o gasto de grandes somas em dinheiro em um caixão luxuoso, com o morto adereçado com roupas de luxo, jóias e maquiagens.

- Depois do advento da fotografia, tornou-se hábito entre a classe dominante fotografar o morto. A tradição foi incorporada pelas classes populares, nas quais ela ainda está viva. Veja-se, por exemplo, o sensível texto de Koury (1999), acerca do processo de luto de uma mulher nordestina pelo filho morto tragicamente:

- "O retrato do meu filho vivia no meu peito. Na foto parece que meu menino está rodeado de luz..."

- De qualquer maneira, o funeral é percebido como um reflexo das realizações da vida do indivíduo e um conforto para os vivos. O sistema mortuário é o meio que a sociedade encontra de reconstituir sua integridade após a perda de um dos membros.

- Trata-se do portão de uma capela mortuária, adornado pela figura de dois anjos. Desde tempos imemoriais, ao penetrar nos umbrais da morte, fazia-se necessária a presença protetora de um guardião, um acompanhante. Hermes, na Grécia, fazia o papel do deus mensageiro, o daimon, guia das almas pelos mundos inferiores, espírito protetor, sábio, guardião dos mistérios do outro lado. "Anjos protetores, dêem-nos o acesso" poderia ser a legenda desta foto.

- No Cemitério São Miguel e Almas, um dos melhores exemplos de arte funerária de Porto Alegre se encontra no mausoléu da tradicional Família Mathias Velho, onde anjos abrem o túmulo de Cristo diante de um romano espantado. A família era proprietária das terras localizadas no município de Canoas, denominadas Fazenda da Brigadeira, cuja sede compreende hoje o bairro Mathias Velho. Além disso, a família tinha terras em Rio Pardo e Mostardas.

Atualmente, o Cemitério da Santa Casa expressa, através da “arte cemiterial”, as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais ocorridas ao longo do tempo na história do Estado.

Vagas
Vagas e Precos 

Os cemitérios municipais em Porto Alegre, não possuem nenhuma vaga, além das que já estão com as famílias possuidoras de concessão anterior a 1975.

Os atuais interessados em jazigos municipais precisam procurar a central de atendimento funerário da Prefeitura de Porto Alegre. Caso tenham seu pedido aceito, são encaminhados ao Serviço de Enterro do Carente.

Os preços cobrados pelos jazigos variam de cemitério para cemitério. Uma das áreas mais caras para a compra de jazigo perpétuo é o Cemitério Jardim da Paz, onde os valores variam de R$ 5 mil até 36 mil.

As sepulturas mais baratas, com exceção dos cemitérios públicos, ficam no Cemitério São José Vila Nova, no qual é possível adquirir um jazigo a partir de R$ 650,00.

Outra forma de sepultamento, de menor custo, é o serviço de aluguel, sendo o Cemitério da Sociedade Beneficente Nossa Senhora de Belém o mais barato, cobrando R$ 750,00 por um arrendamento de três anos.


No Cemitério da Comunidade Evangélica de Porto Alegre, o mesmo serviço custa R$ 1.800.00.

Textos da Morte
O Pensamento Positivista
"Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos"

No Cemitério da Santa Casa de Misericórdia da cidade de Porto Alegre encontram-se os jazigos de muitas figuras históricas do estado do Rio Grande do Sul. Diversos desses túmulos foram construídos durante o governo positivista de Júlio de Castilhos, pois fazia parte do pensamento oficial a celebração cívica dos líderes políticos vinculados ao grupo dominante. Os jazigos e monumentos pertencentes à tipologia cívico-celebrativa, além de servirem como sepultura, celebravam as memórias dos vultos destacados do mundo político.

As doutrinas positivistas chegaram ao Rio Grande do Sul através da influência dos militares que cursavam a Escola Militar do Rio de Janeiro, no final do século XIX, em que a pregação dirigida por Benjamin Constant era intensa. Entre os prosélitos, desatacou-se a figura de Júlio de Castilhos, identificado com as premissas republicanas, antiliberais, tradicionalistas, patriarcais e anti-socialistas, combinando o caráter autoritário do positivismo com o caudilhismo rio-grandense, que possivelmente exacerbou a doutrina positivista (Bellomo, 1993).

A doutrina positivista surgiu no século XIX, criada e divulgada por Auguste Comte e caracterizada como uma filosofia burguesa liberal, ao mesmo tempo conservadora e progressista. Dentro das premissas da doutrina, a humanidade está em permanente evolução em direção ao progresso, porém dentro de uma ordem preestabelecida, cujas infrações são percebidas como negativas. Por isso, o positivismo é anti-revolucionário.

Havia uma opção pela ditadura republicana, percebida como única forma de governo capaz de atingir os objetivos propostos. O indivíduo só existiria no coletivo. O artista, portanto, deveria conferir aos líderes da comunidade a imortalidade da arte, que teria como objetivo aprimorar o caráter dos indivíduos, por meio da educação moral, da exaltação da coragem, da prudência e da firmeza. Assim, o positivismo pensava atingir a moralização das instituições e fornecer às gerações futuras elementos morais, através de figuras exemplares.

Na prática, o caudilhismo substituiu a antiga nobreza imperial

A revolução federalista foi uma das mais sangrentas da história do estado, travada entre duas facções: liberais federalistas (maragatos) e republicanos positivistas (chimangos). O conflito, apesar da participação das classes populares, revelou-se antes de mais nada intra-oligárquico. A prática da violência nessa disputa, que normalizou a degola e outras formas brutais de eliminação de adversários, não foi isolada, mas uma decisão política, sintonizada com o terror organizado no sentido jacobino do termo, cujas repercussões e bipolaridade fazem-se sentir até hoje na história do estado (Flores, 1993).

Julio de Castilhos

Júlio de Castilhos governou o estado do Rio Grande do Sul no período de 1893 a 1897 e foi um dos fundadores e dirigentes do Partido Republicano Rio-Grandense, de orientação positivista, no qual exerceu uma verdadeira ditadura. A revolução federalista (1893-95) representou a transição da monarquia para a república, no Rio Grande do Sul, e refletiu a individualidade histórica de homens em luta pelo poder regional.

Cortejo Fúnebre a Julio de Castilhos, multidão segue pela avenida João Pessoa

Júlio de Castilhos morreu em 1903, e seu túmulo, construído pelo escultor Décio Vilares, é formado por uma pirâmide com uma águia no topo, contendo a inscrição "A Júlio de Castilhos, o Rio Grande do Sul" e a máxima positivista

"Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos". Além disso, ele põe em evidência o escudo do estado e o lema Ordem e Progresso. Na base da pirâmide, uma moça sentada representa a pátria, segurando na mão direita a bandeira nacional e, na esquerda, uma coroa de louros e o escudo do Rio Grande do Sul.

Pinheiro Machado

Monumento funerário ao senador Pinheiro Machado, líder republicano gaúcho pertencente à mesma facção de Julio de Castilhos, assassinado em 1915, no Rio de Janeiro. Esse monumento constitui o maior grupo escultórico da arte funerária no estado do RS.

Cortejo Fúnebre ao Senador Pinheiro Machado em Porto Alegre - 1915

Cortejo Fúnebre ao senador Pinheiro Machado na Capital Federal (Rio de Janeiro) - 09.09.1915

O sepultamento do senador, organizado pelo governo de Borges de Medeiros, foi uma verdadeira apoteose positivista. O túmulo, obra do escultor Rodolfo Pinto, é considerado o mais monumental de Porto Alegre. Representa Pinheiro Machado sobre um leito romano, coberto pela bandeira nacional, tendo ao lado a pátria, representada por uma jovem com um barrete frígio, fazendo um gesto protetor.

Aos pés do leito, uma mulher representa Clio, a musa da história, registrando a vida do morto em seu livro e apontando o herói celebrizado como exemplo para as novas gerações, simbolizadas por um grupo de crianças. Baixos-relevos mostram cenas de culto cívico e a marcha da humanidade. Um dos baixos-relevos mostra um casal realizando um ritual cívico no altar da pátria. Outro mostra uma procissão de figuras desnudas em torno da palavra imortalidade (Bellomo, 1993).

O conjunto tumular foi concebido ideologicamente dentro do espírito positivista, utilizando a simbologia alegórica típica dessa corrente de pensamento. A imortalidade é percebida como a conservação da memória do líder morto, símbolo e modelo para as gerações futuras. Estes monumentos, sem dúvida, corporificam um dos lados da desigualdade — o morrer da classe dominante.

Mausoléu de José Plácido de Castro, gaúcho fundador do estado do Acre e morto em 1908, em crime que ficou impune, celebra-se o morto e denuncia-se o sistema político vigente. A justiça, de olhos desvendados, empurra a balança com uma espada, em cujo prato há um saco com dinheiro. Há ainda um leão flechado pelas costas, alusão à morte por traição. As inscrições tumulares denunciam a impunidade do crime.

Plácido de Castro, rio-grandense partidário da corrente que seguia as idéias de Gaspar Silveira Martins, liberal federalista, opositor de Júlio de Castilhos, mudou-se para o Acre, após a derrota da revolução federalista, onde assumiu o comando dos acreanos rebelados contra o governo boliviano e contra a entrega da região a um grupo anglo-americano. Em 1902, iniciou-se uma rebelião, e Plácido de Castro atacou os bolivianos em Xapuri (local do conflito com Chico Mendes, um século mais tarde) proclamando o estado independente do Acre. Após alguns meses, os brasileiros conquistaram todo o território do Acre e promoveram a rendição da Bolívia. Plácido de Castro, figura de grande prestígio junto à população, foi prefeito da região do Alto Acre. Morreu assassinado em 1908 (Lacombe, 1979).

A morte de Plácido de Castro foi um crime de natureza essencialmente política, "um magnicídio com todas as suas características. O prestígio que desfrutava junto ao povo, opondo embargo ao despotismo dos elementos oficiais terão aconselhado sua eliminação, na impossibilidade de afastá-lo do Acre" (Goycochea, 1973). A justiça nunca se manifestou sobre o crime, embora tenha sido identificado o grupo assassino, com mandantes vinculados à polícia local.

As Desigualdades da Morte
A morte dos pobres ou a pobreza do morrer. "Os homens pobres enterram seus anjos com um pano qualquer, quando o possuem... mais uma cruz feita com paus achados na estrada e rezas de uma tristeza alegre pela sorte de não seguir o destino que outros tantos estão tendo de suportar" (Koury, 1998).

Ao observar, com consternação, o campo santo do Cemitério da Santa Casa, o único cemitério que acolhe pobres em toda a capital do estado, escondido atrás dos monumentos funerários das figuras ilustres, não é possível deixar de constatar, no concreto, as desigualdades no morrer (foto 5). Um quadrado nu de terra vermelha, semeado e tornado a semear de cruzes.

O enterramento gratuito dos corpos tem uma permanência estipulada de três anos, período mínimo necessário para proceder à exumação de cadáveres, de acordo com o artigo 311 do Decreto Estadual nº 23430 (Código Sanitário Estadual), de 24 de outubro de 1973, referente a cemitérios públicos e privados do estado. As sepulturas no chão batido, identificadas por uma cruz de ferro e uma placa com o número, lembram um campo de batalha e de miséria. Não há fotos ou nomes. "Campo santo", lugar dos pobres. Os enfeites são garrafas plásticas, flores plásticas, velas.

Brum (1999, p. 36), o "enterro de pobre", observa, no depoimento de um homem que acabara de enterrar o filho morto no campo santo da Santa Casa, entre as duas mil cruzes dispostas como em um campo de guerra: "Não há nada mais triste que enterro de pobre, porque o pobre começa a ser enterrado em vida."

As condições de vida e de morte de contingentes da população, cuja sina "é uma cova rasa, para facilitar o despejo do corpo quando vencerem os três anos de prazo, um caixão doado, em um cemitério de lomba, e esse episódio tem acontecido sucessivamente por mais de quinhentos anos".

Roda dos Excluídos 
Os primeiros registros sobre a mortalidade infantil em Porto Alegre estão associados à roda dos expostos da Santa Casa da Misericórdia, semelhante a outras rodas descritas em outras regiões do Brasil. Na roda era colocada a criança enjeitada, preservando-se o anonimato do depositário. Após a Lei do Ventre Livre, aumentou o número de crianças negras abandonadas na roda dos expostos, porque ao senhor não interessava sustentar uma criança liberta. A mortalidade infantil nesse grupo de crianças era mais elevada do que entre crianças brancas.

Santa Casa

A mortalidade infantil na cidade de Porto Alegre apresentava cifras altíssimas nos primórdios do século XX: 221,3 óbitos/1.000 nascidos vivos em 1900, 185,0/1.000, em 1910, e 279,0/1.000, em 1920 (Bonow, 1979). Os índices representam aproximadamente vinte mortes para cada cem crianças menores de um ano e correspondem a um nível de saúde bastante precário.

Os coeficientes de mortalidade infantil no município de Porto Alegre apresentavam valores maiores que os do estado (1900: 118,19; 1910: 115,8; 1920: 90,0/1.000 nascidos vivos), presumivelmente pelos índices maiores de sub-registro no interior da província. A mortalidade infantil mostra comportamento descendente no Rio Grande do Sul e na capital, porém as populações de menor renda apresentam taxas maiores do que a população em geral (Barcellos, 1986; Fischmann, 1980).

Túmulos de bebês nascidos e mortos no mesmo dia, muitas vezes fotografados para o ritual fúnebre, de acordo com os ditames culturais, ou para guardar alguma lembrança da vida ainda não vivida. Eram crianças de famílias mais abastadas, porque o bebê do pobre não tem nome nem retrato.

Mulheres
As desigualdades de gênero ficam evidentes nos jazigos de família, onde aparece apenas 'senhor Fulano e esposa', seguido pelo sobrenome do marido. Mulheres que entraram na morte sem um nome próprio, identificadas e nomeadas a partir da ótica patriarcal. "O patriarcado não sucumbe nem na morte". Mulheres descritas no jazigo segundo atributos e características dos papéis de gênero: 'esposa', 'colaboradora inteligente', 'companheira na vida e no silêncio da eternidade' de homens adjetivados como 'estrela', 'prócer' e outras qualificações. Este fato tem sido documentado por historiadores que afirmam conhecer a mulher romana através das inscrições mortuárias, criadas por seus maridos e filhos (Chauí, 1984).

Durante os anos do castilhismo, as mulheres foram estigmatizadas e relegadas aos tradicionais papéis estereotipados de esposas e mães. A ditadura científica positivista de Júlio de Castilhos entendia o papel da mulher restrito ao espaço doméstico, guardiã da honra da família, reclusa no lar, para evitar as tentações do mundo exterior. Desprovida de libido, devia permanecer fiel ao marido, mesmo depois da morte deste, responsável pela preservação da memória da família e elo de ligação entre os vivos e os mortos. Essa misoginia do positivismo contraria a trajetória da mulher rio-grandense, pelo menos as das classes mais abastadas, que, naquela época, já usufruíam de uma relativa independência. Mulheres que administravam sozinhas estâncias e propriedades, durante os constantes conflitos que permearam o Rio Grande no século XIX.

Além dessa posição em relação ao gênero, os positivistas expressaram opiniões conservadoras em relação à saúde pública. Acusaram a higiene oficial de despótica, de arrancar os filhos às mães para lançá-los em hospitais insalubres, de devassar a propriedade alheia com desinfecções e outras medidas sanitárias. Os castilhistas lideraram a luta antivacinação, em oposição às medidas adotadas por Oswaldo Cruz durante o governo Rodrigues Alves. Segundo o apostolado antivacina, apoiado pelo governo positivista de Borges de Medeiros, eles apostrofavam que "o materialismo médico nada respeita, nem o pudor, nem o respeito devido à delicadeza feminina, nem a bondade para com as crianças, nem o respeito à velhice" (Singer, 1981).

Nos jazigos do cemitério da Santa Casa observa-se um uso constante de alegorias femininas, algumas de inspiração neoclássica: a justiça, a pátria, a desolação. Também aparecem as figuras femininas de cunho religioso: virgens, anjos, pietás. A cidade de Porto Alegre, representada por uma mulher, aparece no jazigo monumental de Otávio Rocha.

Inscrições 
A inserção social do indivíduo aparece não somente no luxo e na ornamentação dos jazigos, mas também na descrição das honrarias que o morto adquiriu em vida. Foram arrolados honrarias militares e políticas, títulos de bravura e nobreza, excelência no desempenho de atividades burguesas.

Mortes violentas se fizeram visíveis
No início do século XX, predominavam os assassinatos, atualmente predominam os acidentes. Essas mortes produzem um agudo sentimento de injustiça nas famílias vitimadas, que utilizam o jazigo como espaço de denúncia.
Pode ser considerada um contundente documento da categoria violência. O chamamento "Assassinado!" acompanha o nome do morto e a data do óbito.

As Frases de Luto
De despedida, de desconsolo, plasmadas em metal, nas figuras de pequenos anjos, na estatuária, poderiam constituir por si só um trabalho em separado.
"Rio-Grandenses, podeis confiar: este velho soldado há de servir a vossa terra com a certeza de que amanhã, ao rememorardes esta etapa da vossa vida política, sereis forçados a dizer que ele foi sempre um homem de bem", esta frase que adorna o mausoléu do general Daltro Filho, interventor no estado do Rio Grande do Sul, nomeado por Getúlio Vargas, o primeiro túmulo em que aparece a figura de um gaúcho vestido com trajes típicos.

Há situações modestas, túmulos tão pobres que a identificação do morto estava pichada com pincel atômico.

Frases dispostas em bilhetes, lembretes, corações de cartolina, flores de papel, despedida sem consolo.

Curiosidades
- É um fato sobejamente conhecido. Quando o Positivismo vivia sua época áurea em Porto Alegre, nos inícios do século XX, freqüentemente os seguidores das idéias de Augusto Comte subiam, em romarias, a Lomba do Cemitério, e iam homenagear, mais uma vez, os seus mitos.

- Até precedendo a inauguração do monumento na Praça da Matriz a Julio de Castilhos, os castilhistas foram reverenciar a memória do Patriarca do Rio Grande do Sul junto ao seu suntuoso túmulo (obra de Décio Villares) no Cemitério da Santa Casa.
Essa idolatria fanática talvez decorresse do mandamento comteano:

Os vivos cada vez mais serão governados pelos mortos”.

- Ninguém ignora que as tais romarias cívicas aos cemitérios deixaram de existir.

- O Cemitério da Santa Casa, inscrição no pórtico principal do Cemitério:
“Reverte ad locum tuum”
Significa: Volta ao teu lugar.

- O Muro do Cemitério da Santa Casa: - o primeiro muro foi contratado em 02 de julho de 1845 com Fermiano Pereira Soares e o açoriano da Ilha de São Jorge, João Baptista Soares da Silveira, mesmo construtor da Ponte dos Açorianos e das fundações do Theatro São Pedro.

 Com mais de um século e meio de funcionamento, o Cemitério da Santa Casa já foi, e ainda é, testemunha de muitas histórias e curiosidades que se desenrolam em suas dependências.

O jazigo onde está sepultado Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, é o mais visitado do Cemitério da Santa Casa.

Outro hábito já visto no Cemitério são pessoas saindo de costas do lugar. O fato curioso despertou a atenção dos funcionários que foram questionar o porquê daquela prática. A resposta foi que assim eles não levavam junto o espírito de ninguém ali enterrado.

Anualmente, um grupo de pessoas visita o Cemitério da Santa Casa. Elas chegam juntas, vestindo uma roupa igual, amarela, se dirigem à Cruz Mestra, acendem velas, fazem uma oração e vão embora. Quem são e o motivo desse ritual é ainda um mistério que persiste na Instituição.

As cerimônias de sepultamento de algumas religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, têm uma série de particularidades. Os rituais envolvem cantos e danças, que ocorrem nas capelas, e o caixão não é levado no carrinho comum. Quem trabalha no Cemitério da Santa Casa conta que as pessoas costumam carregar o ataúde balançando-o até o local da sepultura, que sempre fica no chão, em contato com a terra.

Há um túmulo de um ex-paraquedista militar do Exército, Casemiro Scepaniuk,* e sua esposa Ruth, (foto baixo) pronto com todos os ornamentos possíveis, mas que ainda aguardam os corpos dos dois, que ainda estão vivos e saudáveis morando em Porto Alegre.

*Faleceu em 02 de fevereiro de 2016, seus restos mortais foram colocados nesse seu jazigo.

Conceitos
Termos Espaços Cemiteriais

Túmulo: - monumento fúnebre erguido em memória de alguém no lugar onde se acha sepultado.

Sepultura, Campa, Carneiro, Catacumba, Cova, Jazigo, Sepulcro, Tumba, Túmulo: - local onde se sepultam os cadáveres.

Catacumbas: - galerias subterrâneas em cujas paredes se faziam tumbas.

Tumba: - pedra sepulcral, caixão ou esquife.

Jazigo: - pequena edificação nos cemitérios, destinada ao sepultamento de várias pessoas ou da família.

Mausoléu: - em alusão ao túmulo que Artemisa, viúva de Mausolo, rei da Cária, antiga cidade da Ásia Menor, mandou erguer ao marido. Sepulcro de Mausolo (rei da Cária – século IV a.C. em Halicarnasso, tido como uma das sete maravilhas do mundo antigo). Sepulcro suntuoso.

Nicho: - cavidade ou vão na parede ou muro para colocar estátua, imagem ou qualquer objeto ornamental.

Campo Santo: - centenas de cruzes fincadas sobre sepulturas rasas.

Capela: - pequena igreja de um só altar.

Necrópole: - como eram chamadas as partes das cidades antigas destinadas para o sepultamento dos mortos. Sinônimo de cemitério.

Abandono
As Marcas do Esquecimento



A Morte

O que dizem os Santos


Oh Clementíssimo Jesus, que Vos abrasais de amor pelas almas, eu Vos suplico pela agonia do Vosso Sacratíssimo Coração e pelas dores da vossa Mãe Imaculada, que purifiqueis no Vosso Sangue os pecadores de todo o mundo que agora estão em agonia e hoje mesmo têm de morrer. Amén.

Coração agonizante de Jesus, tende piedade dos moribundos.

Oh! São José, pai adotivo de Jesus Cristo e verdadeiro esposo da Virgem Maria, rogai por nós e por todos os agonizantes deste dia/desta noite.

Eterno Pai, pelo amor que tendes a São José, escolhido por vós para ser o vosso representante na terra, tende misericórdia de nós e dos pobres moribundos.

Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.

Eterno Filho, pelo amor que tens a São José, vosso guarda fidelíssimo, tende misericórdia de nós e dos pobres moribundos.

Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.

Eterno Espírito Santo, pelo amor que tendes a São José, zelosíssimo guarda da Santíssima Virgem Maria, Vossa amada Esposa, tende misericórdia de nós e dos pobres moribundos.

Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.

(São João Bosco)

- A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando absolutamente abandonadas todas as coisas deste mundo.

Considera, meu filho, que tua alma deve necessariamente separar-se do corpo, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.

Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou noutro lugar.

A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo, um terremoto, ou um raio são suficientes para te tirar a vida.

E isso pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler estas páginas.

Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia seguinte!

- Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois?

Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre.

(São João Bosco)

E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria de tua alma? Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!

- O lugar e a hora de tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de chegar.

Nessa hora, estendido sobre o leito, assistindo por um sacerdote que rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado por tua família que chora, com o crucifixo numa mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da eternidade.

Tua cabeça sentirá dores e não encontrará repouso; tua visão estará obscurecida; tua língua estará ardendo; tua garganta, seca, teu peito, oprimido, o sangue se gelará nas tuas veias; teu corpo será consumido pela enfermidade e teu coração trespassado por mil dores.

Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado a um buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso.

Abre um túmulo e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no mundo; pó e podridão…O mesmo te acontecerá a ti.

Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.

Agora o demônio, para induzir-te a pecar, se esforça e distrair-te deste pensamento, em encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à Missa nos dias festivos; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.

Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!

- Considera também que do momento da morte depende tua felicidade ou desgraça eterna.

Estando para dar o último suspiro e à luz daquela última chama, quantas coisas veremos!

A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa morte; a primeira, para mostrar-nos os preceitos da lei de Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos corretamente.

Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz verá se amaste a Deus durante a tua vida ou se o desprezaste; se respeitaste seu santo Nome ou se o ofendeste com blasfémias.

Verás as festas que profanaste, as Missas que não ouviste, as desobediências a teus superiores, os escândalos que destes a teus companheiros.

Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás…

Mas (oh! meu Deus) tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos.

Compreendes bem o que te estou dizendo? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou escravo do demónio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.

Teme muito por tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória.

Sem perda de tempo, põe em ordem tua consciência com uma boa Confissão, prometendo ao Senhor perdoar a teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais obedientes, abster-te de comer carne nos dias proibidos, não perder mais o tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres de teu estado.

E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz a Ele:

“Meu Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-Vos e quero-Vos amar e servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento terrível. Jesus, Maria e José, que minha alma expire em paz em vossos braços”.

(São Francisco de Sales)

Considera, minha alma, a incerteza do dia da morte. Um dia sairás do teu corpo. Quando será? Será no inverno ou no verão ou em alguma outra estação do ano? no campo ou na cidade, de noite ou de dia? Será de um modo súbito ou com alguma preparação? Será por algum acidente violento ou por uma doença? Terás tempo e um sacerdote para te confessares? Tudo isto é desconhecido, de nada sabemos, a não ser que havemos de morrer indubitavelmente e sempre mais cedo que pensamos.

Grava bem em teu espírito que então para ti já não haverá mundo, vê-lo-ás perecer antes teus olhos; porque então os prazeres, as vaidades, as horas, as riquezas, as amizades vãs, tudo isso se te afigurará como um fantasma que se dissipará ante tuas vistas.
Ah! Então haverás de dizer: por umas bagatelas, umas quimeras, ofendi a Deus, isto é, perdi o meu tudo por um nada. Ao contrário, grandes e doces parecer-te-ão então as boas obras, a devoção e as penitências, e haverás de exclamar: Oh! Porque não segui eu esta senda feliz? Então, os teus pecados, que agora tens por uns átomos, parecer-te-ão montanhas e tudo o que crês possuir de grande em devoção será reduzido a um quase nada.

Medita esse adeus grande e triste que tua alma dirá a este mundo, as riquezas e as vaidades, aos amigos, a teus pais, a teus filhos, a um marido, a uma mulher, a teu próprio corpo, que abandonarás imóvel, hediondo de ver e todo desfeito pela corrupção dos humores.

Prefigura vivamente com que pressa levarão embora este corpo miserável para lançá-lo na terra, e considera que, passadas essas cerimonias lúgubres, já não se pensará mais de todo em ti, assim como tu não pensas nas pessoas que já morreram. “Deus o tenha em paz” – há de dizer-se – e com isso terá tudo acabado para ti neste mundo. Oh! morte, sem piedade és tu! A ninguém poupas neste mundo.

Advinhas, se podes, que rumo seguirá tua alma, ao deixar o teu corpo.

Ah! Para que lado se há de voltar? Por que caminho entrará na eternidade? – É exatamente por aquele que encetou já nesta vida.

REFERÊNCIAS:

Adaptado do trabalho do grupo de estudos da ULBRA,
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3 comentários:

  1. Texto elucidativo e rico em informações. No imaginário da Morte reproduzem-se a opulência e a miserabilidade da existência humano. No espaço cemiterial se percebe com clareza os papéis que os individuos exercem na sociedade. O estigma da pobreza ou da riqueza deixam marcas indeléveis,além da própria existência física. Carlos Roberto da Costa Leite( Beto) Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.

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  2. Ótimo texto, com informação e poesia da vida é morte
    Parabéns!

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