Pelourinho
Cidade de Porto Alegre
Cidade de Porto Alegre
Pelourinho
origina –se do frâncês “pilori” francização do latim “pilorium”, derivado de
“pila” = pilar ou coluna + sufixo “orium”.
O
que representava a palavra “pelourinho” no
período colonial e imperial brasileiro?
- Trata-se de colunas construídas de pau ou de pedra, colocadas em lugares públicos de uma cidade ou vila. Eram o lugar de se "fazer justiça".
- Era o símbolo da autonomia
municipal, era uma coluna, geralmente de pedra encimada com a coroa real,
erguida em frente ao local chamado “Paço Municipal ou Paço do
Conselho”.
Nessa coluna colocavam-se os
editais com a decisão da Câmara, chamadas “Posturas”.
Nela também eram
amarrados os escravos condenados a castigos corporais, e
para execração pública.
- A ereção do pelourinho
representava assim, um grande acontecimento na vida da povoação.
- O Pelourinho era o lugar público (praça) de uma povoação
(vila ou cidade) onde eram punidos e expostos escravos rebeldes e criminosos,
ao escárnio público.
As execuções capitais (penas de morte) não eram feitas nos
pelourinhos, mas na forca, erguidas em outro lugar.
-
Muitos tinham no topo uma pequena casa em forma de guarita, feita de grades de
ferro, onde os condenados eram expostos à vergonha pública.
Já
em outros, existiam apenas argolas para prender e açoitar os presos.
-
No Brasil, o mais comum era o pelourinho feito de madeira, com uma argola na
ponta. Frequentemente utilizado para castigar escravos, o pelourinho acabou
assumindo, em nosso país, o símbolo da violência da escravidão.
-
No Brasil Colônia, o pelourinho, símbolo do Poder do Governo, geralmente
levantado em frente à Casa da Câmara e da Cadeia (atual Câmara dos Vereadores)
foi muito usado para castigar os escravos com açoites.
-
Do Brasil Colônia restam apenas 5 pelourinhos: Paranaguá (PR), Alcântara (MA)
Mariana, (MG), Óbidos (PA) e Rio Grande (RS).
Primeiro Registro em Porto Alegre
Data de 1782, o primeiro registro de um pelourinho
em Porto Alegre, citado em um ofício da Câmara pedindo que se
mandasse vir do Rio de Janeiro, capital da Colônia, um padrão indicativo de autonomia. O pedido não
foi atendido.
Em 1784, o pedido foi reiterado.
-
Nesta ocasião provavelmente veio o dito padrão e este foi instalado.
Em 1786, em uma escritura de compra e venda quando
foi mencionado, - seu local não é indicado; apenas é dito que fora erguido em uma
praça e que ali já não estava.
Sua localização original, pois, é incerta.
Sua localização original, pois, é incerta.
Ergue-se o
Pelourinho
Em 14
de novembro de 1810, em Porto
Alegre, o novo ouvidor e corregedor Dr. Antonio Monteiro
Rocha, mandou Ofício a Câmara ordenando que prontificasse o Pelourinho para as
Cerimônias, e que fosse de pedra.
Nota:
- " Nos tempos do Brasil Colonia e Reino d Brasil, a Freguesia precisava possuir um pelourinho para ser elevada a condição de Villa".
Nota:
- " Nos tempos do Brasil Colonia e Reino d Brasil, a Freguesia precisava possuir um pelourinho para ser elevada a condição de Villa".
- Assim
foi feito, às pressas pelo pedreiro Jacinto José,
que recebeu 177$780 réis, a obra foi erguida em frente à Igreja das Dores, em
plena Rua da Praia, a principal artéria da Freguesia, o local depois conhecido
como Largo da Forca.
- A
elevação de “Villa” para Porto Alegre foi à definição da divisão política do
município.
O Viajante historiador, Isabelle,
Arsène, descreve o pelourinho de Porto Alegre em 1833:
“Cada dia, das sete às oito horas da manhã, pode-se
assistir, em Porto Alegre, a um drama sangrento. Ponto de reunião – a praia, ao
lado do Arsenal; de fronte de uma igreja (das Dores), diante do instrumento de suplício
de um divino legislador; vereis uma coluna erguida num maciço de alvenaria e ao
pé... uma massa informe, alguma coisa certamente pertencente ao reino animal,
mas que não podeis classificar entre bímanos e bípedes... é um negro!...
Passai,
retirai-vos dessa cena de desolação; o infortunado tem apenas membros
mutilados, que mal se conhecem, sob os farrapos ensangüentados de sua pele
murcha.”
Em 1833, este pelourinho foi indicado em um
desenho, realizado por Tito Lívio
Zambeccari, como estando localizado no largo fronteiro à Igreja das Dores.
-
No mesmo ano, a Câmara aprovou o início da construção da cadeia pública, e
solicitou que o pelourinho fosse transferido para outro local, pois onde estava
estorvaria as obras previstas.
-
Logo em seguida, a construção foi suspensa, e as pedras que já haviam sido
trazidas foram usadas para a construção de um cais pertencente à Ordem Terceira
de Nossa Senhora das Dores.
Último Registro do Pelourinho
De 1839, uma planta da cidade de Porto Alegre, ainda assinala neste local o pelourinho, no item 48, as margens do Guaíba na Praça do Arsenal, entres as ruas 15 - Rua Direita (atual Rua General Bento Martins) e 16 - Rua do Arroio (atual Avenida Padre Tome), em frente ao Arsenal de Guerra e a Intendencia.
- Deste mapa em diante a indicação do Pelourinho, não é mais citado em fontes históricas conhecidas.
De 1839, uma planta da cidade de Porto Alegre, ainda assinala neste local o pelourinho, no item 48, as margens do Guaíba na Praça do Arsenal, entres as ruas 15 - Rua Direita (atual Rua General Bento Martins) e 16 - Rua do Arroio (atual Avenida Padre Tome), em frente ao Arsenal de Guerra e a Intendencia.
- Deste mapa em diante a indicação do Pelourinho, não é mais citado em fontes históricas conhecidas.
Este mapa mostra as condições de Porto Alegre, em 1839,
durante a Guerra dos Farrapos.
Título original:
"Planta da Cidade de Porto-Allegre, com a linha de
trincheiras e fortificações, que lhe tem servido de defesa desde o memorável
dia 15 de junho de 1836, com as retificações e melhoramentos que se tem feito
por motivo de ter sido atacada pelos sediciosos em 1836, 1837, e sitiada em 1838,
1839, tempo em que está concluída com duas vistas, uma de Leste, outra do Oeste
com as declarações a respeito. Porto Alegre 2 de dezembro de 1839".
- O mapa apresentado aqui sofreu alguma edição para se reduzir
o tamanho da imagem, o original encontra-se na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro - RJ (autor L.P. Dias).
*-*-*-*-*-*-*-*
A Igreja das Dores tem uma relação direta
com o
Pelourinho de Porto Alegre.
Pelourinho de Porto Alegre.
Nossa Senhora
das Dores
O culto a Nossa
Senhora das Dores
No século XV, tem origem as
celebrações em torno dos sofrimentos de Maria, mas somente em 1667 foi estabelecida uma liturgia com
iconografia definida. Assim, as chamadas Sete Dores de Maria - a profecia de
Simeão, a Fuga para o Egito, a perda de Jesus no Templo aos doze anos, o
caminho da cruz, a crucificação, a deposição e o sepultamento de Jesus -
passaram a ser representados simbolicamente por sete espadas, ou às vezes uma
só, cravadas no coração da Virgem.
- Esta devoção foi introduzida em Portugal
pelos padres Oratorianos, e chegou ao Brasil por volta de 1770,
estabelecendo-se primeiramente em Minas Gerais.
A Irmandade
Em 1779, em
Porto Alegre, o culto já era registrado, quando um grupo de devotos mandava
celebrar uma missa especial todas as sextas-feiras em honra de sua Padroeira,
entronizada num dos altares laterais da antiga Matriz da Mãe de Deus.
Em 1801, este
núcleo foi a origem da Irmandade de Nossa Senhora das Dores, que foi organizada
definitivamente.
Em 1819, um
Indulto Apostólico elevou a Irmandade à categoria de Ordem Terceira, subordinada
aos padres Servitas.
Em 18 de setembro de 1824, ordem
foi confirmada, com uma série de exigências para admissão de novos membros, o
que ameaçou a Ordem de extinção. Por causa disso o Prior da Irmandade revogou
os impedimentos, admitiu antigos integrantes e aumentou as contribuições.
Em 24 de outubro de 1832, foi
criada como freguesia autônoma, desmembrada da paróquia da Mãe de Deus, mas por
ser uma comunidade pobre e ainda estar envolvida em uma construção dispendiosa.
Em 1859, recebeu
um pároco em, quando o Imperador Dom
Pedro II indicou o Padre José Soares
do Patrocínio Mendonça para o cargo.
Paróquia de
Nossa Senhora das Dores
- É a igreja monumento mais antiga da cidade.
- Sua construção se arrastou por muito tempo e o
plano da fachada foi modificado quando ainda estava em obras, exibindo hoje um
estilo eclético, mas o interior é ricamente decorado com talha dourada num
estilo Barroco tardio com elementos neoclássicos, além de possuir um importante
grupo de estátuas barrocas de Cristo em tamanho natural representando o ciclo
da Paixão.
Em 02 de fevereiro de 1807, tendo
sua pedra fundamental lançada, a construção da Igreja de Nossa Senhora das
Dores, teve início, o mais antigo templo católico de Porto Alegre, foi por
iniciativa da Irmandade Ordem Terceira de Nossa Senhora das Dores.
Em meados de 1813, as
primeiras celebrações religiosas ocorreram, com a conclusão das obras da
capela-mor.
Em 23 de junho de 1813, foi
trasladada a imagem de Nossa Senhora das Dores da antiga Matriz até a sua nova
casa.
- O historiador Sérgio
da Costa Franco relata que, em 23 de junho de 1813, a chegada da imagem da
santa ao templo aconteceu
“com acompanhamento de todo o clero, fiéis, o Capitão-General Dom Diogo de
Souza, estado-maior e tropa.”
Somente em 1846, o
historiador Sérgio da Costa Franco aponta
um novo aporte de recursos encaminhou o andamento das obras de construção da
igreja:
Em 1846, fisicamente,
até a presidência d Luís Alves de Lima e
Silva, o Conde de Caxias, o
templo continuava limitado à capela-mor, com o acréscimo de um barracão a
título de nave. Caxias lhe destinou
quatro contos de réis, que serviram para levantar os alicerces das grossas
paredes laterais da nave, até a altura de 18 palmos acima da terra.
Por volta de 1857, com
as paredes erguidas, João do Couto e
Silva instalou o telhado e terminou a fachada (ainda sem revestimento) e a
abóbada, terminando esta etapa em 1860.
Em 1863, como
o projeto inicial fora alterado, uma comissão foi constituída para realizar as
necessárias correções, supervisionadas por Luiz
Vieira Ferreira e concluídas em 1866.
Em meados de 1866, com
intermitências, a Fazenda Provincial foi destinando verbas para a conclusão da
igreja, o que permitiu o acabamento do corpo principal.
Em 10 de maio de 1868, o
templo foi então consagrado por Dom
Sebastião Dias Laranjeira. A escadaria monumental da frente só seria
terminada em 1873, sendo que o acesso anteriormente se dava pela rua Riachuelo,
atrás da igreja.
Só em 1873, ficou
pronta a grande escadaria a partir da Rua dos Andradas, sendo até então o único
acesso possível através da Rua Riachuelo.
Até o fim do século XIX, o
edifício não recebera revestimento nem possuía torres, e então a comunidade
reuniu forças para os arremates necessários.
- Foi então que um grande esforço do clero, dos
paroquianos e da Ordem Terceira reuniu os fundos necessários para o término do
templo.
- O projeto original em estilo barroco colonial, já
desfigurado, foi definitivamente abandonado, e encomendou-se um novo do
arquiteto Júlio Weise, que traçou
uma fachada em estilo eclético com influência germânica, onde se incluíram três
esculturas do artista João Vicente
Friedrichs, representando a Fé,
a Esperança e a Caridade, mais um frontão em baixo-relevo.
Em dezembro de 1900, fez-se
a inauguração da torre ocidental.
Em 1901, a
da torre do lado leste.
Nos primeiros meses de 1904, puderam
ser removidos os últimos andaimes da obra da fachada.
Em 1938, foi
tombada e declarada patrimônio histórico e artístico nacional, sendo a única
igreja de Porto Alegre tombada em nível nacional, sob fiscalização do IPHAN.
No período de 1951, até finais dos
anos 70, a igreja ficou aos cuidados dos Padres da
Congregação do Santíssimo Sacramento, convidados pelo então Arcebispo de Porto
Alegre, Dom Alfredo Vicente Scherer
para dar início à Obra da Adoração Perpétua na capital gaúcha, tendo como
Santuário a Matriz das Dores.
Nave em Restauro
- Seu interior ainda apresenta muito das primitivas
feições coloniais. A entrada se faz através de três portas, sendo que a central
desemboca em um pára-vento envidraçado. Acima existe um coro de madeira,
suportado por arcos e colunas coríntias. Há uma só nave, ladeada por uma série
de altares ricamente entalhados e dourados por João do Couto e Silva, com perfil em arco redondo e larga moldura
decorada, colunas salomônicas e baldaquinos, além de nichos para estatuária. Em
2007, removida para restauro.
- Também se alinham na nave diversas tribunas com
portas de vitral e gradis bombée em ferro trabalhado, e dois púlpitos. A
pintura do teto, dividido em caixotões, é obra de Germano Traub, basicamente em motivos florais e geométricos, com
medalhões figurativos. Os lustres são um trabalho contemporâneo.
- A capela-mor é delimitada por um grande arco
redondo com um friso floral e uma pintura com querubins. Possui também tribunas
e o altar-mor é uma bela peça em estilo escalonado, já de traços neoclássicos,
com um grupo escultórico no topo, com imagens de Cristo na cruz, ladeado pela
Mater Dolorosa e por São João. Desta capela abrem-se portas para uma outra
capela à esquerda, mais simplesmente decorada, e salas de administração à
direita.
- O templo possui diversas estátuas preciosas,
dentre elas sete imagens representando os passos da Paixão de Jesus Cristo,
trazidas de Portugal em 1871; duas imagens da santa padroeira da igreja, uma de
1820, com rosto de porcelana, e outra da segunda metade do século XVII, com
espada e diadema de prata; um São Francisco Xavier, vindo da Itália, e um
Sagrado Coração de Maria, oriundo da Espanha.
Projetos de Restauro
- Depois de sua conclusão, com o passar dos anos a
igreja sofreu séria deterioração, e obras de restauro foram realizadas em
caráter emergencial em 1980 no telhado e forro, em 1996 na capela-mor, e em
1998 na escadaria.
De 2001, em
diante novas obras, desta vez para remodelamento do estacionamento e ampliação
do salão de festas, utilizando os recursos provenientes da comunidade e das
Leis de Incentivo à Cultura em nível estadual e federal, um projeto que foi
continuado a partir de 2003 para recuperação dos bens integrados do interior,
tais como altares, forro, pinturas decorativas, coro e outras peças e imagens
destinadas a formarem futuramente um museu de arte sacra.
A partir de 2007,
teve início a recuperação do exterior, tendo sido incluída no Projeto
Monumenta, com participação do BID, da UNESCO e do Banco Mundial. Também está
sendo planejada a prospecção arqueológica do subsolo da igreja e de seus
arredores, realizada em parceria com o Projeto de Arqueologia Urbana
desenvolvido pelo Museu Joaquim Felizardo.
- Há uma lenda envolvendo a construção da Igreja de
Nossa Senhora das Dores, o texto “As
Torres Malditas”, mal escrito, foi extraído do livro “Lendas Gaúchas” (2007).
As Torres Malditas
- Quando as águas do Guaíba ainda costumavam
encostar na Rua da Praia, no centro de Porto Alegre, começou a ser construída a
Igreja de Nossa Senhora das Dores. Demorou quase um século para ficar pronta.
Sua pedra fundamental foi lançada em 1807. Nos idos de 1830, não passava de um
mero canteiro de obras. A demora, diz a lenda, nada teria a ver com cálculos
malfeitos, e sim com preconceito e injustiça. Construída em estilo barroco, a
igreja tem duas torres de cerca de cinqüenta metros e uma alta escadaria, num
conjunto harmonioso.
- Este belo templo de fé e arquitetura, no entanto,
não teve nada de harmonioso em sua edificação.
- O atraso nos primórdios da obra se explica pela
forma como era custeada. Todos os recursos ali empregados vinham de doações dos
moradores mais endinheirados de Porto Alegre, naquela época muito poucos por
sinal. Assim, o andamento da construção dependia da quase sempre escassa boa
vontade desses doadores. De vez em quando, se a situação permitisse, lá iam
entregar madeira, pedra, bronze para os sinos, tinta para os santos, vidro para
os vitrais. Vez que outra, a oferta era mesmo em dinheiro.
- Botar escravos para trabalhar também era uma forma
de contribuir com a obra da igreja. Afinal, eram os negros que faziam todo o
trabalho braçal naqueles tempos. Emprestando alguns de seus cativos para as
lides da construção, o senhor de escravos ficava com a consciência limpa e com
a certeza de que estava garantindo o seu lugar no céu, a custa do suor dos
outros.
- Um desses senhores era Domingos José Lopes. Um desses negros chamava-se Josino.
-
Domingos, que era proprietário de Josino, havia emprestado o escravo para trabalhar na santa obra. Josino trabalhava duro todo o dia,
seguindo ordens. Levava tábuas para cima e para baixo, carregava pedras mais
pesadas do que ele mesmo, encarava o sol do meio-dia, sem água, sem comida, sem
descanso, sem reclamar, até a exaustão. Ele sabia o que acontecia com os que
reclamavam e não queria que acontecesse o mesmo com ele.
- Apesar do esforço de Josino e de centenas de escravos como ele, que todo dia davam o
couro em prol da paróquia, a obra parecia que não andava no ritmo esperado.
Porto Alegre crescia, as doações aumentavam, mas a igreja das Dores continuava
do mesmo tamanho.
- Havia um motivo para isso.
- Boa parte da madeira que chegava à igreja pouco
ali ficava. Assim como parte das pedras. A terra, os pregos, barro, a argila,
quase todo o donativo era deixado no canteiro de obras, mas de lá saía
praticamente intacto. Os ricos doavam, mas depois de doar pegavam um bom pedaço
de volta. Os escravos ficavam numa labuta insana, carregando coisas de um lado
para o outro, tirando de uma carroça de manhã para colocar na mesma no final da
tarde. Sem reclamar.
-
Josino sabia disso tudo, mas ficava quieto. Quem ia
acreditar na palavra de um escravo? Era ele contra todos, e ele já havia
apanhado demais na vida para saber que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
- Anos se passaram. Depois de muito trabalho e
desvio de material, a igreja finalmente tomou corpo, faltando para a conclusão
somente as duas torres. Mesmo sem a obra estar completamente pronta, decidiram
que já era a hora de se fazer a inauguração. Foi então instalada no interior do
templo uma imagem de Nossa Senhora, ricamente enfeitada, cheia de jóias.
Chegava o momento da consagração.
- Eis que sumiu uma das pedras preciosas que adornavam
a imagem da mãe de Cristo. Muito se discute obre quem seria o autor do roubo.
Uns dizem que foi um padre, para dar de presente à amante. Outros apontam um
homem muito rico, ansioso em ficar mais rico. Há quem afirme que o tal roubo
nunca existiu, que a imagem já chegou sem a jóia. Se alguém levou a
preciosidade, foi no caminho até Porto Alegre.
- Mas quem quer que tenha sido o verdadeiro culpado,
um inocente teve de pagar pelo crime: - o escravo Josino.
- Naquele tempo pouco adiantava contestar acusações,
e as pessoas, ainda mais um escravo, podiam ser condenadas sem provas. Cabia a Domingos, proprietário de Josino, escolher sua sentença. Domingos nem pensou em defendê-lo.
Muito pelo contrário: condenou-o à morte por enforcamento.
- Escravos, afinal de contas, eram coisas que se
vendiam e se compravam, um a mais ou um a menos não faria nenhuma diferença
para um grande proprietário como ele. Quem se importava com a alma de um
escravo? - Muitos acreditavam que os negros nem alma tinham. Não adiantava
reclamar.
- No dia da execução, no entanto, Josino reclamou.
- O pelourinho, para onde eram levados os condenados
à forca, ficava exatamente na frente da igreja das Dores.
A Josino
foi dado o direito de dizer suas últimas palavras. Pediu a ajuda de Deus e
rogou uma praga para obra que lhe havia custado a vida:
– Vou morrer porque sou escravo, mas vou morrer
inocente. A prova da minha inocência é que as torres da Igreja das Dores nunca
vão ficar prontas! - Pela injustiça, seu senhor jamais veria o fim das obras
das torres da igreja.
- Poucas pessoas lhe deram ouvido na hora, mas suas
palavras seriam lembradas mais tarde. Cinco meses depois do enforcamento de Josino, conta a tradição que as torres
quase concluídas balançaram uma, duas, três vezes e se esfarelaram no chão como
-
- A notícia correu a cidade e todos lembraram então
da ameaça do escravo.
- Rezaram-se novenas e mais novenas pela alma do
inocente, para que a igreja pudesse ser concluída, mas nada adiantou.
- A maldição de Josino
se mantinha. Par décadas as obras continuaram em vão. O reboco desmoronava,
perdiam-se as plantas, até raios caiam atingindo a construção.
Walter
Spalding registra em seu livro Pequena História de Porto
Alegre, o seguinte:
“Conta uma lenda que um condenado à morte pela forca (que ficava
fronteira à igreja) dizendo que morria inocente dava como prova o fato de
jamais serem construídas as torres da igreja. Realmente, as torres, como haviam
sido projetadas, de acordo com o todo do edifício, jamais foram construídas,
pois que outras, em 1901, ocuparam seu lugar, em estilo absolutamente discordante
do conjunto. Esse acontecimento – a ‘praga’ do condenado - muito influiu para a
destruição da forca – o pelourinho – de Porto Alegre.”
Somente em 20 de julho de 1901, a
praga de Josino se extinguiria. A
Igreja de Nossa Senhora das Dores enfim seria completada, com a colocação de um
cruzeiro de ferro entre as duas torres, agora bem sólidas.
-E uma ironia histórica se completaria: o cruzeiro
foi colocado pelo prior da irmandade na época, Aurélio Veríssimo de Bittencourt, negro coma o escravo Josino.
- Contudo, o historiador Sérgio da Costa Franco alega que a história é falsa, e a condenação
do dito escravo ocorreu em virtude de um assassinato.
- A Igreja Nossa Senhora das Dores é uma igreja
católica localizada em Porto Alegre, à Rua dos Andradas, s/n, com entrada também lateral pela Rua Riachuelo,
- A mais antiga igreja
da cidade ainda de pé e opulenta.
Fontes:
Élvio (editor). Torres da Província: História e
Iconografia das Igrejas de Porto Alegre. Porto Alegre: Pallotti, 2004.
Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto
Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS)/Prefeitura Municipal,
1988.
Laytano, Dante de. Lendas do Rio Grande do Sul. Rio
de Janeiro: Publicação Estadual de Folclore do Rio Grande do Sul, 1956.
Fagundes, Antonio Augusto. Mitos e Lendas do Rio
Grande do Sul. Martins Livreiro Editor.
Lessa, Barbosa. Estórias e Lendas do Rio Grande do
Sul. São Paulo: Gráfica e Editora EDIGRAF Ltda.
Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto
Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006. pp. 310-311-136
HAASE FILHO, Pedro (org.) Lendas gaúchas. Porto
Alegre: RBS Publicações, 2007.
Franco, Sérgio da Costa, Guia Histórico de Porto
Alegre, UFRGS Editora, 2006, Pg. 137.
Spalding, Walter, Pequena História de Porto Alegre,
Ed. Sulina, 1967, Pg. 252 e 253
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ResponderExcluirAdorei a matéria! Sou apaixonada pelas histórias da Porto Alegre antiga!
ResponderExcluirBoa matéria, sempre e muito bom ver a história de nossa cidade com fotos e vídeos deixo aqui um vídeo que gosto muito de POA antiga...
ResponderExcluirhttps://youtu.be/-I2eVf6S19I
https://youtu.be/-I2eVf6S19I