Edifício Santa Cruz
Introdução
O Edifício
Santa Cruz é o edifício mais alto da cidade de Porto Alegre, com 34
pavimentos, sendo salas comerciais até o 24º andar e apartamentos do 25º ao 31º
andar. Possui também mais 2 níveis de subsolo com 14 metros de profundidade.
A obra foi construída entre as décadas de 1950 e 60
e está localizada no Centro da cidade, à Rua dos Andradas nº 1234, próximo à
Praça da Alfândega e à Rua General Câmara.
Possui 107 metros de altura e 50 mil m² de área
construída. Está assentado sobre 120 pilares de 0,8m x 0,8m, fincados 14 metros
abaixo do solo; o subsolo possui dois pisos (de geradores de energia e bombas
de água), e as estacas entram mais 4 metros para dentro do solo.
O projeto final é do Arquiteto e Urbanista Jayme Luna dos Santos. Foi o primeiro
edifício com estrutura metálica construído no Rio Grande do Sul.
O Edifício
Santa Cruz foi construído pela Construtora
Ernesto Woebcke, para ser a sede administrativa e agência matriz do Banco Agrícola Mercantil também
conhecido Agrimer, que depois
fundiu-se com o Unibanco que depois
virou Itaú.
A Cidade
A verticalização foi um processo iniciado em diversas
cidades latino-americanas na primeira metade do século
XX. Na origem do processo de verticalização se verifica a gradativa estrutura
urbana.
No caso de
Porto Alegre, um dos primeiros investimentos públicos na estrutura urbana foi o
“Plano Geral
de Melhoramentos” feito pelo
engenheiro João Moreira Maciel em 1914,
para a área central da cidade. Esse plano propôs grandes intervenções em um
centro consolidado na cidade.
As
influências do Plano de Paris de
Haussmann estão refletidas no Plano
de Maciel, segundo Célia Ferraz de
Souza:
- O Plano
Geral de Melhoramentos está muito próximo do tripé do urbanismo
Haussmaniano: - transportar, sanear e equipar, se ocupa fundamentalmente dos
dois primeiros itens, aliados da questão da estética da composição.
O processo de verticalização em Porto Alegre se
iniciou no centro da cidade, e gradativamente foi se expandindo aos bairros.
Esse processo pode ser dividido em fases, de acordo com o tipo de
verticalização de cada época.
A primeira fase da verticalização se
inicia em 1910, apresentando edifícios de um, dois e três
pavimentos.
A segunda fase corresponde o período
entre as décadas de 1920 e 1930, e relaciona-se com a abertura das
primeiras avenidas e com a construção de edifícios de cinco e seis pavimentos.
A terceira fase é na década de 1940.
Esse período foi marcado pelo surgimento de edifícios com 12, 15 e 17
pavimentos. Nesse período predominava o capital financeiro e imobiliário,
promovendo com isso a produção da habitação vertical na cidade.
A área central era o espaço preferido para este tipo
de empreendimento. Nessa época a habitação vertical se consolidou e iniciou-se
a substituição dos sobrados por apartamentos.
A quarta fase corresponde à década de
1950.
Foi quando Porto Alegre se consolidou como cidade verticalizada e viu serem
construídos seus maiores arranha-céus. Esses edifícios marcaram a renovação e
modernização do centro, consolidando ainda mais esse tipo de edificação e
destacando os edifícios comerciais e de escritórios.
A quinta fase, após 1960 marca
a desverticalização da cidade. Adotou-se mecanismos de controle de altura e
índices de solo, de modo que os limites de altura fossem relacionados com o
atendimento aos índices de aproveitamento, taxas de ocupação e recuos
obrigatórios.
Na década de 1950, houve
um decréscimo da verticalização em relação à década anterior, já que
desvantagens que a excessiva massificação do centro da cidade já estava evidente.
Isso encaminhou para a criação de uma nova Lei Municipal, nº 986, de 1952, que era
anunciada como um instrumento de regulamentação da verticalização, e passou a permitir
que as alturas máximas, que eram duas vezes a largura das vias, fossem ultrapassadas
por recuos progressivos, no centro, após atingirem altura correspondente ao limite.
Foi na década de 1950,
que foram construídos os maiores arranha-céus da cidade, e entre eles
destaca-se Edifício Santa Cruz, e, a
partir disso definiu-se o objeto de estudo para o presente artigo.
Histórico
Em
1955, a partir de iniciativa do Banco Agrícola Mercantil, foi realizado um concurso fechado de
anteprojetos para escolha do projeto a ser executado para sede do banco. Três escritórios
de arquitetura foram convidados a participar, sendo eles:
Um projeto do Uruguay, do arquiteto Vicente Marsiglia Filho,
E o projeto vencedor do arquiteto Carlos Alberto de Holanda Mendonça.
Em junho de 1956, o
projeto teve a primeira aprovação pela Prefeitura de Porto Alegre, e após um mês
o arquiteto Carlos Alberto de Holanda
Mendonça veio a falecer. O arquiteto Jayme
Luna dos Santos assume o andamento do projeto.
Luna
foi responsável por diversas mudanças no projeto, que constam em plantas datadas
de 1961 e algumas alterações datadas de 1965, data do final da construção.
Grande parte do material do projeto acabou se
perdendo. Nas plantas de 1961 consta uma observação que especifica que o
projeto é uma substituição a um processo de 1959, mas referente a esse nada foi
encontrado.
Localização
O Edifício
Santa Cruz está localizado no centro histórico da cidade de Porto Alegre, em
lote privilegiado com área aproximada de 2.300 m² localizado entre as Ruas dos Andradas
(Rua da Praia) e a Rua 7 de Setembro.
Estrutura
O Edifício
Santa Cruz é composto de dois blocos unificados. Ele está estruturado com aço
desde as fundações, com placas de base e grelhas de apoio assentadas sobre
sapatas de concreto armado, nas quais foram fixados os pilares de aço.
Na sua maioria, as vigas são constituídas por perfis
“I” laminados,
variando de 6” a
18”. Na montagem de campo, as vigas foram unidas por
processo de rebites aos pilares de seção “H”,
formados pela composição de chapas e perfis.
Foram empregadas ainda, porém em menor quantidade,
vigas de alma cheia e vigas caixão, também compostas de chapas e perfis “L” e “U”, nos vigamentos do segundo, vigésimo
quarto e trigésimo primeiro pavimentos.
As lajes misuladas foram moldadas “in loco”,
e a estabilidade vertical do edifício em ambos os sentidos foi alcançada
através de contraventamentos. Todos os elementos da estrutura em aço estão
protegidos contra incêndio por um sistema de recobrimento do tipo caixa.
“Os pilares e vigas receberam contorno por estribos de diâmetro
3/16”, que foram colocados antes da concretagem das lajes
para receber o pano de aniagem utilizado para evitar desperdício da argamassa.
Após essa etapa, foi colocado sobre os pilares e vigas
tela tipo “deployer” para otimizar a fixação à argamassa de cimento,
cal e vermiculita aplicada a seguir.
A montagem da estrutura foi executada em duas
etapas: a primeira foi iniciada em 4 de
abril de 1960, e terminou em 20 de
agosto de 1961, e a segunda, foi iniciada em 25 de fevereiro de 1962 e finalizada em 8 de março de 1963.
Projeto
O Edifício
Santa Cruz possui 34 pavimentos,
sendo dois pavimentos de subsolo, e apresenta 107 metros de altura.
Esse edifício compõe um conjunto de prédios
construídos em aço no Brasil na década de 1950, foi produzido e montado pela Cia. Siderúrgica Nacional.
No primeiro subsolo localizam-se a tesouraria e o
caixa-forte de um dos bancos, sanitários, transformador e os serviços gerais,
no segundo subsolo estão os reservatórios d’água e de óleo, as centrais
calorígera e frigorífera, os geradores e compressores do ar condicionado.
O pavimento térreo do edifício apresenta área
aproximada de 2.287,65 m², tendo 24,15 m de fachada voltada para a Rua das
Andradas e 27,85 m para a Rua Sete de Setembro.
Nesse pavimento encontra-se a área destinada ao uso
do Banco Agrícola Mercantil, com
acesso pela Rua das Andradas, e a área destinada ao expediente do Banco de Crédito Real, com acesso pela
Rua Sete de Setembro.
Apresenta ainda sete lojas com mezanino com pé
direito total de 6,00 m voltadas para a Rua das Andradas e para o interior do edifício,
área destinada a serviço, e acesso ao subsolo pela Rua 7 de Setembro.
Apresenta um elevador destinado a uso exclusivo do Banco
Mercantil, um elevador de serviço e um de carga, e dezesseis elevadores
sociais.
O segundo pavimento apresenta área aproximada de
2.012,90 m², tendo a mesma dimensão de fachadas. Nesse pavimento encontram-se
nove salas comerciais, e o restante da área é destinado ao Banco Agrícola Mercantil e ao Banco
de Crédito Real. Apresenta o mesmo número de elevadores do pavimento
térreo.
O terceiro ao sétimo pavimento apresenta a mesma
área do segundo pavimento e conta com dezenove salas comerciais e o restante da
área é destinado ao uso do Banco de Crédito
Real. Apresenta ainda o mesmo número de elevadores do pavimento térreo.
O oitavo pavimento apresenta dezenove salas
comerciais, restaurante e área destinada ao madeiramento para estrutura do
auditório. Esse pavimento apresenta um elevador social a menos em relação aos
demais pavimentos.
O nono pavimento apresente dezesseis salas comerciais,
e é o primeiro pavimento que apresenta recuo do alinhamento do terreno na face
voltada para a Rua das Andradas, criando um terraço sobre este espaço, área
destinada a Associação dos Funcionários
da Agrimer, auditório, e quatorze elevadores sociais, um de carga e um de
serviço.
O décimo pavimento apresenta dezessete salas comerciais,
bar, restaurante, recuo do alinhamento da fachada, com terraço na face para a
Rua 7 de Setembro, setor de apoio ao restaurante, rouparia central, maquinário
de elevadores, possui doze elevadores sociais, um de carga e um de serviço.
O décimo primeiro ao décimo sétimo pavimento
apresenta dezessete salas comerciais, quinze dormitórios destinados ao hotel,
possui mesmo número de elevadores do pavimento anterior.
O décimo oitavo ao vigésimo terceiro pavimento possui
dezoito salas comerciais, apresenta novo recuo nos alinhamentos das fachadas,
com terraço na face para a Rua dos Andradas, quinze dormitórios destinados ao
hotel, possuem nove elevadores sociais, um de carga e um de serviço.
O vigésimo quarto e vigésimo quinto pavimento possui
dezoito salas comerciais, área destinada a transformadores e quadro de
distribuição, casa de máquinas, tv e rádio, estar de funcionários, lavanderia,
tipografia, marcenaria, e demais ambientes destinados a uso de serviços e
apoio, possui nove elevadores sociais, um de carga e um de serviço.
O vigésimo sexto ao trigésimo primeiro pavimento
possui quatro apartamentos amplos por andar, sendo dois deles voltados para a
Rua das Andradas e os outros dois para a Rua 7 de Setembro. Os apartamentos
apresentam áreas amplas, sendo que três deles possuem três dormitórios, sala e
cozinha ampla, banheiro, vestíbulo, dependência de empregada e área de serviço.
O apartamento menor possui dois dormitórios, sala ampla, cozinha, vestíbulo e
área de serviço.
No vigésimo sexto pavimento encontra-se um amplo espaço
destinado à casa de máquinas dos elevadores, apresenta novo recuo em relação as
fachadas, e possui dois elevadores sociais e uma escada de acesso vertical.
O trigésimo segundo pavimento possui um amplo
terraço voltado para a Rua dos Andradas, espaço para casa de máquinas, bombas d’água
e torres de resfriamento, apartamento do zelador, e um terraço panorâmico
voltado para a Rua 7 de Setembro, conta com dois elevadores sociais e uma
escada.
O edifício apresenta fachadas escalonadas, devido à
imposição da legislação na época da sua construção.
Os acessos dão-se pelas duas ruas, onde se têm um
recuo que forma uma marquise nas duas faces, sendo que na face voltada para a
Rua dos Andradas apresenta pilares circulares em uma espécie de varanda, e na
face voltada para a Rua 7 de Setembro apresenta marquise em balanço.
As fachadas apresentam grandes planos envidraçados compostos
por caixilhos de alumínio, cristais importados “Saint Gobain” fumê, peitoris com chapas esmaltadas na cor turquesa,
e em certo trecho da fachada leste, na cor vermelha.
A parede externa do auditório se projeta em balanço
sobre a Rua 7 de Setembro e é revestida com mármore branco. Os demais elementos
das fachadas receberam tratamento com pastilhas brancas.
Nas fachadas observam-se os três recuos criados, que
apresentam terraços que são cobertos com marquises e pérgolas. A cobertura
possui o mesmo tratamento, porém apresenta um pé-direito elevado em relação aos
outros três terraços.
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Considerações
A partir da descrição do projeto do Edifício Santa Cruz, nota-se a complexidade
do projeto, o Edifício Santa Cruz é
até os dias de hoje o edifício mais alto da cidade de Porto Alegre. Ele é um
marco no processo de verticalização da cidade, além de ser um exemplar do uso
de novas tecnologias.
Sendo assim, ele é exceção na realidade da cidade,
tendo sua estrutura em aço rebitado. A sua forma do edifício que é escalonada
foi dada a partir de legislações vigentes na época, o que destaca sua
imponência.
O hotel projetado a partir do décimo primeiro ao vigésimo
terceiro pavimento foi extinto e ocupado por salas comerciais.
A obra construída deste importante edifício verticalizado
para a cidade de Porto Alegre é um documento vivo e merece ser documentado para
ser preservado. Neste edifício visualizamos uma época, onde é refletida a sua
materialidade e legislação vigente.
O presente artigo descreve aqui os usos para o qual
o edifício foi projetado na época, sem levar em consideração o uso atual e as
possíveis mudanças que foram realizadas ao longo do tempo.
Café
Rian –
O
mais popular de Porto Alegre
Inaugurado em setembro de 1964, na loja térrea do Edificio Santa Cruz, na Rua dos Andradas (Atual Banco Itau), em seu
interior reunia-se muitos jornalistas, imprensa esportiva principalmente,
vereadores, deputados, jogadores de futebol, corretores faziam do famoso Café
sua tribuna. Sem internet, as notícias on-line somente por lá.
Amigos que se encontravam para conversar e tomar um
cafezinho, no coração da Rua dos Andradas em Porto Alegre.
Inovador foi o primeiro em somar lanchonete,
bombonière e restaurante. Servia 8000 cafezinhos diário no inverno, a marca
nunca baixou dos 5000, mesmo no verão.
Em suas mesas, sempre lotadas, reinava a democracia
e igualdade, gente comum ou famosa o café era sempre igual para todos, a tradicional
torrada americana com suco de laranja eram demais.
Em dia 15 de fevereiro de 1976, um
sábado, o ponto do cafezinho na Rua Praia o Rian abriu suas portas pela última vez, para a tristeza de muitos
porto-alegrenses.
O seu fechamento causou tanta tristeza em seus frequentadores
que muitos prometeram jamais entrar na agência bancária que tomara o lugar do Café Rian. Porto Alegre, praticamente
não tinha os famosos “cafés” que
hoje, felizmente se espalham pela cidade.
Referências
BUENO, Marcos Flávio Teitelroit. Edifício Santa
Cruz: Retrato de uma mudança. In:
SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, 9º, Brasília, junho de
2011.
DIAS, Luís Andrade de Mattos. Edificações de aço no
Brasil. 3ª Edição. São Paulo:
Zigurate Editora, abril 2002. 200 páginas.
HERWING, Camella. Porto Alegre: Aspectos regionais.
Porto Alegre.
LUCCAS, Luis Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira
em Porto Alegre: sob o mito do “gênio artístico nacional”. Tese de doutorado,
UFRGS. Porto Alegre, 2004.
ROVATTI, João F. Estudos urbanos: Porto Alegre e seu
planejamento. 1ª Edição. Porto
Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 1993. 373 páginas.
SOUZA, Célia Ferraz de. Morfologia e tipologias
urbanas. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy
(org). O espetáculo da rua: Porto Alegre. Porto
Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, p. 11-42, 1992.
VIANNA, Patricia Pinto. O processo de verticalização
em Porto Alegre: e a contribuição da construtora Azevedo Moura & Gertum.
Dissertação de mestrado, UFRGS. Porto Alegre, 2004.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Q obra ousada tendo em vista q foi numa Porto Alegre de antigamente!..
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