Barão do Gravataí e
Baronesa do Gravataí
- Um casal que brilhou nos salões da sociedade
porto-alegrense na segunda metade do século XIX.
Eles receberam os títulos das mãos do próprio imperador D. Pedro II. E cada um fez por merecer
o presente do Imperador.
Nota:
Os títulos de nobreza não passavam de pai para filho, nem se
estendiam de marido para mulher. Eram títulos individuais, conquistados por
méritos pessoais dos homenageados, ou por especial simpatia do soberano.
João Batista da Silva
Pereira recebeu o título de “Barão do Gravataí” por um motivo especial,
que daqui a pouco você vai ficar sabendo.
O mesmo aconteceu com a sua esposa, Maria Emília Pereira, que um dia se tornou “Baronesa do Gravataí”, por seus
próprios méritos, e não por ser esposa de um barão.
João Batista da Silva
Pereira (Braga, 15 de janeiro de 1797 — Porto Alegre, 09 de agosto de 1853),
foi um industrial brasileiro.
Barão do Gravataí
Por volta de 1823, chegou
a Porto Alegre o português João Batista
da Silva Pereira, natural da cidade de Braga (Portugal), alto, claro, de
cabelos pretos, bem disposto, homem dotado de extraordinária energia e grande
tino comercial.
Chegou pobre, e logo começou a trabalhar. Naquele tempo, a
margem do Guaíba se estendia ao longo do Caminho do Belas (atual Avenida Praia
de Belas).
Foi ali, na altura onde hoje se encontra o Colégio Pão dos
Pobres, que montou um modesto estaleiro.
De início, fazia pequenos barcos para navegação fluvial.
Mais tarde, chegou a construir grandes embarcações, que atravessavam o
Atlântico levando os produtos rio-grandenses e trazendo especiarias das Índias.
Em abril de 1823, João Batista da Silva Pereira casou com
dona Maria Emília de Menezes, moça
de tradicional família açoriana radicada em Rio Pardo.
Em 1826, construiu o
palacete que viria a ser conhecido mais tarde como o solar da Baronesa do
Gravataí.
Ao fundo o grande Solar da Baronesa
Areal da Baronesa - 1860
Com o passar do tempo, João Batista da Silva Pereira foi
comprando grandes lotes de terra nos arredores de sua mansão, até formar uma
enorme chácara, com as dimensões de um verdadeiro bairro. Esta foi a origem do
Arraial da Baronesa (ou areal).
Apesar da riqueza e da posição social conquistadas, João Batista da Silva Pereira nunca se
mostrou um homem egoísta.
Durante a Revolução
Farroupilha, deu uma prova de sua generosidade quando o Barão de Caxias era presidente da Província,
emprestou uma grande soma de dinheiro ao governo, sem cobrar juros.
E dispensou os agradecimentos, pois considerava aquilo uma
retribuição à sua pátria adotiva.
Tão extensa se tornou a propriedade, que nem mesmo o dono
tinha pleno domínio sobre suas terras. Grande parte era coberta por pomares e
hortas cultivadas.
Mas havia um trecho que se mantinha em estado natural.
Ficava mais ou menos onde hoje se situa a Rua João Alfredo.
Naquele tempo, o Arroio
Dilúvio ainda não corria em linha reta em direção ao Guaíba. Na altura da Ponte
de Pedra, ele fazia uma curva e ia desembocar para os lados da Volta do
Gasômetro, passando por toda a extensão da Rua da Margem (por acompanhar o curso
natural da margem do arroio), que viria ser mais tarde a Rua João Alfredo.
Esse ponto de vasta propriedade de João Batista da Silva Pereira era dominado por um denso matagal.
Havia ali uma grande variedade de árvores nativas: - pitangueiras, goiabeiras,
laranjeiras, bananeiras e outras que davam frutos comestíveis o ano todo. Além
disso, naquelas terras podia-se também pescar e caçar pequenos animais. Enfim,
era um recanto com frutas, caça, pesca e água potável. Tinha de tudo para
garantir a alimentação de quem ali resolvesse morar.
Foi nesse verdadeiro refúgio natural que os escravos fugidos
acabaram encontrando um lugar ideal para se esconder. Ali eles podiam
sobreviver, longe do alcance dos capitães-de-mato (caçadores do escravos).
Mas além das frutas, caça, pesca e água potável, os escravos
ali escondidos precisavam de roupas e de outros bens. Começaram a assaltar as
pessoas que por ali passavam. Conhecendo cada palmo do terreno, eles costumavam
atacar de surpresa e logo sumiam no meio dos matagais.
O lugar passou a ser conhecido como “Emboscadas”.
Os escravos fugidos armavam tocaias, esperando as vítimas às
escondidas.
Na parte mais nobre das terras de João Batista da Silva Pereira, a vida continuava no esplendor dos
salões festivos, das reuniões políticas e dos encontros de negócios.
Em 1845, no final, quando
aqui estiveram o Imperador D. Pedro II
e a Imperatriz Dona Theresa Cristina,
na primeira visita oficial a cidade, foram regiamente recebidos por João Batista e dona Maria Emília.
Por insistência do casal, os soberanos hospedaram-se no
Solar da Baronesa. E foram tratados com tanta fidalguia, que o imperador
resolveu agraciar o dono da casa com um título de nobreza.
João Batista da Silva
Pereira era comendador da Imperial Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa.
Em 29 de dezembro de 1852,
João Batista da Silva Pereira foi agraciado
com o título definitivo de “Barão de Gravataí”.
Assim João Batista da
Silva Pereira recebeu o título de “Barão do Gravataí”.
Em 1852, João Batista da Silva Pereira foi
comandante superior da Guarda Nacional de Porto Alegre. Prestou relevantes
serviços na organização dos corpos auxiliares do exército por ocasião da guerra
com a República Oriental do Uruguai.
Em 29 de dezembro de 1852,
João Batista da Silva Pereira foi agraciado
com o título definitivo de “Barão de Gravataí”.
Assim João Batista da
Silva Pereira recebeu o título de “Barão do Gravataí”.
Em 1853, para espanto e
surpresa geral, João Batista da Silva
Pereira, 56 anos, morreu de repente, fulminado por uma inexplicável
hemorragia. Era um homem ainda cheio de vigor. Sempre gozara de ótima saúde.
Foi, de fato, uma morte que pegou todos de surpresa. Até
mesmo o Imperador.
Por ser um homem de profunda formação humanista, que sabia
cultivar a gratidão, D. Pedro II sentiu-se
no dever de levar um gesto de conforto a viúva Maria Emília de Menezes Pereira. E concedeu-lhe então o título de “Baronesa do
Gravataí”.
Maria Emília de Menezes
Pereira, viúva, com 44 anos, e sem experiência nos negócio, aos poucos foi
perdendo o controle sobre o enorme patrimônio acumulado pelo marido. Tão grande
era a riqueza por ele deixada, que ela nem sequer fazia idéia do quanto tinha.
Com o passar dos anos, o
dinheiro foi ficando cada vez mais escasso. Os negócios estavam paralisados
desde a morte do marido. E assim se passaram muitos anos, com despesas e mais
despesas, e sem entrada de novos recursos.
Apesar de continuar proprietária de uma enorme extensão de
terras, Dona Maria Emília já
começava a sentir as amarguras de uma velhice marcada pelas privações. Cheia de
dívidas, e sem ter mais a quem recorrer, ela passava os dias relembrando os
tempos de esplendor, quando os salões do Solar da Baronesa serviram de palco
para grandes encontros sociais, políticos e de negócios.
Pouco tempo depois, Dona Maria Emília sofreu ainda mais um duro
golpe, um incêndio repentino tomou conta do solar. Enormes labaredas clarearam
a noite do Arraial da Baronesa. E quando o sol tornou a surgir com o novo dia,
só encontrou ali os restos calcinados dos velhos tempos de esplendor.
Solar da Baronesa
Cidade Baixa
Em 1879, Dona Maria Emília Pereira, “Baronesa do
Gravataí”, aos 71 anos enviou à Câmara de Vereadores de Porto Alegre
um pedido de licença para transformar sua imensa propriedade num loteamento. Junto
ao pedido mandou um mapa detalhado, assinalando a divisão dos terrenos.
Foi a melhor forma que ela encontrou para vender seu valioso
patrimônio e garantir um fim de vida mais tranqüilo.
Atendendo a solicitação da Baronesa, a Câmara de Vereadores
atendeu a licença.
Um novo bairro ia nascendo com a demarcação dos lotes.
A parte da cidade baixa começou a ficar conhecida como Arraial da Baronesa (atual bairro
Cidade Baixa).
Os dois nomes, muito semelhantes, quase iguais se
perpetuaram na memória da cidade: Arraial
da Baronesa e Areal da Baronesa.
Em 17 de marco de 1888,
em Porto Alegre, morre dona Maria Emília
Pereira, “Baronesa
do Gravataí”, aos 80 anos, depois que suas terras foram
transformadas num bairro, levando na memória os dias de esplendor e decadência
do Solar da Baronesa.
Esse casal de nobres, depois de uma feliz vida em comum, continua até
hoje unido na geografia de Porto Alegre. As ruas com seus nomes se cruzam numa
esquina da Cidade Baixa: - Barão do Gravataí e Baronesa do Gravataí.
Muito instrutivo e de alto valor histórico para anossa cidade. Parabéns!!!
ResponderExcluiresse fascinante assunto poderia ate ser origem de filme ou um mesmo um livro, a historia real dos Baroes do Gravatai, pior que a maioria da populaçao sequer conhece essa historia tao rica e bela.
ResponderExcluirBelo resgate;
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
Namaste.
O Site do BIEV / UFRGS
ResponderExcluirpode contribuir com o seu trabalho.
Dá uma olhada.
Nasci na Baroneza do Gravatai em 1948.Ali passei minha infancia,adolescencia e com a construção da Av.Aureliano F. Pinto as casas foram desapropriadas, inclusive a minha em 1977.Guardo na lembrança os carnavais e as festas juninas que o meu pai ajudava a realizar juntamente com outros vizinhoa, as brincadeiras na rua,as cadeiras nas calçadas onde as familias sentavam a noite para conversar.Saudades de um lugar que ficou no passado!
ResponderExcluirLembro desse tempo em que relataste sobre as famílias que colocavam as cadeiras nas calçadas. Eu e meus primos nós divertíamos muito. Na Baronesa morava seu João e lembro da Laura Helena, Juza e a outra irmã. Em nossa rua na Barão do Gravataí tinha a Mercearia do seu Antônio e o Bar do seu Bagé.
ExcluirSou neta de Manoel de Oliveira Marques, conhecido como Maneca. Nasci em 1963, na Barão do Gravataí, 410( na própria casa, na época).
ExcluirRute você já ouviu falar no Luís o baixinho? A Doroti vó Jairo sou a Helga filha do baixinho passei minha infância ai,
ExcluirGostaria muito de lembrar. Apesar de seu nome não me ser estranho. Você morava em que rua? Eu morava na Barão do Gravataí, 410. Lembro de Dona Laíde, seu João e o Juza. Não sei se estou falando nome certo. Tinha Laura Helena e a irmã dela. Também na esquina seu Bagé. Sou irmã da Deti, prima do Marquinho e Neta do Maneca e vó Nita. Talvez ajude?? Obrigada pela atenção.
ExcluirMoro em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre. A cidade nasceu a partir da construção da estrada de ferro que ligava a Capital à Novo Hamburgo, e que cortou a fazenda Areião do Meio, de propriedade da Baronesa. Não sei as circunstâncias da transformação da fazenda em terras que viriam a ser o município, mas legal saber um pouco mais sobre a origem de Esteio e da ligação da Baronesa com a história de Porto Alegre. Parabéns e obrigado.
ResponderExcluirOlhem só que material lindo para um filme! Foi o que pensei logo que comecei a ler. Precisamos resgatar nossa história. É a nossa cultura, e é maravilhosa. Quanto ao comentário da Cléia, gostaria de dizer que também sinto muita nostalgia pelo modo de vida daquele tempo. Quando criança ficávamos ao redor dos mais velhos, correndo e suando, nas noites de verão, enquanto eles conversavam e de vez em quando nos "xingavam" dizendo: não vão se sujar, parem com essa correria!
ResponderExcluirA iluminação era perfeita para o clima de confraternização entre vizinhos e amigos. Claro que evoluímos muitos em tecnologia, sociedade. Mas tenho saudades mesmo assim.
Olhem só que material lindo para um filme! Foi o que pensei logo que comecei a ler. Precisamos resgatar nossa história. É a nossa cultura, e é maravilhosa. Quanto ao comentário da Cléia, gostaria de dizer que também sinto muita nostalgia pelo modo de vida daquele tempo. Quando criança ficávamos ao redor dos mais velhos, correndo e suando, nas noites de verão, enquanto eles conversavam e de vez em quando nos "xingavam" dizendo: não vão se sujar, parem com essa correria!
ResponderExcluirA iluminação era perfeita para o clima de confraternização entre vizinhos e amigos. Claro que evoluímos muitos em tecnologia, sociedade. Mas tenho saudades mesmo assim.
Muito bom, sempre é legal saber a história. Sempre me interessei pelo casal e por essa época de Porto Alegre.
ResponderExcluirexcelente
ResponderExcluirMuito bom !!!!
ResponderExcluirImportante contribuição para divulgar a história dos territórios negros de POA, que, infelizmente, a historiografia oficial soterrou nos porões da memória citadina. Faz-se necessário, há muito tempo, que se recupere a história dos afrodescendentes na capital gaúcha e sua contribuição numa sociedade marcada pela diversidade cultural, mas que insiste em reproduzir o modelo excludente, com seu legado racista, presente no binômio Casa-Grande e Senzala durante os 400 anos de regime escravocrata. Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite / pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Musecom
ResponderExcluirMuito interessante,realmente sempre quiz saber a história do Arial da Baronesa, por ser pesquisador e por naturalmente ser portoalegrense. Parabéns pelos detales e muito obrigado!
ResponderExcluirEles tiveram filhos?
ResponderExcluirPor onde andam os seus descendentes?
Sim, Celina e Oscar.
ExcluirCelina era minha bisavó e Oscar faleceu muito jovem num acidente doméstico.
ExcluirSim, Celina e Oscar.
Celina era minha bisavó e Oscar faleceu muito jovem num acidente doméstico
sempre tive curiosidade em saber a origem de Barão e Baroneza do Gravataí. Estou encantada pela excelente descrição feita. Obrigado!
ResponderExcluirQue história, temos que preservar ao menos as lembranças...
ResponderExcluirAdoro saber tudo sobre pessoas e locais de nossa Porto Alegre.
ResponderExcluirParabéns por escrita tão detalhada!!👏👏
Que orgulho, meus trisavós!
ResponderExcluirMuito legal parabéns
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